Foram
vários os poetas que fizeram a minha cabeça, ao longo dos anos: Bilac,
Camões, Augusto dos Anjos (um choque!), Vinícius, Drummond, Bandeira,
Cecília... Murilo Mendes foi uma descoberta relativamente recente, no
estilo "por que não li isso antes?". Com a portuguesa Sophia de Mello
Breyner Andersen foi parecido. E, claro, os franceses: Rimbaud, Verlaine
e, meu preferido: Baudelaire. Lembro-me da primeira vez que li "As
Flores do Mal", numa edição bilíngue. Não me recordo de quem era o
tradutor. Só sei que queria ler no original, mesmo. E, acredite, leitor,
quase trinta anos de francês e, até hoje, ainda me perco,
deliciosamente, naquele labirinto lexical.
Tanta
poesia me garantiu vários convites em escolas e mesas redondas. E,
quase sempre, ouço aquela clássica pergunta: "Mas o que você quis dizer
com isso?". Prezado leitor: bata na cara de um poeta, mas, jamais, diga
isso. Poesia não é feita para se entender, é feita para se sentir: e não
há nada de errado nisso. Errados somos nós que, criados em um mundo
utilitarista, torcemos o nariz para a poesia, pensando ela não ter
necessidade alguma. Tem sim: o homem tem necessidade do belo, daquilo
que faz bem para a alma. Aliás, um estudo da Universidade de Liverpool,
na Inglaterra, em 2013, comprovou cientificamente que ler poesia faz bem
para o cérebro. Para quem ainda acha que ela é inútil...
A
propósito, sempre que se fala em poesia, vem à mente aquela velha
pergunta: qual a diferença entre "poesia" e "poema"? Virou praxe dizer: o
segundo é o texto, a primeira é o que se retira dele. Eu, no entanto,
prefiro falar em "texto poético". A frase: "Come chocolates, pequena"
pode parecer banal, mas vira poesia quando Fernando Pessoa se traveste
de Alberto Caeiro. Não entendeu? Explico melhor: poesia é texto e fazer
poesia é apenas fazer texto brincando com as palavras, colocando
"imagens mentais" em quem está lendo. Posso dizer "está chovendo" como
posso dizer "o céu está chorando". É a mesma coisa, só que de duas
maneiras diferentes. Qual delas é poesia?
A
propósito, amigo leitor, quanto vale uma poesia? Um sorriso? Um abraço?
Um aperto de mão? O suspiro de alguém que se deixou emocionar? Eu,
particularmente, não faço ideia! Nunca ninguém havia feito uma pergunta
tão difícil para mim! A pessoa me pediu um orçamento, que eu, sem jeito,
ficaria de passar. Depois, nunca mais me ligou. Talvez por perceber a
minha surpresa. Ou talvez porque, ela mesma, percebeu que a verdadeira
poesia, simplesmente, não tem preço.
*Publicado também em www.anaximandroamorim.com.br
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