Pontos-Chave:
1)
A
PF terá que abandonar a construção de sua nova sede; no coração do RJ.
2)
Motivo?
Enquanto o projeto era desenvolvido e licenciado, e as primeiras providências para
a obra eram tomadas, foi construído e inaugurado um (importante) túnel embaixo
do terreno da PF!
3)
Tão
ou mais importante que saber-se “quem foi”
o responsável (como propõe o delegado da PF) seria mapear-se, claramente, como
foi possível ter isso ocorrido. E, ainda mais: Como vacinar o processo
decisório; o planejamento e gestão brasileiros para que não volte a acontecer
casos semelhantes; não é?
A discussão sobre planejamento e gestão no Brasil ganha mais um
“case” . Esse é um candidato a se tornar antológico:
A
notícia: “Túnel inviabiliza construção de nova sede da PF na Praça Mauá”.
O
motivo: “A iniciativa foi sepultada depois de engenheiros terem
descoberto que seria impossível fazer as fundações. É que, se escavassem
no local, cruzariam com outra obra, o Túnel Rio 450 Anos, que passa bem
embaixo”: “O primeiro da cidade construído abaixo do nível do mar,
inaugurado no dia 1º de março do ano passado, para desafogar o trânsito
entre o Centro e a Zona Portuária. A via tem 1.480 metros de extensão”.
O conteúdo da matéria é intrigante e quase autoexplicativo. Reorganizado torna-se ainda mais pedagógico:
“O prédio novo seria erguido no centro do terreno onde fica o atual”.
“A ideia de erguer dois prédios modernos no terreno surgiu em 2008”.
“Pelo cronograma da PF seriam erguidos dois edifícios de seis andares no local, que também ganharia uma praça e um jardim”.
“A nova sede deveria ter sido inaugurada em 2014, antes da Copa do Mundo”.
“O
projeto da nova sede foi aprovado pela prefeitura em 2009. Já a
construção do Túnel Rio 450 Anos recebeu sinal verde do município um ano
depois, em dezembro de 2010”.
“A Polícia Federal está autorizada a tocar a construção desde 2009... Agora, realmente, é inviável”.
“O dinheiro foi usado para elaborar o projeto e derrubar um prédio que ficava no terreno de cerca de 30 mil metros quadrados”.
“Como
o antigo edifício era tombado, a direção da PF pediu autorização ao
Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (Inepac) para a
intervenção.”... “Localizado na Avenida Rodrigues Alves 1, o prédio da
PF foi inaugurado pelo então presidente Getúlio Vargas, em 1940”.
“A
licença foi concedida(pelo Inepac), mas o órgão exigiu que a
instituição reformasse o teatro. Foram gastos cerca de R$ 400 mil na
restauração, dinheiro que saiu do governo federal”.
Ou
seja: O antigo prédio já foi demolido. E estava (está?) em curso
processo de licenciamento (público!), já com execução da compensação
prévia (reforma do teatro).
Inevitável,
assim, a conclusão do delegado federal ouvido pela reportagem: “Eu não
tenho a menor dúvida de que alguém cochilou. Agora é preciso saber quem
foi”!
Todavia, como o perigo já
passou (“felizmente”, os engenheiros descobriram, a tempo, “que seria
impossível fazer as fundações”), e a imprensa aparentemente se antecipou
aos órgãos de fiscalização e controle;agora, tão ou mais importante que
saber-se “quem foi” é nos debruçarmos, cientificamente, sobre esse
“case”.
... mormente por que
aconteceu no coração do Rio de Janeiro (Praça Mauá); “vizinho ao
(recém-inaugurado) Museu do Amanhã e ao Museu de Arte do Rio”;
envolvendo o órgão de maior evidência no Brasil hoje (a PF) e a mais
fluente articulação União-Estado-Município no passado recente; na
“região do Rio que mais recebeu investimentos público e privado” em
função do “Porto Maravilha” (cartão postal dessas administrações) e dos
preparativos para os Jogos Olímpicos/2016 – evento midiático global!
Algumas
perguntas são inevitáveis: Fora de tão iluminada vitrine, quanto casos,
qualitativamente congêneres, não devem estar acontecendo Brasil afora?
Quanto dinheiro temos desperdiçado (independentemente de corrupção)?
Quantos benefícios (para a população) estão sendo postergados?
Por
isso, tão ou mais importante que saber-se “quem foi”,seria
identificar-se como foi possível que esse “case” ocorresse. Quantos,
onde e quais foram os “cochilos”. E, ainda mais: Como vacinar o processo
decisório; o planejamento e gestão brasileiros para que não volte a
acontecer casos semelhantes; não é?
*Engenheiro
Eletricista e Economista, Pós-graduado em Engenharia, Administração de
Empresas, Direito da Concorrência e Mediação e Arbitragem.
Publicado também em Folha Diária.
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