Ricardo Coelho dos Santos*
O merecidamente cultuado ator francês Alain Delon disse, numa entrevista provavelmente do ano de 1974, que todo ator deve experimentar a pele do Zorro pelo menos uma vez. Ele mesmo o fez, num filme dirigido por Duccio Tessari que causou uma impressão simpática naquela época de produções cinematográficas fracas. O filme foi mais violento que as outras versões do Zorro conhecidas e não teve maiores atrativos senão o ator que praticamente carregou o filme nas costas, ajudado de longe por uma trilha musical eficiente.
O grande astro está certo. Zorro é um personagem cativante e quem o faz deve saber representar bem as várias facetas de um latino que luta a favor dos pobres e é rico e respeitado. É sedutor e se esconde atrás de uma pessoa fútil e despreocupada, ainda que charmosa e culta.
Há quem afirme que Zorro existiu. Não. Ele não existiu e, assim, não é uma lenda e seus feitos não são passados de boca em boca por povo algum. Sua criação deve-se ao prolífico escritor Johnston McCulley que o lançou em 1919 no livro “A Maldição do Capistrano”. No final do conto, Zorro se revelaria como o pacato Don Diego de La Vega, um fútil herdeiro de uma milionária estância. O próprio autor mudaria isso, fazendo que sua dupla identidade se tornasse desconhecida, o que se converteu na base de muitos roteiros cinematográficos e das sequências do livro que McCulley tratou de publicar, seguido por outros, após sua morte em 1958. Isabel Allende foi uma das romancistas modernas do nosso herói.
E, se Zorro não existiu, quem teria sido sua inspiração? Bom, como a ação se passa na Califórnia, que foi alvo de guerra entre México e Estados Unidos, até essa ser anexada aos segundos em 1848, seria de se pensar que Zorro viria de um desses países, e há até algumas referências a isso, envolvendo o nome de Joaquin Murrieta, que é até lembrado no filme de Martin Campbel.
O personagem lendário que mais provavelmente tenha dado a inspiração ao Zorro foi o inglês Richard “Dick” Turpin, cuja vida também foi romanceada por William Harrison Ainsworth no século XIX.
Turpin viveu na primeira metade do século XVIII cometendo roubos de animais de caça. A caça tinha sido proibida, o que causou dificuldades para a população que dependia dela para alimentação. Como açougueiro, ele estava a par dessa necessidade e, assim, participou de uma quadrilha dedicada ao que se considerou um crime grave contra o Duque de Newcastle. Com o final da quadrilha, passou a agir sozinho e viveu usando a identidade de John Palmer, e, como Dick Turpin, usava uma máscara e montava uma égua negra com o nome de Black Bess. A forma como ele a amarrava, de maneira que ela ficaria presa, mas ele a soltaria puxando o outro lado do arreio, rendeu-lhe uma homenagem. O nó é chamado ainda hoje de “volta do salteador”.
Turpin foi preso e julgado, condenado à forca em 1739 e hoje está enterrado em York, na Inglaterra.
Mas Zorro, como personagem, é imortal em nossas mentes. Seu último filme de qualidade data de 2005. E todos os românticos ainda esperam mais filmes dele ou, quem sabe, até um bom desenho animado. Vamos aguardar!
Enquanto isso, relembremo-nos os melhores filmes do nosso autêntico herói de capa e espada.
“A Marca do Zorro” de 1920, dirigido por Fred Niblo. Esse filme foi lançado um ano depois do mundo conhecer aquele que se imortalizou marcando um “Z” nos vilões. Foi um filme mudo, interpretado e produzido por Douglas Fairbanks – o pai – que também adaptou o roteiro sob pseudônimo. Foi o primeiro filme distribuído pela United Artists, contando também com o talento de Walt Whitman.
“A Marca do Zorro” de 1940, dirigido por Rouben Mamoulian, com Tyrone Power e Basil Rathbone. Esse filme foi inspiração para a criação de Batman.
“Zorro”, feito para a televisão, interpretado pelo icônico Armando Joseph Catalano, sob o pseudônimo de Guy Williams, que, depois, voltaria ao sucesso no papel principal de “Perdidos no Espaço”. Esse Zorro, de produção de Walt Disney, foi rodado entre 1957 e 1959 e contava com o talento inigualável do cantor Henry Calvin, no papel do Sargento Garcia. Contou também, em alguns episódios, com os notáveis Cesar Romero e Annette Funicello. Embora televisão não seja o assunto principal dessa coluna (talvez, um dia venha a ser), seria uma pena desprezar o melhor dos “Zorros” já apresentado.
“As Duas Faces do Zorro” de 1981, de Peter Medak, com George Hamilton e Brenda Vaccaro. Uma comédia divertida em que Hamilton faz o papel de duas versões de Zorro, uma delas, gay. Surpreendente!
“A Marca do Zorro” de Martin Campbell, de 1998. Aqui, dois atores também interpretam o Zorro, num roteiro muito bem feito para encaixar o personagem no contexto histórico californiano já citado. Atores impecáveis em papéis perfeitos trabalharam nessa película: Anthony Hopkins, Antonio Banderas e Catherine Zeta-Jones. O filme ainda teve uma continuação, “A Lenda do Zorro”, com Banderas e Zeta-Jones, num filme de 2005 com ainda Pedro Armendariz Junior.
Enquanto não vem outro Zorro, fico assistindo a um DVD de um herói mais moderno: “National Kid”.
Fontes de pesquisa: Wikipedia, IMDb
Profissões nada Invejáveis
Estimado Leitor,
Se você é um profissional dedicado, responsável e com a santa ambição de crescer em conhecimentos e habilidades, certamente já passou pela sua mente que seu trabalho não lhe convém mais. Você quer algo mais. Mais responsabilidade, maior poder de decisão para se fazer as coisas certas, de forma mais célere e econômica. Você quer fazer o mundo crescer com você. Isso é muito bom!
Mas o mundo não é rosado, e vêm as angústias! Você encontra concorrências no seu ambiente de trabalho, se depara com acontecimentos fortuitos que hão de depor contra seus anseios, mesmo que você não seja o culpado. Algumas vezes, os erros são seus, mesmos, mas pequenos, porém, serão sempre lembrados quando você quiser mostrar suas razões em novas ideias e projetos!
E, entre as angústias, vem a vontade de mudar de emprego e, quem sabe, até, de profissão! Isso piora, quando o trabalho dos seus sonhos inalcançáveis possui mais um atributo de atração: um salário que lhe permita trocar seu surrado Fiat 147 por um Dodge Journey e suas férias em Brejetuba por outra em Paris… Quem não se sente frustrado por isso?
Eis que aqui deixo a mensagem! Trabalhe, deixe as consequências serem um prêmio de reconhecimento e não o objeto da sua perseguição. Há profissões piores que as suas, que pobres jovens de ambos os sexos a usam para seu sustento, não porque não tiveram escolaridade, ou por falta de talentos mais valorizados, mas é por falta de melhores oportunidades, mesmo! O que se passa na cabeça desses valiosos profissionais que se submetem a um emprego, a maioria deles temporário, para ter o que comer ou, pelo menos, melhor ainda, ter o que estudar!
Vamos a uma pequena lista, que não é exaustiva nem definitiva! Mas é o que passou pela minha cabeça por hora.
- Mickey Mouse de Trenzinho da Alegria. O rapaz e a moça que se vestem de Mickey, Minie ou Picapau, andando naqueles caminhões coloridos tocando aquelas músicas de CDs de R$ 1,99, para crianças. O personagem tem que dançar o tempo todo para alegrar os baixinhos de cinco anos para baixo, fazendo a alegria deles. Tendo em conta que a fantasia que usam é de veludo ou material plástico, sem a menor preocupação sobre o conforto do seu usuário, e o trenzinho costuma perambular nas férias de Verão, podemos imaginar que o cidadão não deve ser muito amigo de saunas durante suas raras folgas!
- Balançador de Bandeira. O pobre do rapaz fica cerca de trezentos metros antes de qualquer obra na estrada na nobre missão de agitar uma bandeira vermelha, alertando os veículos sobre o perigo adiante. Ao contrário da profissão acima, em que se pode prever que a ambição imediata do profissional é um chuveiro (ou uma cervejinha gelada), nesse caso, não dá para se imaginar o que se passa na cabeça do balançador.
- Voluntário de Candidato a Cargo Eletivo. Bom, comecemos que, na realidade, ninguém é gratuitamente voluntário a esse trabalho. Se o cidadão não recebe uma ajuda para lanche, o que engorda seu rendimento familiar, trabalha de graça esperando um cargo comissionado. Recebendo, ele o usará como plataforma para ser também candidato, começando como vereador. Assim, muitos deputados federais já começaram como vereadores e, antes, foram voluntários para trabalhar para outros candidatos. Esse trabalho significa gritar histericamente quando o candidato aparece, balançar a bandeira à exaustão e, pior, dançando ao som do jingle da campanha, se tornando algo parecido como uma mistura dos dois cargos acima. Tem ainda que distribuir santinhos, escutar desaforos em quem não votaria naquele candidato sob hipótese alguma e, por fim, se submeter a ser preso no dia das eleições, fazendo uma boca de urna que ele jura ser somente da sua iniciativa, e nunca uma ordem vinda do partido.
- Dançarina de Sorteio. Apesar de eu ser um fã da Caixa Econômica Federal, como instituição bancária, ainda não entendi o porquê dos concursos de loteria serem administrados por ela. Um dia, alguém me explica isso! Mas, entendo ainda menos o porquê algumas moças ficam rebolando ao lado dos globos onde estão os números a serem sorteados. Essa mesma profissional é requisitada em sorteios de títulos de capitalização – uma espécie de loteria bancária, uma das crenças que os brasileiros têm de um dia serem contemplados, indo para os nossos folclores como saci, a mula sem cabeça e a aposentadoria integral – onde ficam rebolando os quadris sorrindo como se estivessem numa propaganda de dentifrício.
- Camareiro de Motel. Limpa o quarto para o próximo cliente, trocando os lençóis e passando um “pente fino” para não haver reclamações. Não entremos em detalhes!
Deve haver profissões piores que essas. Portanto, não reclame. Como eu já disse, trabalhe!
*Engenheiro, Escritor e Poeta.
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