Ricardo Coelho dos Santos
Na época da Guerra Fria, quando as duas maiores potências do mundo e suas aficionadas se ameaçavam de forma a gelar nosso sangue, surgiu a figura do futurologista: um profissional que previa o que iria acontecer adiante no tempo. Uma das predições felizmente realizadas foi que ninguém apertaria o botão vermelho, aquele que dispararia o primeiro míssil com uma bomba atômica sobre Washington ou Moscou, causando uma guerra sem precedentes que aniquilaria quase toda a população desse planeta entre as órbitas de Marte e Vênus, sobrevivendo poucas criaturas, entre elas, as baratas. Passamos por momentos muitos sérios naquela época.
Futurologista era uma ocupação procurada e respeitada, e não era para qualquer um. Talvez, o maior deles, nesses tempos modernos, foi Herman Kahn, que usava de argumentos científicos para ditar suas previsões. Logicamente, também surgiram charlatões e alguns visionários que chegavam até a acertar algumas das suas antecipações de fatos. Teve um que falava, todo o ano, que haveria um crime que abalaria o Brasil no eixo Rio – São Paulo. Acertava; isso ocorre praticamente todos os anos, sem precisar de vidente algum. Houve, também, alguns casos arrepiantes que devem ser respeitados, como as previsões sobre o naufrágio do Titanic, algumas com intrigante precisão.
Claro que, quando falamos de futurologia, vem logo um nome à nossa mente: Michel de Notre-Dame, conhecido pelo nome latinizado Nostradamus, que desde quando beijou a batina do padre Felice Peretti, imunda do seu trabalho de cuidar dos porcos do mosteiro, antevendo que ele seria um Papa, o que veio a confirmar mais tarde — foi o Papa Xisto V — suas antecipações são estudadas até hoje, mas só interpretados depois dos acontecidos, com um grande exercício de imaginação dos seus intérpretes para ligarem seus versos nas Centúrias aos desastres que deliciam proprietários de jornais.
Pessoalmente, desconheço a Teoria dos Jogos para ser um Herman Kahn, e muito menos tenho as visões de Nostradamus, mas, usando um pouco de lógica, qualquer um pode fazer previsões. Até mesmo eu, incapaz de ganhar na loteria ou mesmo de saber qual o momento certo de entrar na Reta da Penha sem pegar todos os sinais vermelhos.
Então, vamos às previsões para o Brasil e suas justificativas. Lamento dizer que todas elas são tristes. Sombrias mesmo!
- Seremos uma pátria de preconceituosos. E já está sendo. O país que era conhecido pela sua tolerância está ficando cada vez mais polarizado. Pessoas de direita contra os de esquerda e os dois lados não admitindo neutralidade ou quem vê algo de bom em um lado e outro. São torcidas de times de futebol se agredindo cada vez mais, transformando algo que deveria ser lúdico e festivo em motivos de batalhas campais com literalmente mortos e feridos. São ricos não aceitando programas sociais para a camada mais necessitada da sociedade e pobres que julgam que riqueza é sempre fruto de roubo e exploração. Como o Governo não se incomoda com o Estado, só se preocupa com os partidos políticos, a tendência é piorar!
- O autoritarismo crescerá. Na verdade, não temos uma verdadeira autoridade, aquele que é respeitado pelos seus verdadeiros méritos e que, assim, pode tomar decisões confiáveis. Mesmo havendo erro, sabe-se que a intenção é boa e que, no cômputo geral, a população ganha mais pela confiança do que o contrário. A verdadeira autoridade possui conhecimento, sabedoria e caráter. Porém, no Brasil se questiona até se caráter é uma virtude, e quer se impõe a sabedoria e o conhecimento por decreto. Nas empresas e no governo impera o “manda quem pode e obedece quem tem juízo”. Não se consulta advogados para se saber se está se tomando uma ação dentro dos trâmites legais, mas como se será defendido ao se tomar uma atitude não ética. Hoje, está assim. Mais tarde, como já ocorre em algumas cidades, a exigência da população pelas atitudes coerentes dos governantes será tratada com repressão. É a autoridade imposta, e não conquistada, ou seja, o autoritarismo.
- Haverá formação de um abismo de conhecimento. Uma vez que nossos líderes estão sendo acusados, com provas, de crimes de roubo e lesa-pátria, não há incentivo para os jovens alcançarem o mérito pelos esforços escolares. Porém, há os que se esforçam tão mais do que os outros que se inicia aqui uma separação social reforçado pela prática do bullying. Muitos desses jovens acabam estudando fora, uma vez que o desempenho universitário brasileiro é inferior aos dos demais países. Enquanto aqui as escolas não premiam os méritos dos alunos, adotando uma educação moderna que ainda não chegou na Suíça, pais brasileiros preferem se endividar e mandar os filhos para o exterior. Temos ainda talentos que conquistam bolsas internacionais. Então, teremos brasileiros com conhecimentos baseados em formação sólida e outros que se julgam doutores no assunto, formados em faculdades de fundo de quintal. Mas, o que é pior, muitos que simplesmente não terão formação alguma. Professores despreparados, alguns quase analfabetos, geram involuntariamente a cultura de que “o pouco saber é muito”. Poucas escolas têm coragem de dar ao aluno esforçado o prêmio que eles merecem e aos displicentes a mensagem de que eles precisam se aplicar mais.
Esse quadro é o de tendências de agora! Há jeito? Claro que há, mas a resposta deve ser urgente!
Fontes de pesquisa: Wikipedia; Foto da Ilustração Gracy Jr.