Erlon José Paschoal*
Uma verdadeira quadrilha com muitas ramificações assumiu de forma irresponsável o governo brasileiro e se empenha cotidianamente em destruir intempestivamente os avanços democráticos que pensávamos haviam sido assumidos por todos. O desmanche das instituições a que o mundo assiste perplexo em nosso país, com o judiciário, o executivo, o legislativo e a mídia hegemônica carcomidas e deterioradas internamente, assusta mesmo àqueles que acreditavam que a democracia era algo irreversível por aqui, que as conquistas sociais em um país tão desigual eram irreversíveis.
A coisa pública parece ter se tornado um grande manancial de despojos que todo tipo de pessoa da pior espécie quer se apropriar: de juízes infames a pastores bandidos; de empresários inescrupulosos a políticos corruptos oriundos de algum filme de terror de quinta categoria. É assombroso como muitos dos que usurparam a presidência e o governo se comportam: mais parecem gângsteres agindo com empáfia e sem qualquer pudor em mostrar suas intenções malignas e nocivas ao desenvolvimento igualitário do país. Valores como “igualdade social”, “desenvolvimento regional”, “justiça social” e “democracia para todos”, entre outros, parecem ter sido jogados na vala crivados de balas.
Os mais pessimistas percorrem aflitos os gabinetes cientes de que não há botes salva-vidas para todos. Entretanto, enquanto o barco não afundar totalmente não há motivo para pânico. Está tudo sob controle, como o governo hipocritamente não se cansa de repetir. O presidente e os ministros, por sua vez, não têm mais tempo para se ocupar de questiúnculas impertinentes e obsoletas, tais como, o desemprego gritante, a miséria indigna, a criminalidade acintosa, a corrupção desenfreada e a impunidade infame, pois eles todos precisam cuidar de si mesmos, de seus esquemas, seus conluios, suas maquinações, seus ardis e de suas falcatruas pessoais.
De qualquer maneira não se pode perder as esperanças, algo natural dos brasileiros, dizem. Apesar dos seqüestros, das trapaças, da cunhalhada, do jornalismo sórdido e mau caráter, dos roubos setoriais, da miséria insistente, da lama degradante, da vigarice, da corrupção ativa, passiva e muito pelo contrário, do desvio de verbas, dos juros exorbitantes, do desemprego aviltante, das falcatruas, da hipocrisia cínica, das prevaricações, da criminalidade hedionda, das falsificações, das máfias, dos esquemas, do descaso com os direitos do cidadão, das manipulações descaradas, do salário mínimo e do estado lamentável de nossos rios, este continua sendo o melhor país para se viver, como dizem todos os otimistas. Aqui, as autoridades fazem os acordos mais fraudulentos com a maior honradez e integridade. As barragens desabam esfareladamente sem que haja culpados. E a televisão não se cansa de afirmar: é fantástico!!
E os investimentos sociais, minha gente, a quantas andam? Os discursos vazios da sombra recatada e do lar completamente despreparada para o cargo que usurpou, somados aos excessos de privilégios e às prevaricações abusivas, deixam rastros mais devastadores que um maníaco do parque à solta. O país precisará talvez de décadas para recupera-se e reconstruir-se ética e moralmente.
Ainda bem que podemos escolher em que acreditar. Desse modo, não precisamos ficar dependentes de nossos famigerados líderes e governantes - muito menos dos meios de comunicação - e poderemos também inventar uma realidade mais próxima de nossos sonhos e de nossos desejos mais íntimos.
* Diretor de Teatro, Dramaturgo, Escritor e Tradutor de alemão. Gestor cultural com foco em planejamento estratégico, gestão de pessoal e de programas, e em Economia Criativa.