Por: Guilherme Henrique Pereira
A formação e o estoque de mestres e doutores em um país tem muito a revelar sobre o suporte de recursos humanos para a inovação, logo para o desenvolvimento sustentável. Para os países emergentes, como é o caso do Brasil, é fundamental na definição de seu potencial para alcançar os países maduros e que lideram a dinâmica do crescimento mundial. Por esta razão é de muito interesse para formulação de políticas de fomento a publicação do estudo demográfico sobre mestres e doutores, bem como sobre os programas de pós-graduação no Brasil. Um trabalho que apresenta um abrangente conteúdo de informações, desde a formação de pós-graduados stricto sensu, passando pelos empregados e sua distribuição no mercado de trabalho por atividade econômica.
O relatório da pesquisa elaborada pelo Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE) foi apresentado neste início de Julho de 2016. A nota de apresentação divulgada pelo CGEE já fornece indicações claras de que o Brasil evoluiu a uma taxa expressiva nos últimos 19 anos, embora ainda detenha colocação preocupante quando comparado com o resto do mundo. Certamente haverá muito debate entre os responsáveis pela política nacional implementando novos programas e ações com vistas a aceleração do Brasil nesse campo, especialmente porque a perda do ritmo nos últimos dois anos precisa ser imediatamente contida e revertida. É preciso mergulhar nos dados para o primeiro passo que é o da conscientização sobre nosso atraso, por isso Debates em Rede se propõe a voltar ao tema com artigos produzidos por seus já conhecidos articulistas ou outros interessados nesse tema.
Por hora, é possível conhecer um pouco mais sobre a pesquisa com a nota divulgada pelo CGEE que segue.
“ O número de programas de mestrado e doutorado no Brasil apresentou, de 1996 a 2014, um crescimento de 205% e 210%, respectivamente. A expansão de títulos concedidos dentro dessas categorias foi ainda superior, de 379% e 486%.
A publicação “Mestres e Doutores 2015: estudos da demografia da base técnico-científica brasileira” revela que, apesar do crescimento do número de títulos de doutorado concedidos no Brasil, o seu valor ainda é baixo quando comparado a outros países. Em 2013, por exemplo, a média brasileira foi de 7,6 doutores formados para cada grupo de 100 mil habitantes. Entre as nações da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), apenas México (4,2) e Chile (3,4) apresentaram desempenho inferior ao Brasil.
“O crescimento dessa mão de obra qualificada tem sido contínuo e consistente ao longo de quase duas décadas, o que reflete uma política de Estado bem sucedida. No entanto, ainda temos um caminho longo para trilhar. O estudo demonstra que há uma grande distância em relação aos países desenvolvidos, o que nos incentiva a manter e expandir os investimentos”, avalia a coordenadora do estudo, Sofia Daher.
A publicação também aponta que houve uma desconcentração geográfica da pós-graduação. Em 1996, a maior parte dos mestres e doutores se formou na região Sudeste. Apenas São Paulo e Rio de Janeiro foram responsáveis por 58,8% dos títulos de mestrado e 83,4% dos de doutorado daquele ano, respectivamente. Em 2014, esses Estados responderam, em conjunto, por 36,6% dos mestres e 49,5% dos doutores formados no País.
“Isso decorre da criação de novas universidades e campi que alcançam áreas que antes eram menos atendidas pelo sistema de pós-graduação”, afirma Daher. O número de títulos de mestrado concedidos na região Norte, por exemplo, passou de 135, em 1996, para 1884, em 2014, registrando um aumento de mais de 1200%. No doutorado, os títulos foram de 21 para 301.
A publicação traz pela primeira vez a dinâmica do emprego formal de mestres e doutores analisada em seis anos sucessivos. “Os dados apontam que, mesmo com o crescimento expressivo dos egressos da pós-graduação, eles foram absorvidos pelo mercado de trabalho formal. Vale destacar que parte dos mestres logo se engaja no doutorado, antes de partir para o emprego”, afirma a coordenadora do estudo, Sofia Daher.
O estudo demonstra que a taxa de emprego formal dos mestres e doutores manteve-se estável de 2009 a 2014, em cerca de 66% e 75%, respectivamente. Já o grau de formalidade do emprego da população em geral é em torno de 53%, de acordo com dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
A iniciativa revela, ainda, que houve um aumento da inserção de mestres e doutores em entidades empresariais de segmentos de alta tecnologia, passando de 18%, em 2010, para 24%, em 2014. “Isso reflete uma maturidade dessas empresas no reconhecimento da importância de ter em seus quadros mão de obra altamente qualificada capaz de contribuir para atividades inovativas em setores como fabricação de produtos farmoquímicos e farmacêuticos; de equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos; e aeronáutica”, ressalta.
A publicação integra um esforço do CGEE para avaliar a formação de recursos humanos em ciência, tecnologia e inovação no País e subsidiar a formulação de políticas públicas na área. Trata-se de uma atividade contínua do Centro, já em sua quarta edição (“Doutores 2010”, “Mestres 2012” e “Doutores brasileiros titulados no exterior”).
A iniciativa tem como objetivo gerar informações sobre a formação e o emprego de mestres e doutores no Brasil. O estudo apresenta um amplo conjunto de estatísticas relacionados à formação desses recursos humanos especializados a partir do cruzamento das bases de dados da RAIS/MTE, Coleta Capes e Plataforma Sucupira/Capes.”
Para ver o estudo na íntegra acesse o link: https://www.cgee.org.br/web/rhcti/mestres-e-doutores-2015
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