Por: Adolfo Breder
A rua me leva. A rua me traz. Quando digo que vou à rua, vou me encontrar com a cidade e suas diversidades. É ali que encontramos o que falta e o que sobra. O menino de rua acha ali seu abrigo. O teatro de rua, um palco sem o glamour das luzes e da ribalta, mas com a força das vozes que se manifestam mais contundentes, que os burocráticos aplausos.
Artistas de rua cantam seus repertórios consagrados e rejeitados. Fazem piruetas para defender o almoço ou o jantar de cada dia. Ela abriga emoções casuais, encontros fortuitos. Seu democrático chão dá susto aos saltos altos e acode autos assustados com assaltos.
Os poderosos de plantão estão fora das ruas. Estão dentro das salas. Conduzem movimentos que não condizem com o que passa nas mentes dos passantes.
A rua é crua. Não tem os condimentos refinados da hipocrisia. Cebola é cebola. E bola pra frente.
A gente até pode não dizer o que pensa, mas a rua diz... impiedosa e intensa.
Calada na ditadura e adestrada na benevolência dos portadores de candura, catadores indecentes de votos reincidentes, distraídos, traídos e impotentes, ela, a rua, não suporta mais tanta cara malemolente. No seu silêncio, ninguém manda no que a rua diz. Nem tente!
Foto: do autor: Uma parede na rua, do Rio de Janeiro.
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