Por: Anaximandro Amorim
E então, querido leitor, como andou o seu "espírito olímpico"? O meu andou pela sala de estar, quando a televisão estava ligada, ou pelas redes sociais, quando um ou outro amigo postava uma foto ou um meme. Se você pensou que eu iria escrever uma crônica com altos conhecimentos desportivos, prepare-se para se decepcionar. Não sei jogar nem peteca. Quanto mais conhecer aquela quantidade de esporte. Mas também não estou aqui para falar mal dos Jogos Olímpicos. Para mim, foi (quase) indiferente. E a vida continua na segunda-feira.
Eu confesso que fiquei feliz quando o Rio foi escolhido para sediar as Olimpíadas. Como, aliás, a maioria dos brasileiros. Os tempos eram outros, o país não estava bipolarizado e a gente queria por que queria. Seria uma forma de "passar na cara dos argentinos", de mostrar que "a gente também podia", a despeito do nosso eterno complexo de vira-lata. Muita gente que ficou contra, virou a casaca de lá para cá. Pudera: é típico de nós, brasileiros, ir da euforia à histeria, em pouco tempo.
Confesso, também, que achei que os jogos seriam um "fiasco", apesar de não ter torcido para isso. Não sou do tipo que deseja mal aos outros, mas, mais uma vez, mostramos ao mundo que temos arraigado em nós a "cultura do improviso". Tinha um professor que dizia que brasileiro é o povo que "inaugura sem terminar". Fora coisas como aquela água da piscina que ficou verde, um vexame internacional! Vira-latices à parte, se fosse no Japão, por exemplo, tudo estaria pronto, testado e aprovado meses antes. Aliás, a próxima é no Japão, não é?
Mas, certamente, o ingrediente mais polêmico fomos nós, o povo brasileiro. Mostramos o bonito e o feio. Demos um show de falta de educação vaiando outras delegações e desportistas. Confundimos Olimpíada com jogo de futebol. Da mesma forma, demos um exemplo de solidariedade e acolhimento aos outros povos, seja como voluntários, seja como meros espectadores. Esse lado bonito do nosso povo, aliás, impressiona os estrangeiros e merece ser exaltado. Lá, ninguém se força para entender a gente. Coisa de latino-americano, o povo mestiço, o povo do sangue quente. Esses somos nós.
Tenho uma amigo que diz que, quando o futebol vai bem, o país vai mal, e vice-versa. Acredito em parte. Acho que o povo precisa de momentos como esses. Todos precisamos de heróis, nem que sejam o Neymar ou a Martha. Aliás, desses Jogos Olímpicos, ficam alguma certezas: mulher também sabe jogar bola (e muito bem!); não existe apenas futebol como esporte neste país; não se faz medalhista olímpico da noite para o dia. Deu para notar que o Desporto merece investimento, coisa que, polêmicas à parte, ficou a cargo do Exército. E aí, Universidades? Vamos copiar o exemplo?
Amigo leitor, até que foi bom ter uma Olimpíada aqui! Vimos que podemos, apesar de tudo. Percebemos nossos defeitos, e que eles também têm defeitos: como o caso do técnico francês, que disse que o saltador ganhou por meio de "macumba", ou do americano, que forjou o próprio assalto. Somos todos humanos, em última análise, nem melhores, nem piores. Que fiquem as lições, para aprendermos com elas e melhorarmos enquanto nação. O Brasil continua mergulhado na corrupção e no desemprego. No dia seguinte, o encanto acaba e tudo volta ao "normal".
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