Por Anaximandro Amorim*
Meio da semana, próximo ao fim de expediente. Ambiente de banco. Tomando seu último café, um sério funcionário recebe, de um amigo também sério, mensagem de que a greve dos bancários teria chegado ao fim. Impressionado, encaminha o texto para o grupo do trabalho, sem ter lido tudo. Quinze minutos depois, recebe um telefonema de um colega, que pergunta, rindo aos soluços: "Você viu o que você mandou?"
Eu juro que não faço por mal, porém, é mais forte que eu. Devo ter o processador mais rápido, só pode! Dos muitos vexames que já passei em minha vida, lembro-me de um, ainda na tenra idade. A professora havia mudado o corte de cabelo. Ficou tão feio, mas, tão feio, que eu perguntei: "Tia, tá de peruca?". Adolescente e ainda aluno da Aliança Francesa, odiei uma exposição de quadros. Havia uma moça desconhecida ao meu lado, que ouviu tudo o que eu tinha para dizer. Era a artista plástica. Já adulto, alguns anos atrás, fui ao lançamento de um livro, impresso em formato de bolso. Sem pestanejar, perguntei ao autor: "Quanto custa o seu livrinho?"
Com o advento da tecnologia, minha quota de vexames aumentou consideravelmente. Tenho um problema sério, por exemplo, com corretores automáticos. Costumo digitar rápido e, quando já vi, o estrago foi feito. Uma vez, queria perguntar "Como vai seu pai". O celular, no entanto, mudou a palavra para "pau". Outra foi que eu estava na (rua da) Lama com os amigos. Ao invés de "Lama", saiu "cama". Isso quando você não digita o início do nome de uma pessoa e cai em outra. Dependendo do que se manda...
Mas, ora bolas, quem nunca passou por uma situação parecida? Que nunca digitou alguma coisa errada? Mandou coisa para quem não devia? Falou o que não podia? Fez, querendo, aquilo que não queria? Dá uma vontade arrebatadora de sumir do mapa. De que se abra um buraco no chão, para se enfiar a cara, ou, quiçá, o corpo todo. Dá vontade de nunca mais voltar para o lugar, encarar as pessoas. Dá vontade de ficar imperceptível por um bom tempo, se não invisível. Mas, afinal, quem nunca, não é?
Sim, querido leitor, o tal funcionário... era eu! Mais um vexame para a lista. Só me restou pedir desculpas, antes que quisessem o meu pescoço. A propósito, o texto era uma mensagem falsa, com um link que redirecionava para uma foto do Tiririca, chamando a vítima de "abestado". E foram muitos. Eu, o primeiro, digo, o segundo, pois o amigo que me enviou isso também não tinha visto. Fica a dica de conferir tudo, antes de virar motivo de chacota. Se bem que ainda prefiro isso a ter a cabeça a prêmio entre os colegas. Cruz credo!
*Advogado e escritor.
Notas da Redação: Foto baixada da rede social; Publicado também em www.anaximandroamorim.com.br