Por Anaximandro Amorim
Eu não gosto do Donald Trump. Mas eu sei que ele está pouco se lixando para mim. Afinal, sou um cucaracho, nasci no continente "errado". Sou aquilo que ele quer ver do outro lado do muro que ele pretende construir, dentre outras tantas bravatas. É um homem de topete, eu reconheço. E arrisco dizer que, apesar disso, e dos bilhões em conta, ele não vai conseguir botar em prática muitas das insanidades que ele prometeu. Se bem que eu não sei o que é pior: se são as ideias do cara... ou quem deu voto a elas.
"Parem o mundo que eu quero descer!" É o que penso quando eu vejo a insanidade tomando conta do poder. Se bem que isso não é novidade. A História está recheada de exemplos. Novidade é esse mar de vozes. Em épocas de redes sociais, cada opinião pessoal conta como uma munição a mais nas trincheiras de "trumpistas" e "antitrumpistas". E o mundo anda cada vez mais parecendo um grande "baile funk": "lado A", "lado B". Você escolhe. O choro é livre. A porrada, também.
Sabe, eu ia escrever sobre um certo "excesso de conservadorismo" que ando sentindo no mundo, hoje em dia. Trump talvez seja um bom exemplo disso, apesar de eu achar que ele e Bolsonaro só têm o branco do olho em comum. Os países são outros, as culturas, também. Mas eu vejo radicalismo do outro lado, do tipo, "a democracia sou eu". É muito maniqueísmo pro meu gosto e, em época de redes sociais, ganha quem tiver mais "like". Particularmente, acho que rede social é só para encontrar aquele amigo de infância que a gente não vê há muito tempo. Mas, enfim...
A cultura do "nós e eles" anda tão forte, ultimamente, que, na política, só dá candidato ganhando por cabeça, às vezes, até, por nariz. Mas o que mais me intriga é um fenômeno esquisito, o daqueles que se dizem "não políticos". Essa turma ganhou até nome: outsiders. Como pode? Pularam no sistema de para-quedas? Se eu ainda entendo de Direito, pelo menos, no Brasil, só dá para entrar na política tendo partido. Seria isso uma novidade? Ou uma roupagem nova para uma velha falácia?
Já disse várias vezes e digo outra vez: queria saber o que os meus leitores vão achar de tudo isso que escrevi daqui a uns cem anos. Eu não faço ideia. Não arrisco futurologia, porque, neste mundo em que eu vivo, "tudo o que é sólido se desmancha no ar". Só me resta transcrever a intolerância humana, agora, amplificada por todos os canais possíveis; e esperar o muro do Trump, para ficar do lado de cá da fronteira.
* Advogado e Escritor; **Publicado também em anaximandroamorim.com.br