Por Adolfo Breder
Nesta semana o Bino faria 100 anos. Não está mais entre nós. Sentimos sua falta, mas o que vemos à nossa volta contraria tudo o que ele ensinou a nós, seus 8 filhos. Honestidade, decência, solidariedade e alegria de viver foram pilares da sua proposta pedagógica de pai.
O melhor de tudo é que, depois de adulto, descobri que os defeitos que víamos nele, as divergências da adolescência, a aparente incoerência de algumas atitudes, apenas revelavam a sua humanidade. Não se colocava num pedestal. Conhecia seus limites, mas tinha como meta a atenção constante no ajuste do rumo. Tinha lá na frente um alvo, uma definição do que era ser uma pessoa do bem! É tão bom quando temos em quem espelhar, vivendo na nossa mesma dimensão! Isto torna tudo uma real possibilidade. Não uma ficção ou apenas uma utopia definitivamente inatingível e sem credibilidade. Ele deixou-nos um legado de esperança e de energia para lutar! Salve, Bino!!
O calendário dele parou de contar há 8 anos, mas o nosso a cada dia vai registrando mais patifaria. Os eleitos para nos conduzirem ao futuro apropriaram-se das canetas, das cadeiras, dos púlpitos e dos martelos e, num ilusionismo indisfarçado, tratando-nos como crianças distraídas, montam cenários descolados das nossas reais necessidades, para acumularem a rapina por eles planejada.
A história nacional contemporânea é vergonhosa. O modelo gerson ganhou espaço e a escola crítica tende a virar projeto inacabado: uma escola partida, destroçada, fragilizada e tecnicista, com a finalidade de servir aos interesses patrões, distanciados da maioria emudecida.
À nossa frente, no palco iluminado, desfilam ex-bufões engravatados a caminho das masmorras. Até o fim dos cliques e flashes, vão cabisbaixos. Não distingo em suas falas expressões de arrependimento. São dedos-duros profissionais, expondo a camarilha completa numa trama confusa, em que os atores alternam os papeis de bandidos a heróis e vice-versa, ao sabor dos ventos políticos. Logo recebem tornozeleiras eletrônicas, que castigam por algumas semanas suas pernas-pra-que-te-quero. Cardíacos, hipertensos, cancerosos, esses executivos voltam para suas pobres mansões, para viver em opulência suas condenações, seus degredos além-manchetes.
Anos atrás, visitando o Senado Federal, fiz careta ao ver Sarney passar. Um segurança, fazendo uma piadinha inconveniente disse “Só reclama quem não participa do esquema”. Fuzilei o maldito com meu olhar 73, mas até hoje penso na frase murmurada! E continuo a examinar a realidade que nos cerca, tentando compreender as palavras não ditas, as intenções ocultas e as intervenções escusas. Cuido de não compartilhar e apoiar quem atua para ampliar a desigualdade e preservar a hegemonia de poucos sobre as misérias crescentes da esmagadora maioria.
Nós temos os impostos mais altos do mundo. Um retorno social baixíssimo. Escolas de qualidade discutível e prestes a desestimular a crítica, objetivando formar autômatos. Vivemos sem poderes confiáveis e quereres abomináveis. Melhor mesmo Bino não ter visto este modelo desmoronado. Uma vergonha!
Foto: do autor: Grafite na Zona Portuária (RJ).
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