Por Ricardo Coelho dos Santos
Quando a criativa escritora J. K. Rowling lançou sua plêiade de personagens com a série do bruxo Harry Potter, estava iniciando todo um mundo literário e, mais tarde, cinematográfico, quebrando uma série de paradigmas. Podemos citar algumas das convenções, antes sagradas, que ela jogou em terra com direito a pá de cal.
Primeiramente que criança não lê! Ela corrigiu: criança, assim como adultos, ela não lê livros chatos. Rowling, longe de ser uma erudita, mostrou ao mundo um texto simples e atraente, com uma criatividade impressionante de situações e ações no mundo mágico.
Outra convenção: criança não lê livro grosso. Ora, antes mesmo de Harry Potter, já conhecia pequenos que devoravam “As Crônicas de Nárnia”, de C. S. Lewis. Harry Potter tem contos dez vezes maiores que a maioria daqueles vendidos com gosto de sacarina.
Houve crítica contra a violência da série. Temos de ver duas coisas: um – a literatura infantil inglesa é violenta; Peter Pan mata piratas e joga Capitão Gancho dentro de um crocodilo; Long John Silver é o único vilão sobrevivente em “A Ilha do Tesouro” e a violência psicológica de Charles Dickens é de arrepiar. Dois – a literatura infantil inglesa e alemã são as mais lidas do mundo, e nenhuma é cor-de-rosa.
Tamanho sucesso fez surgir outras críticas infundadas. Harry Potter é diabólico, influencia as crianças para a prática do mal, etc. Isso é típico de quem simplesmente não lê todo o conteúdo. Já li a Bíblia várias vezes, inteira, e não enxergo elementos do mal em Harry Potter, Hermione Granger e Ronald Weasley. Fanatismo infundado que, muitas vezes, afetam até obras religiosas ou de forte cunho moral.
Assim posto, pergunto: onde estaria a magia real desses livros? Não falo do seu mundo mágico, mas, sim, o que deu a eles tanto sucesso? Acredito, pessoalmente, em três coisas: uma é que o ambiente é uma escola de referência com professores que influenciam e inspiram os alunos. Isso está desaparecendo e essa obra resgatou sua importância. A outra é que os heroicos protagonistas são crianças com pensamentos típicos de crianças, atitudes de crianças e problemas de crianças. E isso leva ao terceiro ponto: essas crianças crescem e seus problemas evoluem. Creio que a magia está nisso! E o cinema soube captar isso com magistral perfeição.
Mas não estou aqui para falar dos filmes da série. Quem sabe, um dia? Mas vamos tratar do mais recente lançamento do seu mundo mágico, em “Animais Fantásticos e Onde Habitam” (“Fantastic Beasts and Where to Find Them”). Foi a adaptação de uma pequena enciclopédia sobre as criaturas do mundo bruxo, compilados pelo mago Newt Scamander. O livro, logicamente, foi escrito por J. K. Rowling, mas todo ele foi tratado como se fosse um material didático usado pelos alunos de Hogwarts. O filme fez uma adaptação genial: conta as aventuras de Scamander sobre suas pesquisas encima desses animais. Há cenas hilárias e outras nem tanto.
Não vamos nos aprofundar. O filme é recomendado para a família e é garantia de diversão. Mas pessoalmente não lhe daria uma nota tão alta como os filmes da série do menino bruxo.
O elenco é impecável. Começamos com Eddie Redmayne, ator e modelo inglês, premiado nas suas atuações shakespeariana e que já mostrou seu indiscutível talento em “Elizabeth: A Era de Ouro”, “Os Miseráveis”, “A Teoria de Tudo”, em que recebeu o Oscar de Melhor Ator, “O Destino de Júpiter” e “A Garota Dinamarquesa”, em que recebeu uma indicação para mais um Oscar de Melhor Ator.
Passamos para Colin Farrell, reconhecido ator irlandês, cujo trabalho pode ser contemplado em “Minority Report – A Nova Lei”, “Demolidor – O Homem sem Medo”, “Alexandre, o Grande”, “Miami Vice”, contracenando com Jamie Foxx, e na refilmagem de “O Vingador do Futuro”. Nos três últimos filmes citados, ele ocupou os papéis principais.
Outro ator conhecido é o veterano Jon Voight, com uma carreira tão extensa que sequer podemos citar os filmes principais sem alongar muito o texto. Mas podemos falar do clássico “Perdidos na Noite”, em que ele e Dustin Hoffman foram indicados ao Oscar, e “Amargo Regresso”, em que foi reconhecido com o Oscar de Melhor Ator.
Uma outra atriz conhecida é a inglesa Samantha Morton, que pode também ser vista em “Minority Report – A Nova Lei”, “Elizabeth: A Era de Ouro” e no interessante “John Carter – Entre Dois Mundos”.
Todos os atores até então citados se mostraram com bons desempenhos profissionais, mas com atuações apáticas, como se não estivessem à vontade nos seus papéis. Artistas excelentes em cenas que chegavam a dar sono! Mas houve quem salvasse e até surpreendesse no filme – um veterano, que citarei em outra oportunidade, nos ofereceu a melhor cena em poucos segundos.
Não podemos dizer que todos os atores não deram o máximo do seu desempenho. Os menos conhecidos salvaram o filme, a ponto de torna-lo interessante.
Comecemos com Dan Fogler. Esse comediante norte-americano pode ser visto em séries de TV e em dublagens originais de desenhos animados, o que não temos acesso nos cinemas. Trabalhou em “Horton e o Mundo dos Quem”, “Kung Fu Panda”, “Marte Precisa de Mães” e outras obras. Pouco conhecido pelos brasileiros, surpreendeu no papel do frustrado padeiro Jacob Kowalski. Depois, temos os papéis femininos principais, muito bons, defendidos pela inglesa Katherine Waterston e pela cantora norte-americana Alison Sudol. A primeira, irmã do ator James Waterston e filha do veterano Sam Waterston, pode ser vista no recente filme biográfico “Steve Jobs”. Deu brilho à tela. E mais brilho ainda foi a beleza de Sudol, que mostrou um talento que vai longe a partir desse seu primeiro filme.
O diretor é o inglês David Yates, que foi lançado ao sucesso a partir do quinto filme da série Harry Potter, permanecendo até o final, e, ainda, dirigiu o bom “A Lenda de Tarzan”. Mas, no nosso filme em questão, não mostrou a mesma empatia dos anteriores, deixando até escapar alguns erros de efeitos especiais, quando a mão de Scamander penetra na superfície de um dos seus animais, dando a rápida impressão de que a pele desse ficara invisível. Cena malfeita!
Insisto em afirmar que o filme é bom e divertido! Mas não tão mágico como os demais Harry Potter. Torço para que ele evolua nos próximos quatro da série, pois a intenção da obra foi válida e interessante.
Fonte: Wikipédia, Adoro Cinema