Por Túlio Bambino*
Uma coisa boa das TV´s espertas é a multiplicação de opções de cardápio na hora de mudar de canal. São muitas as opções para quem realmente decide parar de assistir os acepipes servidos por nossa TV majoritária. Todos começam tímidos com um canal a cabo, depois seguem para os novos canais de streaming YouTube, Vimeo e correlatos e depois seguem para o NetFlix e finalmente entram no mundo de Matrix, se instalam no sofá e passam a se alimentar por soro.
Assim como o Skype mostrou que o custo dos telefonemas para o Andaraí, São Paulo ou Belgrado possuem o mesmo custo, o modelo de Televisão com programação em horários e sequencias seriadas em longas temporadas, entremeadas pelos comerciais e faturamento em cima do tempo entre jornais e novelas, treme cada vez que a NetFlix lança temporadas completas de seus seriados aos borbotões.
Para você que já conhece o grande N, sugiro fortemente assistir as produções da casa. Primeiro porque agora eles estão incluindo o resto do mundo ao já bem estruturado universo de produções anglofônicas. Filmes e séries em espanhol, francês, português, dinamarquês e até mesmo catalão, aparecem sempre entre os 5% de espaço que lhes cabem.
Aliás, o Professor Catalão Merlí e a Professora dinamarquesa Rita são personagens muito interessantes de minisséries recentes lançadas na plataforma do NetFlix. Os seriados carregam seus nomes e são produções locais que trazem suas características para enriquecer o mundo que as cerca. Personagens fortes, bem construídos, com suas áreas cinzas conturbadas e muito bem exploradas nas tramas desenvolvidas nas suas fábulas contemporâneas.
Rita é uma Professora de uma pequena escola dinamarquesa. Possui problemas de mãe, de ensino de crianças e adolescentes e logicamente uma carga de drama pessoal de uma mulher de 40, fazem o drama deste seriado diferente ser cativante.
Merlí é um Professor de Filosofia Catalão, uma língua que para quem só a tinha como experiência auditiva no hino do Barcelona e olhe lá muito interessante. A impressão que dá é que você está quase entendendo o que eles falam, mas lendo as legendas você vai descobrindo com certeza de que não está nem perto de entender o que eles falam. O personagem Merlí é mais complicado de se gostar, ele joga no limite das regras e no limite da paciência de quem os cerca. As aulas de Filosofia dele seriam bastante concorridas no ICHF.
O legal dessas fábulas de outros lugares é poder ver quais são os problemas comuns aos nossos e como eles tentam resolver suas enrascadas. A inclusão daquilo que é diferente não é fácil em lugar nenhum, mas a atitude e a certeza de precisar resolver um problema completamente, são lições que deveríamos ter sempre ao nosso lado.
Complicado é ver que uma minissérie com três temporadas, aborda com muito mais relevância aquilo que vai pelo nosso tempo do que quase tudo que se mostrou na escolinha da Malhação que vai pelo ar desde 1995. Valeu Professor Pasqualete!
*É carioca, filho dos anos 60. Graduado em Física na Universidade Federal Fluminense e em Cinema pela Universidade Estácio de Sá. Lutou Judô e sabe tocar bateria.
tmbambino@hotmail.com