Quem é aposentado possui algumas atribuições que não estão previstas em nenhuma lei trabalhista escrita ou em alguma constituição declarada em qualquer país nesse planeta entre as órbitas de Vênus e Marte. Cito aqui, como exemplo, colocar lixo pra fora e atender telefonemas pedindo ajudas financeiras. Outra é ler cartas; particularmente, recebo correspondências de instituições muito importantes: bancos, companhias, de luz, telefônicas e administradoras de cartão de crédito. Todas exigem minha especial atenção!
Outra obrigação não prevista é a de levar neto ao cinema. Quando o filme é bom, é um prazer dividido a dois. Quando, entretanto, é um daqueles filmes arrancados de sucesso da TV, principalmente a de canal aberto, apresentados num horário que você não tem para onde correr, a não ser que goste de programa de fofocas entre celebridades — cem por cento atores de televisão — você diz a si mesmo: “Tudo pelo amor”! Bom, eu sei aproveitar bem os momentos e tiro uma honesta soneca, pois nem o barulho das explosões é pior do que o do telefone que toca a todo instante com propagandas, ofertas e pedidos de contribuições.
E lá fui eu com meu pequeno para assistir “Power Rangers”. Fomos à seção legendada, para exercitar seu inglês e sua leitura, além das poltronas da sala Premium do Kinoplex da Praia da Costa serem confortáveis suficientes para dormir. E eis a minha surpresa. O danado do filme é bom! Vale a pena assistir, levando a família.
O programa “Power Rangers”, que passava na Globo num horário bem adequado para jovens e crianças, foi inovador. Apresentava os repetitivos filmes e desenhos animados japoneses, com lutas intermináveis e vilões que se transformam em gigantes lançadores de raios que destroem cidades inteiras, num simpático grupo de jovens vivendo suas juventudes em escolas, encontros e namoros, logicamente com a presença dos colegas chatos e um vilão, no caso uma vilã, a Rita Repulsa, memoravelmente caricata. Tinha, ainda, um robô atrapalhado e sensível, um líder holográfico que lhes transmitia as missões e monstros mais caricatos ainda, de plástico aluminizado e cores brilhantes, não metendo medo nem numa criança de dois anos. Era um programa tão ridículo que acabou sendo uma atração.
O problema desse tipo de entretenimento é que os produtores, na ânsia do lucrativo sucesso, não sabem quando parar. As primeiras temporadas foram realmente interessantes, com pinceladas de Stan Lee e da Disney, sem ainda serem parceiros. Lembro-me uma vez ter escutado uma conversa entre colegas recomendando o programa. O problema é que repetir a mesma história várias vezes, com pequenas nuances entre um e outro conto, acaba entediando o espectador. Ainda, alguns atores e diretores não querem renovar o contrato causando mudança nos personagens e no ritmo da história, e também promove-se uma evolução na tentativa de manter ou aumentar o atrativo. Raras dessas mudanças são fortuitas. É até preferível encerrar um seriado do que esticá-lo demais! Chegaram a fazer dois longas-metragens sobre a série, e pararam nisso: a segunda tentativa foi um retumbante fracasso! Bom, a série persiste ainda nas TVs brasileiras, a cabo ou abertas, e há ainda alguns fãs que justificam sua continuidade.
E foi nesse pensamento que levei meu neto ao cinema. E eis a minha surpresa! Não dormi! Me diverti, e muito, ri, e até levei um tremendo susto numa das cenas que, logicamente, não vou contar!
A direção do filme foi quase perfeita. Com uma pequena, mas mínima, falha nos efeitos especiais, o resto foi uma obra irretocável de Dean Israelite, um jovem diretor e roteirista sul-africano que, com esse filme, deixou a sua marca. Como protagonistas, temos, no papel da Ranger Rosa, Naomi Scott, uma bela atriz e cantora inglesa, cria da Disney, que pode ser contemplada no interessante seriado Terra Nova, de Spielberg. Como o Ranger Vermelho, temos Dacre Montgomery, um simpático australiano que veremos em breve na segunda temporada de “Stranger Things”. O modelo fotográfico chinês Ludi Lin, que pode ser visto no seriado “Marco Polo”, é o Ranger Negro. A rapper americana de origem mexicana, Becky G, faz a Ranger Amarela e o americano RJ Cyler faz o Ranger Negro. Para completar, ainda temos a bela e talentosa Elizabeth Banks no papel de Rita Repulsa. Essa atriz atuou em vários sucessos como “Shaft” (de 2000), “O Homem Aranha” (de 2002), “O Homem Aranha 2” (de 2004) e “O Homem Aranha 3” (de 2007), “Prenda-me se For Capaz”, “Seabiscuit”, a série “Jogos Vorazes” e algumas séries de televisão, às vezes na dublagem de voz. E, finalmente, no papel de Zordon, o ator e roteirista americano Bryan Cranston, responsável pelo enorme sucesso da série “Breaking Bad”, no papel principal. Mas ele já tinha marcado sua presença em filmes como o hilário “As Amazonas da Lua”, “The Wonders – O Sonho não Acabou”, “O Resgate do Soldado Ryan”, “A Pequena Miss Sunshine”, “Batman: Ano Um”, “Larry Crowne — O Amor está de Volta”, “John Carter: Entre Dois Mundos”, “O Vingador do Futuro” (de 2012) e Godzilla (de 2014). Em 1998 ele fez uma apresentação especial num dos episódios do seriado “Power Rangers”.
Então, a direção foi impecável. O elenco, também! A trilha sonora é para nossa garotada não colocar defeito. Os efeitos especiais são convincentes. E o roteiro? Posso afirmar que John Gatins preparou um material palatável, convincente e, creiam ou não, inteligente.
Resultado: um filme que me deliciou. Creio que gostei mais que meu neto, que ainda não tem quinze anos e não entendeu a causa de tanta rebeldia entre os jovens e seus familiares! Bom… Nem eu mesmo entendo!
Fontes: Wikipedia e colunaclaquete.blogspot.com.br.
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