Por Erlon José Paschoal*
O país está descendo a ladeira a passos rápidos e o retrocesso imposto pelas quadrilhas de bandidos golpistas que usurparam os poderes é amplo, geral e irrestrito. E uma das áreas que mais sofre o ataque avassalador dos zumbis usurpadores sem qualquer visão de políticas públicas coletivas e de desenvolvimento sustentável, é a área cultural.
Nestas últimas décadas acompanhamos em todo o mundo uma série de discussões e de debates acerca da diversidade cultural e de seus desdobramentos políticos e sociais, que pressupõem um novo código de respeito aos direitos humanos e a abertura de perspectivas que apontem para a inserção de novas economias no cenário mundial, nos quais o produto cultural ganhou um enorme significado nas trocas globalizadas de mercadorias de alto valor agregado.
Ora, uma sociedade que ambiciona modernizar-se e evoluir não pode dar-se ao luxo de desconhecer a importância e a necessidade do incentivo à atividade cultural, em todos os seus níveis e setores.
Além de gerar avanço social, de estimular o espírito crítico, de fomentar a criatividade e disseminar o senso de justiça democrática, à medida em que assegura a todos o direito de acesso aos bens simbólicos produzidos pelo conjunto da sociedade, a atividade cultural gera riqueza e trabalho. A indústria do entretenimento está entre os cinco maiores agentes econômicos do mundo moderno, e a produção artística é, por sua vez, uma de suas megatendências que tem não só uma enorme importância econômica e social, mas é também o elemento diferenciador da imensa quantidade de etnias e povos existentes num planeta globalizado. É preciso então preparar-se para o futuro, adequar-se às exigências impostas pelo avanço tecnológico acelerado e pelo encurtamento cada vez maior das distâncias, e qualificar-se para atuar neste novo quadro, de maneira apropriada e competente.
Mesmo com o desmanche ético, econômico e social, e de todas as políticas públicas inclusivas e voltadas ao bem da coletividade em todas as esferas da vida pública, levado a cabo pelos bandidos golpistas em conluio com o jornalixo sórdido e mau caráter, é preciso continuar lutando para que mudanças culturais profundas e de caráter duradouro, a curto e a longo prazo, ocorram em nosso país. Sem dúvida, tais mudanças necessitam de tempo para se efetivarem. Mas de qualquer modo seria pertinente investirmos a nossa energia na elaboração e obviamente na execução de ações culturais que criem condições amplas e favoráveis para a produção e o consumo da arte; que valorizem a sua própria história; que fomentem a participação de todos os setores da sociedade e assegurem aos indivíduos o direito de se exprimirem. Cultura é um processo vivo que se faz em conjunto, e para o qual cada cidadão e cada grupo social contribui com suas ações e atitudes. Dessa confluência de propósitos é possível forjar então a própria evolução cultural.
Como sabemos, a palavra “cultura” tem habitualmente dois significados distintos, embora interligados e complementares. No sentido amplo, significa um conjunto de conhecimentos, experiências e saberes que uma geração lega à outra, graças aos quais os indivíduos exprimem suas relações com a realidade. No sentido estrito, trata-se de uma série de práticas e linguagens específicas - teatro, dança, circo, pintura, literatura, escultura, cinema etc. - criadas pelo ser humano para manifestar os seus sentimentos, suas esperanças, seus temores, seus anseios, suas premonições, suas utopias, suas inquietações, dando assim um significado mais amplo e mais profundo ao ato de viver.
O avanço cultural depende, enfim, de um planejamento criterioso, de uma execução responsável e de uma sólida confluência de interesses. Não basta apenas obter sucessos contábeis e de público, é preciso, sobretudo, almejar resultados humanos efetivos, pois a moeda corrente no futuro será o resultado da criatividade, do discernimento e das aptidões de cada povo e de cada comunidade. A cultura tem aí um papel preponderante na integração social e regional, no próprio Estado e no país.
Apesar do país estar galopando para trás temos de trabalhar almejando um futuro que todos possam desfrutar. E para que o futuro seja melhor, é preciso imaginá-lo agora. E lutar por ele!
* Gestor cultural, Diretor de Teatro, escritor e tradutor de alemão.