Por Anaximandro Amorim*
Quando Emmanuel Macron venceu as eleições francesas, eu pensei, na hora: “Chegamos lá!”. Não que eu fosse partidário do “En Marche”. Nem que eu tivesse qualquer pretensão em ser presidente da França (ou do Brasil, claro!). É que, ver um cara apenas um ano mais velho que eu se tornar presidente de uma grande potência do Globo me fez pensar em como ele é jovem para o cargo e, ao mesmo tempo, em como nossa geração está envelhecendo.
Dizem que o termo “Geração X” (ou “The ‘X’ Generation”, no original) foi cunhado pelo fotógrafo Robert Capa, da Agência Magnum, para um ensaio fotográfico sobre os jovens nascidos no pós-guerra. O nome não foi dado à toa: filhos de um mundo destruído, esses garotos seriam uma grande incógnita para a Humanidade (daí o “X” da questão). O período abarcaria bebês nascidos no início dos anos 1960 até o final dos anos 1970, havendo quem considere também os nascidos até o ano de 1982. Quem eram eles? O que eles queriam? O que eles se tornariam?
Ouso responder: “eles” sou eu. Nascido em dezembro de 1978, eu também faço parte da “Geração X”. Sou o bebê que nasceu sob o ritmo da Discothèque (confira “Le Freak”, do Chic, música que “bombava” nas paradas daquele ano); cujos pais se preocuparam com a grande enchente de 1979; que conheceu o “Balão Mágico” antes da Xuxa e que curtiu muito os Trapalhões; que brincava de carrinho em 1984, época das “Diretas Já”, esperando o nascimento do irmãozinho. Eu vi os primeiros computadores pessoais chegarem aos lares brasileiros; eu sei o que foi a hiperinflação. Eu vivi um mundo sem internet. E conseguia ser feliz nele.
Acho demais botar no mesmo balaio quase 20 anos de humanidade, mas, de fato, se houve uma coisa que nos uniu foi o medo da incerteza. Na minha geração, aqueles que já passaram dos 40 se casaram mais cedo; aqueles que estão chegando lá, estão se casando. Era, de fato, um mundo em que tínhamos medo do futuro. Havia um certo niilismo, tão bem expresso nas letras de “Legião Urbana” ou “The Cure”. Por isso lutamos tanto para ter uma segurança que, na prática, não existe. Descobrimos isso tarde. O que queremos? Ser felizes. Nem que isso custe aquele emprego estável ou até mesmo aquele casamento de tantos anos.
Somos “velhos” com cabeça de “jovens”. Estamos ficando “coroas” sem nos darmos conta, pois a passagem do tempo é assim, mesmo. De uma hora para outra, mais um fio branco na barba ou nos cabelos e os mais novos nos chamando de “senhor” ou “senhora”. Particularmente, eu acho isso muito estranho, pois ainda me acho jovem, também. Aí me espanto quando vejo a data de nascimento dos meus alunos. É quando percebo que tenho reminiscências, a despeito de, com quase 40 anos, parecer mais jovem que meus pais e ainda mais jovem que meus avós na mesma idade. Tudo isso em um mundo que cada vez mais teme envelhecer.
Estamos nos tornando o que nossos pais se tornaram, vinte anos atrás. As referências, agora, somos nós, o que significa: viramos todos adultos. Mas, apesar de tudo, sim, continuamos a geração da incógnita. Somos a transição do mundo analógico para o digital; do mundo dos “velhos”, de quem nos preparamos para tomar conta, para o dos jovens, de quem ainda não damos conta. Ver um cara de 39 anos se tornar o presidente da França simboliza muito. Significa que, agora, está conosco a obrigação em preparar o terreno para as próximas gerações.
*Advogado e Escritor.
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