Por Ricardo Coelho dos Santos
Constantemente vivemos eras de atores e atrizes famosos que costumam atrair multidões ao cinema – o que provoca, logicamente, uma supremacia de valores contratuais que faz, nós, pobres trabalhadores, lamentarmos por não viver nesse restrito mundo de muito dinheiro, glamour, fama, viagens, escândalos, fofocas e outras citações midiáticas.
Os atores passam e suas famas caem, sendo substituídos por outros. Os eternos fãs vão sempre lembrar que “no meu tempo, havia os filmes com fulano, e esse era bom…”. Vejam, estamos começando a ver a era Bruce Willis e Sylvester Stallone decrescer para contemplar a subida de Chris Pine e Michael Fassbender, e deixando de lado divas como Claudia Cardinalle e Sandra Dee, vendo a ascensão de Emma Watson e Abigail Breslin.
É sempre assim. É um ciclo. Uma onda, na verdade. E, ainda bem que é assim. É sempre prazeroso assistir a um jovem ator esbanjar seu talento a ponto de conquistar uma enxurrada de admiradores logo no primeiro filme. Confesso que foi dessa forma que passei a admirar, quando vi pela primeira vez, Chris Evans em “Celular – Um Grito de Socorro”, um filme de 2004, em que ele brilha junto com outros talentos como Kim Basinger e William H. Macy. Esse filme sensacional contou ainda com alguns nomes pouco reverenciados na época, como Jason Statham e Jessica Biel. Hoje, o vejo na pele do Capitão América – um papel perfeito, mas ele deve se preocupar para que não seja o único, pois tem talento de sobra para muitos outros personagens.
Porém, tristemente, corremos o risco para, daqui a poucos anos, ninguém mais se lembrar de quem foi Daniel Radcliffe ou Eddie Redmayne. Creio que é uma obrigação de todo crítico de cinema fazer recordar de astros do passado que, comparativamente ao volume de divulgação que temos hoje, foram tão ou mais famosos que os de agora. Na época, simplesmente citar que eles seriam esquecidos, seria algo inaceitável.
Vamos dizer só uns poucos nomes e mostrar quem eles eram para as gerações atuais.
Comecemos com Telly Savalas. Esse nova-iorquino descendente de gregos, cujo primeiro nome era Aristotelis, foi o vilão de atuação mais marcante na sua época, tendo atuado como Pôncio Pilatos em “A Maior História de Todos os Tempos”, como o terrível Sargento Dagineau na versão de 1966 de Beau Geste e como o soldado psicopata no ótimo “Os Doze Condenados”. Ainda, esteve na pele de um vilão no simpático “Sindicato do Crime”, de 1969, e também como vilão em “O Ouro de Mackena”, um filme que a gente não sabe se é um faroeste ou uma ficção científica. Ainda, deu o brilho no papel de Blofeld em “007 A Serviço Secreto de Sua Majestade”, um filme que, na minha opinião, foi o melhor da série, mas com o pior ator principal. Pelo menos, os demais astros e, principalmente, Telly Savalas, compensaram a falha.
Mas ele não fez somente papel de vilão. Foi herói em outros filmes como em “Círculo do Medo”, no papel de um policial e em “Uma Batalha no Inferno”, reproduzindo um episódio da Segunda Grande Guerra, em que nosso bom ator dá um brilho todo especial e, diria até, empolgante à trama.
Poucos souberam fazer um vilão como ele. Ele se destacava com uma calvície perturbadora, à qual acrescentava lábios grossos e um olhar assassino de gelar a plateia. Conheço gente da velha guarda que ainda teme encarar esse ator nas telas do cinema e da TV.
Entretanto, foi num papel de mocinho que ele mais se destacou e onde obteve maior fama. Ele foi Kojak, um detetive que, além do seu visual exótico, chupava placidamente um pirulito, fazendo assim uma das figuras mais icônicas da história da televisão. O seriado passou entre os anos de 1973 e 1978, inspirado num policial real. A sua fama foi imensa e, no Brasil, chegou a ser marcha de carnaval, cantada por Nelson Gonçalves.
Telly Savalas veio a falecer em 22 de janeiro de 1994, aos 72 anos, vítima de um câncer.
Passamos agora para Lee Van Cleef, outro vilão notável. Seu nome era Clarence Le Roy Van Cleef Jr. Seu primeiro filme foi o clássico “Matar ou Morrer”, no papel de… vilão. Depois disso, foi fazendo várias pontas em filmes, como os também clássicos “O Homem que Matou o Facínora” e “A Conquista do Oeste”, até ser descoberto por Sergio Leone, que revitalizou os bangue-bangues com caprichadas, embora aparentemente toscas, produções italianas com cenários espanhóis e atores americanos então pouco reconhecidos na sua terra natal. Começou com “Por Alguns Dólares a Mais”, estrelado por Clint Eastwood e com participações nobres como Gian Maria Volonté e Klaus Kinski, no que seria o segundo filme italiano de Eastwood. Depois, veio “Três Homens em Conflito”, também conhecido como “O Bom, o Mau e o Feio”, outro clássico do cinema mundial, em que Van Cleef faz o papel de Angel Eyes, um dos vilões mais cruéis da história do cinema. Sem risco de spooling, explico que o “Bom”, interpretado por Eastwood, era um vigarista que não hesitaria em matar alguém se fosse preciso. Imagine o “Mau” de Lee Van Cleef!
Porém, ele teve a oportunidade de fazer o papel do mocinho de caráter duvidoso “Sabata” em dois filmes, além do maravilhoso e visceral “Barqueiro” e “A Fúria dos Sete Homens”, uma continuação de “Sete Homens e um Destino”, versão americana de “Os Sete Samurais”, com Lee Van Cleef fazendo o papel de Chris Adams, papel antes interpretado por Yul Brynner. O sucesso de Sabata, pelo menos no Espírito Santo, foi grande. Quando o filme estreou no extinto Cine Don Marcos, colocaram uma faixa na Avenida Jerônimo Monteiro com os dizeres “Cuidado, Sabata vem aí!”. Os gaiatos da época perguntaram até se Sabata iria substituir o delegado Osiris ou o gerente do cinema Garibaldi Farnese, que também já foi delegado de Polícia.
Lee Van Cleef ainda fez um fraco seriado para a TV, “O Mestre”, em que ele faz papel de um ninja! Não fez sucesso algum, mas não apagou a fama de quem atuou em mais de trezentos filmes!
Ele veio a falecer em 16 de dezembro de 1989, vítima de um ataque cardíaco, aos 64 anos.
Depois de falar dos homens, citemos uma mulher. E que mulher! Se existe um padrão de beleza eterno de quem arranca admiração e suspiros, esse é de Raquel Welch – e ela ainda está viva!
Essa bela atriz, que foi inclusive modelo para uma imagem de Nossa Senhora, tem o nome real de Jo Raquel Tejada, e nasceu na Califórnia, descendente de bolivianos – sobrinha de Lídia Gueiler Tejada, ex-presidente do país de Evo Morales.
Seu primeiro filme de sucesso foi o açucarado “Carrossel de Emoções”, com Elvis Presley no papel principal. Mas seu destaque veio com “Viagem Fantástica”, uma ficção científica de enorme sucesso, em que ela fez o principal papel feminino. Depois, realizou o interessante e curioso “Mil Séculos Antes de Cristo”, também conhecido como “Um Milhão de Anos Antes de Cristo”, em que homens do paleolítico, neolítico e dinossauros têm uma convivência nada pacífica. A pouca roupa da atriz no cartaz do filme foi um chamativo maior que os monstros! Fez ainda “O preço de um Covarde” e “100 Rifles”, que, em 1969, mostra uma cena tórrida entre ela e o ator afrodescendente Jim Brown, escandalizando as mentalidades mais conservadoras da época. Esse filme contou ainda com Burt Reynolds e o então menino Lorenzo Lamas.
Seu melhor filme, na opinião desse modesto crítico, foi “Os Três Mosqueteiros” e sua continuação, “Os Quatro Mosqueteiros”, que foram o ápice de realização fílmica da obra de Alexandre Dumas. Nesse filme, ela brilhou com outras estrelas de uma constelação dourada: Oliver Reed, Richard Chamberlain, Michael York, Christopher Lee, Geraldine Chaplin, Jean-Pierre Cassel, Roy Kinnear, Faye Dunaway e Charlton Heston. Raquel Welch fez o papel de Constance, a amada de D’Artagnan.
Sua última aparição de sucesso foi em Legalmente Loura, numa ponta que causou uma agradável surpresa aos seus fãs. Esperamos mais surpresas desse tipo!