Viver é preciso, mas muito cuidado, uma mentira repetida muitas vezes confunde-se com verdade. O Governo e seus arautos divulgaram com grande euforia que a economia está saindo do buraco, só porque o IBGE encontrou em suas estimativas uma variação do PIB de 0,2%. Não precisa ser estatístico para compreender que estimar a produção total de um país é algo de extrema complexidade e que naturalmente não é uma medida precisa. Qualquer coisa entre 0,99% e (-) 0,99% é um número com pouco significado, pode ser apenas erro estatístico. Além disso, não se pode esquecer que há vários meses que o PIB vem caindo, portanto, a base de comparação é muito baixa. Nessa situação, é claro que logo teremos taxas acima de zero e até em escala significativa, mas, qualquer comemoração requer muita cautela. Na verdade o que vemos hoje é a ausência total de ação de política econômica com alguma possibilidade de ajudar a economia.
Em primeiro lugar o ambiente macro é o pior possível: os investimentos públicos, Estados e União, estão em queda livre. Os investidores privados andam muito desconfiados, veja abaixo como anda caindo a taxa de Formação Bruta de Capital (mede a variação dos investimentos; Fonte IBGE) desde que se começa a contestação ao Governo Dilma, acelerando a queda com Temer:
Outro indicador muito utilizado na formação do ânimo do mercado é a dívida do Setor Público. Lamentavelmente também se apresenta de forma muito negativa. Veja o crescimento da Dívida Bruta do Setor Público (% PIB):
Fonte: http://terracoeconomico.com.br/evolucao-da-divida-publica-brasileira-desde-1978-um-grafico-para-voce-refletir
Olhando pelo lado das finanças públicas a imagem é também desoladora. Veja a evolução dos resultados das contas públicas como percentagem do PIB:
O Déficit primário em 2017 deve saltar para R$ 150 bilhões ou cerca de 3% do PIB que somado aos desembolsos com juros elevará o resultado total para algo próximo a 10% do PIB.
No entanto, o Governo quer passar uma mensagem de que tudo vai muito bem. Realmente, esse Governo com mais de 90% de rejeição e precisando negociar apoios para fugir da cadeia não tem outra saída que não criar pós-verdades. Enganar a maioria da população brasileira que não dispõe das informações corretas não lhe dará votos na Câmara dos Deputados, pois lá os votos são comprados. Tentar a imagem positiva, é apenas a peneira sob a chuva dando a impressão de que há proteção, no caso, de que há legitimidade para tudo que estão votando. Eles sabem que não dispõem das mínimas condições de reverter o quadro de desaprovação da administração atual, o que pretendem é apenas manter o fórum privilegiado e, enquanto isso, fazer mais alguns negocinhos.
E os negocinhos são de dois tipos: primeiro, desavergonhadamente vender alguns favores e, segundo, implementar algumas políticas governamentais para beneficiar alguns segmentos. Para além do aspecto ético, esse segundo tipo é estarrecedor. Por que? Porque estamos diante de uma correlação de forças no comando da política culturalmente muitíssima atrasada. Basta olhar o discurso dos deputados que aparecem fazendo a defesa do governo. Agora podemos dizer que conhecemos o baixo clero da Câmara. Olha! ... eu disse atrasados e não bobos. Esses produtores de gado, soja, madeira ilegal e minérios, sabem muito bem o que querem. Inclusive que devem influenciar a população sobre suas “virtudes”, não é de brincadeira que se tornaram em 2017 um dos maiores anunciantes da televisão brasileira. Quem ainda não viu e ouviu: Agro a indústria riqueza do Brasil.
Atrasados porque têm visão apenas da geração a que pertencem. Estão de costas e ouvidos tampados para o debate mundial, onde todos, excluindo (até onde?) o truculento Trump, estão preocupados com as mudanças climáticas, com o desenvolvimento da inteligência artificial, com o capitalismo que virá por aí pós trabalhadores humanos, com a desigualdade que ameaça a segurança mundial, com a nanociência, etc. e esses caras estão ainda no tempo de roubar terras dos índios ou públicas para fazer pasto, roubar madeiras e minérios. Ou, ainda, perdoar as dívidas dos grandes devedores e ampliar as receitas dos bancos (negocinhos tipo 1), via manutenção dos juros altos e refinanciamentos.
O que é desesperador é a falta de perspectivas. Lembrando a crise da virada para os anos 1990, contrariamente, lá havia muitas esperanças. O debate era intenso em torno de candidaturas de grandes lideranças para todos os matizes programáticos: Ulisses Guimarães; Aureliano Chaves; Mário Covas; Lula; Collor de Melo e Brizola para citar os mais importantes. Lamentavelmente, lá a população deixou-se ser ludibriada pelo discurso de um oportunista sem história. Deu no que Deu. Já vivemos essa experiência e não podemos errar de novo. Todo cuidado é pouco. Qual critério utilizar para escolher os próximos dirigentes? votar em figuras criadas pela mídia, tipo Bolsonaro, Dória ou Joaquim Barbosa? Com base em que critério? Qual é o mais preconceituoso? O mais violento? O mais bonito na televisão? Não e Não....
Devemos pensar em candidatos com saber e experiência. Tem que ter história na vida nacional.
Tipo Collor, Temer ou Dilma já sabemos em que brejo os burros se atolarão.
* Economista, Professor.