Por: Guilherme Henrique Pereira
A observação,
mesmo que esporádica, do que é escrito ou falado nos nossos noticiários
deixa claro que seus editores não gostam de notícias positivas. É
notícia negativa que vende, máxima que alguém inventou, mas eu não
acredito nessa suposição de que brasileiro é tão deprimido. Um bom
exemplo é o tema das perspectivas para 2016. Economistas e editores não
ficaram satisfeitos com as previsões de desastres para este ano, feitas
há 30 dias, e já começaram a rever tudo para pior.
Recebi uma foto de um belo pé de jaboticaba carregado, o que me levou a postar, em minha página no facebook, em tom de brincadeira, o seguinte: “ A foto .... não é do meu pé de jaboticaba, mas poderia ser porque ele está bonito igual. Os economistas ingênuos acreditam em modelos matemáticos para fazerem projeções. Eu acredito no meu pé de jaboticaba, quando está assim, carregado em janeiro, teremos um ano melhor do que eles falam para os jornalistas mais ingênuos ainda, que acreditam e publicam. Ou será que publicam sem acreditar?“
Deixando a irreverência de lado, podemos relembrar o velho Keynes nos ensinando que o nosso sistema é incerto, uma incerteza que não é do tipo probabilística (que pode ser compreendida com modelos estatísticos), mas do tipo de que o futuro é absolutamente desconhecido. É nessa tradição da economia política que me formei e acredito. Mas, devo aceitar que hoje a maioria presente na academia e nos noticiários professam algo que chamam de ciências econômicas e usam a linguagem dos modelos matemáticos para fazer previsões. O problema que o resultado gerado pelo modelo dependeu dos valores supostos para as variáveis consideradas. Há muitos comportamentos e circunstâncias momentâneas que podem influenciar a realidade futura, porém, no presente, não podem ser quantificadas para comporem um modelo de projeção.
Vamos comentar algumas situações recentes que ilustram a afirmação acima. Na virada do ano efetiva-se a já tão comentada saída do ministro Joaquim Levy. Os economistas em atividade, sobretudo no mercado financeiro, fizeram de tudo para promoverem outro nome claramente compromissado com a mesma escola de pensamento daquele que saía. Não deu certo. A Presidenta bateu o martelo e nomeou Nelson Barbosa. Nome que eu apostava para substituir Guido Mantega, porque me parecia o preferido dela. Mas, envolta ao final de 2014 nas pressões do mercado financeiro entregou para o candidato deles o ministério mais importante. O resultado foi de aumento das taxas de juros, desemprego, queda no PIB, aumento das despesas financeiras do setor público ampliando o déficit.
O mercado financeiro, até semana passada, fez pressão para continuar aumentando as taxas de juros. Claro, os bancos hoje emprestam menos do montante que retorna de empréstimos anteriores. Ou seja, estocarão dinheiro por falta de tomadores. Logo, precisam ganhar mais no financiamento ao governo para manterem a lucratividade, sempre medida em bilhões e não aceitam reduzirem a escala de medida. Não deu certo, o governo começou a governar. Parece que ouviram o Delfim Neto: o presidencialismo só funciona quando se tem Presidente. No caso, a presença presidencial foi a troca do ministro de uma outra escola. Radicalmente enganados os poucos que pensam que houve uma troca de seis por meia dúzia. Um novo ministro com viés nacionalista vai segurar o aumento das taxas de juros com repercussões positivas no corte do déficit, no emprego e nos investimentos.
Em breve retornarão os congressistas do merecido descanso. Na pauta o processo de impeachment e, é bastante provável, que o Governo apresente, por proposta do Ministro da Fazenda, um conjunto de reformas que precisam ser implantadas para acelerar a retomada do crescimento. Ninguém tem mais dúvidas de que o processo de impedimento será rejeitado. Caberá ao congresso não ficar responsável pela recessão e trabalhar aprovando as medidas propostas. Enganam-se os que pensam que a Presidenta sairá desse processo sem condições de governar. Liderança muito abalada sim, mas, suficiente para barrar a sua saída e presidiro país até 2018.
No recém concluído Fórum Social, em Davos, uma avaliação que se tornou corrente entre empresários do mundo todo é a de que as condições de custos para investir no Brasil estavam excepcionais. Muitos elogiavam o tamanho do mercado e custo baixo em dólar, realidade absolutamente favorável para que expandissem ou iniciassem novos negócios no Brasil. Expectativa de que o investimento estrangeiro pode ser maior do que em 2015.
Tivemos um superávit expressivo em nossa balança comercial com o exterior. Os US$ 19,7 bilhões de saldo positivo é o maior desde 2011, quando foi de US$ 29,0 bilhões. Todavia, qualitativamente não foi tão bom porque resultou de queda nas importações e não de aumento das receitas com as exportações. Aliás, apesar do câmbio mais favorável para os exportadores, a queda nos preços das commodities não permitiu crescimento das receitas dos exportadores. Mas, a queda das importações, especialmente de bens de consumo, é positiva porque ao transferir a demanda para a indústria nacional, contribuirá para a expansão da indústria brasileira no futuro.
Os fatos, acima comentados, terão influencia positiva sobre o crescimento, mais do que admitida pelo noticiário que só gosta de notícia negativa. A menos que venha uma tempestade e derrube todas as minhas jabuticabas, o desempenho da economia brasileira em 2016 será melhor que os economistas ingênuos estão anunciando.
*Professor, Doutor em Ciências Econômicas.
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