Aqui no Brasil, há algumas manchas no mapa de concentração muito representativas de empresas de alta tecnologia, altos salário e valor agregado impulsionando o crescimento local. Podemos citar Campinas no estado de São Paulo que ostenta hoje um dos maiores Produto Interno Bruto (PIB), dentre os municípios brasileiros.
No ES pouco avançamos até o presente apesar de sua localização na região mais desenvolvida do Brasil. O Governo federal mantém vários institutos de tecnologia distribuídos para todos os Estados, excluindo o ES. Em vários estados encontramos institutos privados voltados para a consultoria e o desenvolvimento tecnológico, mas, o Espírito Santo (ES) não está entre esses. Centros de P,D& I de empresas privadas podem ser vistos com facilidade em vários estados, especialmente, São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Minas Gerais. Na cidade do Rio de Janeiro, pode-se dizer que há uma boa concentração de centros voltados para o desenvolvimento de tecnologias, componentes, processos aplicados à indústria de óleo e gás, mesmo o ES sendo o segundo produtor nacional, pouco temos por aqui, embora, se tenha notícia de um forte trabalho local para o desenvolvimento de produtos com a respectiva empresa fornecedora. A Fibria (quando era Aracruz Celulose a pesquisa era aqui) transferiu o seu centro de pesquisas para São Paulo. O ES chega a 2015 com poucos pontos de apoio a um ambiente local de inovação, capazes de abrirem um ciclo virtuoso de investimentos na atividade. É neste cenário que a AcerlorMIttal anuncia o seu centro de pesquisa e desenvolvimento.
Com um investimento de US$ 20 milhões em cinco anos (2015 – 2019), o novo centro de pesquisas da ArcelorMittal terá como objetivo atender às demandas das unidades de produtos planos e longos da América do Sul em três temas: desenvolvimento de produtos; desenvolvimento de processos e atendimento a clientes. O trabalho a ser realizado no Brasil será complementar aos centros de P, D& I já existentes no grupo. O foco serão as inovações para as indústrias automotivas, máquinas e equipamentos, de energia (oleodutos e gasodutos, estruturas offshore, torres eólicas), construção civil e eletrodomésticos.
O Grupo ArcelorMittaljá operava com 11 centros de P&D no mundo. Os principais estão localizados na França. Há uma Vice-Presidência exclusivamente voltada para a melhoria e inovação de seus produtos e processos, bem como em assistência técnica aos clientes, com uma Gerência baseada em Chicago responsável pela atividade do Grupo nas Américas. Um centro no Canadá e outro em Chicago. E a partir de 2015 também Vitória que será o décimo segundo centro do Grupo.
Iniciou suas atividades utilizando a estrutura civil e laboratorial já existentes na unidade de Tubarão, ES, até que o projeto final seja concluído. Está prevista ainda a aquisição de equipamentos e modelos de simulação, para complementar e adequar estrutura atual aos novos objetivos. A previsão é de um time de 30 pesquisadores, doutores e mestres, dos quais 18 já estão em plena atividade e, nos próximos meses serão selecionados mais 12 pesquisadores. Poderão vir também de centros de pesquisa da empresa na Europa ou América do Norte.
Para Charles de Abreu Martins (Phd), Gerente do Centro de Pesquisa,“A área de P&D visa apoiar os três pilares estratégicos do grupo ArcelorMittal: qualidade, sustentabilidade e segurança. Nesse sentido, o centro de pesquisas brasileiro tem por objetivo garantir competitividade e agregar ainda mais valor aos nossos produtos, agilizando a implantação no Brasil das inovações e soluções do grupo ArcelorMittal, desenvolvendo processos mais limpos e ampliando o atendimento e assistência técnica aos clientes. O Brasil e demais países da América do Sul são mercados importantes, com perspectivas de crescimento no longo prazo”.
Como exemplo de internalização mais rápida de inovação desenvolvida em outro centro do Grupo, já foi anunciado (2015) o investimento de aproximadamente US$ 15 milhões na aquisição de equipamentos e adequações da linha de produção de sua unidade ArcelorMittal Vega, localizada em São Francisco do Sul, em Santa Catarina, para iniciar a produção local do Usibor, aço de alta resistência com aplicação na indústria automotiva. Esse produto faz parte do conjunto de soluções inovadoras em aço, denominado S-in Motion, que permite às montadoras economizar até 20% do peso do veículo, além da reduzir cerca de 15%nas emissões de CO₂ durante a produção e vida útil do veículo.
O Usibor é utilizado principalmente na produção de peças estruturais críticas para a segurança como colunas A e B, elementos de reforço (para-choque frontal e traseiro, travessa do teto, longarinas) e túnel do assoalho. A ArcelorMittal prevê um aumento dos atuais 6% para 25% de utilização de aços de alta resistência entre eles o Usibor, nos veículos brasileiros até 2025, acompanhando a tendência da indústria automotiva global.
Em pleno funcionamento o Centro disporá de profissionais nas áreas de conhecimento de metalurgia, mecânica, materiais, química e também especialidades voltados para questões relacionadas ao meio ambiente. Em sua estratégia de absorção e difusão de conhecimentos o Centro deverá manter parcerias com universidades, prevendo-se o apoio de laboratórios e materiais para o desenvolvimento de dissertações e teses, bem como outros trabalhos de pesquisadores com trabalhos na área de interesse da siderurgia.
Para
os capixabas a expectativa é muito positiva e motivo de comemorar o
fato de Vitória ter sido escolhida para a localização desse novo centro.
Embora um centro de P, D& I leve muito tempo para amadurecer em
suas atividades, desde logo sua presença aqui com 30 novos postos de
trabalho altamente qualificados, instalações, interações com
instituições de ensino locais, já se constituirá em ponto de apoio
relevante para a atração de outros centros para Vitória e de trazer para
o Brasil parte dos quase US$ 300 milhões de desembolsos do grupo na
rubrica de P, D& I. Ademais se espera que em sua maturidade os
produtos inovadores ali desenhados possam ser implantados na região
diretamente pela empresa, ou quando não for de seu interesse de negócio,
que sejam transferidos para outras empresas localizadas em sua área de
influência, tornando realidade o sonho de um expressivo cluster produção
ao seu redor.
* Publicado também em Folha Diária
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