*Erlon José Paschoal
O Espírito Santo é um Estado pequeno com um enorme potencial de utilização criativa de seus recursos humanos, históricos e naturais. Sua vocação para a prestação de serviços e a inovação necessita apenas de políticas objetivas de capacitação, de organização de ações coordenadas e de levantamento de informações para fundamenta-las.
Em 2005, Vitória sediou o II Fórum de Cooperação Cultural Internacional com a participação de gestores, intelectuais especializados, adidos culturais e dirigentes de várias instituições brasileiras e internacionais. Na carta resultante do Fórum enfatizou-se que a diversidade cultural é o principal patrimônio cultural da humanidade; que existe uma analogia entre as questões ecológicas e culturais; que a cultura deve ser vista em termos de direitos culturais, economia e parte integrante dos direitos humanos; que na definição das políticas culturais deve prevalecer o equilíbrio entre o interesse público e o privado, e que a iniciativa autônoma dos cidadãos, individualmente ou reunidos em entidades sociais é a base da liberdade cultural.
Fundamentou-se ali a percepção de que a cultura é a base da construção e da preservação de nossa identidade e um instrumento para a superação da exclusão social, um pressuposto para o desenvolvimento socioeconômico, capaz de gerar trabalho, de redistribuir renda e de atrair divisas para o Estado.
O conceito de Economia Criativa e suas repercussões nas relações econômicas e sociais foram discutidos no Seminário Internacional de Economia Criativa, realizado em 2007 em parceria com o Sebrae, e reuniu gestores e assessores culturais, produtores, diretores, artistas e técnicos de todo o Estado e teve palestrantes de vários Estados brasileiros e de outros países. O resultado do evento foi disponibilizado no Caderno de Economia Criativa, com um amplo painel das potencialidades socioculturais de cada município capixaba.
Em 2013, 2014 E 2015 tiveram lugar em Vitória três edições do Fórum Internacional de Criatividade e Inovação, contando com a presença de profissionais de renome nacional e internacional, composto de palestras, work shops e painéis, e apresentando ideias, conceitos e informações que tem produzido resultados objetivos constatados por empresas e profissionais em todo o Brasil.
Vale lembrar que o conceito contemporâneo de cultura abrange a cidadania, a convivência democrática, a diversidade de expressões, as novas tecnologias e a ética. A criatividade, por sua vez, no seu sentido mais abrangente tem se tornado cada vez mais o insumo de atividades produtivas relevantes no mundo contemporâneo.
Transformar criatividade em inovação e em valor agregado é uma das principais características de nosso tempo e sabemos também que fazer deste processo algo significativo no desenvolvimento socioeconômico de nosso Estado necessita de incentivos através de políticas públicas e de investimentos do setor privado. Os frutos da criatividade neste viés econômico dependem, portanto, de capacitação e de preparo adequado das pessoas e grupos envolvidos, para que possam se inserir profissionalmente neste novo processo de desenvolvimento.
A ideia de desenvolvimento tal como a conhecemos tem pouco mais de meio século de existência; teve início no fim da Segunda Guerra Mundial, com os trabalhos de reconstrução da Europa. Ao longo do tempo, o conceito de desenvolvimento foi se tornando mais e mais complexo, como o próprio contexto, ou a noção que temos dele. No início, vingou a noção ingênua de que bastaria investir nas forças produtivas, nos agentes econômicos, pois o crescimento econômico resolveria tudo.
No mundo atual, a cultura e a criatividade passaram a desempenhar um papel fundamental na busca de novas formas de desenvolvimento e de geração de trabalho e renda. Não só atividades como o turismo que tem nas expressões culturais, no patrimônio arquitetônico e natural, a sua fonte maior de atração, mas setores como a produção de móveis e a moda, por exemplo, que têm na capacidade criativa e na inovação o seu maior valor agregado, buscam investir na capacitação de mão de obra especializada preparada para concorrer em um mercado competitivo, no qual as diferenças entre os produtos é pautada pelo trabalho de profissionais criativos e atentos às mudanças aceleradas de um mundo globalizado.
Economia e criatividade existem há muito na organização social e sempre estiveram presentes em nossa vida. O que muda hoje é o valor que atribuímos à criatividade e à inovação na vida privada e na nova ordem econômica mundial. A velocidade com que novos processos de produção e de consumo fluem e se socializam, num mundo que evolui com base nas tecnologias da comunicação e informação, acarreta profundas mudanças na organização da sociedade, da economia, das relações humanas e das expressões artísticas e culturais.
Um novo conceito surgiu, então, nas últimas décadas objetivando dar um destaque a um conjunto de atividades e à inovação em diversos setores produtivos: Economia Criativa. Na realidade, o conceito “economia criativa” pressupõe um novo olhar sobre atividades econômicas que já existem e estão se desenvolvendo, sobretudo, em função das novas tecnologias,e sobre serviços através dos quais a concorrência entre os países e as pessoas é feita em pé de igualdade.
Ele pressupõe a revalorização e inúmeras atividades econômicas. Trata-se, enfim, de um setor especifico da economia, tal como o têxtil, o automobilístico, o siderúrgico etc. O leque destas atividades é bastante amplo, indo da gastronomia ao design, da moda às produções artísticas, da publicidade à utilização de novas mídias, dos games à produção de softwares. Esta, aliás, parece ser a principal estratégia de desenvolvimento do século XXI, segundo a ONU. O audiovisual e o design são o maior motor desta nova economia.
A partir dessa base, a Economia Criativa, definida como um conjunto de atividades econômicas baseadas no conhecimento, que fazem uso intensivo do talento criativo, incorporando técnicas e/ou tecnologias e agregando valor ao capital intelectual e cultural, ganhou no Espírito Santo uma dimensão cultural e política destacada.
Hoje, já conhecemos melhor o potencial cultural de nosso Estado, fundamentado, sobretudo, na diversidade e nas várias identidades que o formaram. Sabemos, portanto, que a profissionalização e a qualificação desse setor da economia pode elevar e ampliar a sua capacidade produtiva.
A Economia Criativa está intimamente ligada à noção de mercado e de empreendedorismo, mas pressupõe um novo modelo de desenvolvimento econômico com uma distribuição de renda mais igualitária e novas formas de relação de trabalho.
Os potenciais do Espírito Santo nesta área são evidentes: uma economia sólida, embora apoiada, sobretudo, nas indústrias predatórias, uma vocação para a prestação de serviços e a inovação, e um rico patrimônio natural, arquitetônico e étnico-cultural.
Os novos tempos exigem rapidez, flexibilidade e uma enorme capacidade de adaptação às mudanças. Que estejamos todos preparados para desfrutar as possibilidades que o futuro nos oferece.
Gestor cultural, Diretor de Teatro, escritor e tradutor de alemão.
**Publicado também em Folha Diária
Não há comentários postados até o momento. Seja o primeiro!