Por: Alex Breder
- “Lo siento, señor, pero la cata de vinos se acaba de cerrar... ”¹ Como assim? Descendente de alemães e suíços que sou, uma coisa a que dou valor é pontualidade; essa história de atrasos com certeza não é comigo. Eu havia combinado com um táxi ida, volta e permanência em Canelones para degustação, almoço e (importantíssimo!) compras. Saímos da praça do Shopping Punta Carretas e seguimos pela Ruta 5, com direito ao meu terrível “portuñol” importunando o pobre motorista, que por educação dizia repetidamente: “tu pronunciación es bastante bueno! ”²
Expliquei ao guia da casa que havia vindo do Brasil especialmente para visitar algumas vinícolas uruguaias e que o Establecimiento Juanico me havia sido muito recomendado. Falei sobre minha vontade de avançar além da tannat no conhecimento das realizações de vinhos locais... E por aí vai... O grupo da degustação já se dirigia a seus carros e minha chance ia escorrendo pelos dedos...
De repente o guia conversa com alguém e volta dizendo, “Señor, vamos a hacer una excepción. ” ³ Era o que eu queria ouvir! Frases da minha infância tão brasileira como “quem não chora não mama” vieram à minha mente “suíça” e eu pensei “coisa boa a globalização! ”
Iniciamos com uma entrada de pastel de choclo aberto e uma salada simples, para acompanhar a degustação do espumante (CuvéeCastelar) e do branco (Familia Deicas Preludio Barrel Select White Wine). O Uruguai é famoso por seus tannat, cepa riquíssima em taninos (como o próprio nome sugere), que dependendo da realização pode produzir um vinho rascante demais, rústico ao extremo, nada agradável ao paladar, na minha opinião. Assim são alguns dos tannat populares que chegam ao Brasil e infelizmente ficam como representantes do vizinho pequeno em tamanho, mas rico em realização vitivinícola.
E aí veio a primeira surpresa para além dos tannats tradicionais: Botrytis Noble Cosecha Tardía. Vinho de sobremesa produzido com uvas colhidas tardiamente, o que faz com que sejam atacadas por um fungo chamado Botrytis cinerea. O efeito obtido, conhecido em português como “podridão nobre”, em condições de tempo seco, agrega ao vinho condições especialíssimas de doçura e sabor. Um corte de Sauvignon Gris, Sauvignon Blanc, Gros Manseng, Gewürztraminer e Petit Grain, o vinho tem nariz de mel, madeira nova e um discreto tom amendoado. A boca confirma o mel amadeirado, com toques de caramelo, passa branca e amêndoa.
A seguir, um belo filé à moda uruguaia (por sinal, cortes argentinos e uruguaios em geral são rememoráveis, não é?), com risoto ao tannat e batatas noisette para prosseguirmos com a degustação dos tintos (Don Pascual Roble Petit Verdot, Don Pascual Colección del Fundador Tannat, Familia Deicas 1er Cru d’Exception). Mas a grande surpresa viria em forma de um vinho excepcionalmente realizado.
Corte de Tannat, Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc, Merlot e Petit Verdot, com 12,5% de graduação alcoólica, o Familia Deicas Preludio Barrel Select Red Wine veio aportar um nariz de passas e ameixa com toque herbáceo e boca plena, envolvente com madeira presente, equilibrando e dando estrutura a esse grande vinho! Recomendo!
Após almoço e degustação, ainda fui presenteado com uma visita aos vinhedos e à cave de subsolo, e, de quebra, uma aula sobre rolhas, screw cap (tampa de rosca, que elimina a necessidade da rolha) e conservação em barris de carvalho!
Mal sabia eu que teria ainda a oportunidade e visitar uma outra vinícola com produção limitada e realização excepcional de uma cepa pouco comum no Uruguai...
Mas essa história fica para uma próxima coluna. Duvido que você vai querer perder!
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¹ Sinto muito, senhor, mas a degustação de vinhos já se encerrou...
² Sua pronúncia é muito boa!
³ Senhor, vamos abrir uma exceção.
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