No afã de não perder o programa, tínhamos realmente corrido à frente do relógio e nos adiantado bastante ao horário marcado para almoço, visita guiada e degustação.
- “A gente adianta as fotos então pela vinícola, porque depois dos vinhos, o foco pode sofrer... (risos)”
Bucolicamente localizada nas terras planas de Melilla, bem próximo de Montevideo, a Bouza Bodega Boutique oferece lindos ângulos para fotos, a começar pela casa principal no melhor estilo “misiones”, com arcos ladeando o prédio e uma simpática torre com sino. Bem perto, um pequeno bosque com benvindas sombras, naquele sol escaldante de janeiro.
Os caramanchões com videiras e seus frutos pendendo sobre as simpáticas mesinhas dispostas ao redor do restaurante permitem ao visitante “iniciar os trabalhos” antes da degustação principal, já imaginando, por meio do aroma maravilhoso da “parilla” tomando conta de todo o ambiente ao redor, a qualidade dos cortes uruguaios que comporão a mesa dali a instantes.
Próximo ao restaurante, a bodega dispõe também de uma curiosa exposição de veículos e motocicletas antigos que vale a pena conhecer. São veículos que eram usados no Uruguai a partir dos anos 30 e fazem parte da coleção da família. Há também um vagão ferroviário inglês de 1929, atualmente em processo de restauração, que pode ser visto no jardim da vinícola. Ou seja, um toque de história para dar um charme a mais.
Enfim chegou a hora de iniciarmos a degustação. Entramos no lindo ambiente com mescla de rústico e moderno do restaurante e fomos recebidos pelo branco com corte de Chardonnay e Alvariño, que nos trouxe bastante frescor com dulçor equilibrado. Depois um rosé com bouquet de cereja e groselha, com a suavidade dos 12,5% de álcool. Em seguida, um Tannat de 9 meses de barrica que não impressionou, muito fechado, requerendo decanter, que com certeza não lhe foi concedido.
Aí veio a grande surpresa: o Tempranillo B15 Parcela Única! Digo surpresa pela cepa, que não é a imagem que temos do Uruguai, com toda a fama que têm os Tannat de lá aqui no Brasil. Tempranillo é uma cepa desenvolvida à exaustão pela Espanha, com variações amplas de diferentes aportes em cortes ou até mesmo em varietais. Mas no Uruguai? Bem, o conceito de parcela única (todas as uvas utilizadas para o vinho vindo somente de uma parte controlada do terreno da vinícola) já prometia algo feito com muito cuidado e dedicação. Mas no nariz já sentimos a singularidade desse varietal: um surpreendente aroma floral. A boca de ameixa e malte, com um toque de menta lá no fundo, revelava uma noção do Tempranillo tradicional, mas com outra abordagem mais Novo Mundo. São 10 meses de carvalho americano, que realmente conseguiram realçar o que a cepa tem de melhor. Não é de se surpreender que o vinho levou 91 pontos de ninguém menos que Robert Parker.
O almoço veio a seguir e a maestria uruguaia no lidar com carnes se fez presente como já era de se esperar, mas o destaque da visita foi realmente o Tempranillo B15 Parcela Única, com a surpresa de podermos constatar que o Uruguai é muito mais do que Tannat e que a Bodega Bouza representa o país de forma impecável.
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