Por: Anaximandro Amorim
Ouvi demais que este ano que passou foi difícil. De fato, fiz um apanhado de tudo o que aconteceu, de janeiro a dezembro, e percebi que poderia encher uma crônica, só com isso. O mundo parece mais feio: crise político-econômica; dois atentados em Paris (Charlie e Bataclan); epidemia de dengue (e zika e chikungunya); tragédia em Mariana e no Rio Doce. Sempre notei que o mundo é feio. O que o faz parecer pior é que nunca soubemos tão rápido das dores que o afligem. Em eras de internet, elas parecem amplificadas, multiplicadas.
O ser humano, porém, da mesma forma que não possui limites para baixo, também não os possui para cima. Foi neste mesmo 2015 que assistimos à retomada das relações entre EUA e Cuba; que se conseguiu avançar na proteção atmosférica com a COP 21; que se está, praticamente, encontrando a cura para o câncer, com a fosfoetanolamida (e também para o alzheimer, com tecnologia ultrassom não-invasiva). Vendo coisas assim, eu me pergunto: será mesmo que o mundo continua assim tão feio? Ou será que somos nós que só enxergamos a feiúra do mundo?
Certa feita, escrevi em uma crônica que a vida era como um trem, que deixa gente na estação para pegar mais, enquanto alguns continuam viagem. Pessoas vão nascer e morrer; governos vão subir e cair; tragédias vão acontecer e, como os super-heróis só existem nos filmes ou nos quadrinhos, cabe a nós tirar força não se sabe de onde para nos salvar. Em princípio, estamos sós no universo. Não contamos com mais ninguém a não ser nós mesmos (e em Deus, para nós que acreditamos). Sim, passou da hora de o homem parar de enxergar só o que é feio neste mundo e, finalmente, dar uma chance para a paz.
Este é meu primeiro texto de 2016, um ano que nos oferece 365 dias para recomeçar mais um de bônus. Neste meu ofício de cronista, cansei de me espantar com as tolices da humanidade, mas, mesmo assim, ainda não me desacreditei da espécie. Perdoe-me, amigo leitor, se pareço ingênuo, mas, enquanto escrevo estas linhas, me sinto tomado de uma esperança de querer muito fazer a minha parte (você pretende fazer a sua?). Por isso inventamos os calendários, para nos dar sempre um recomeço. Por isso é que, ao contrário desse conhecido meu, eu acredito em anos novos.
*Publicado também em www.anaximandroamorim.com.br.
** Advogado, professor, escritor e membro da Academia Espirito – Santense de Letras.
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