Grupo Conjuntura Econômica UFES
O Brasil vem enfrentando grandes dificuldades para a retomada de seu crescimento, diante de cenário de crise interna, política e econômica, paralelamente à redução do ritmo de crescimento da economia mundial. Se em 2014 o PIB brasileiro ficou praticamente estagnado, o ano de 2015 foi marcado pela contração de 3,8%, a maior da série histórica iniciada em 1996. Além disso, a inflação voltou a incomodar, fechando o ano de 2015 em 10,67%, segundo o IPCA.
O maior agregado macroeconômico brasileiro totalizou, em 2015, R$ 5,9 trilhões, em valores correntes. No linguajar econômico, a situação de crescimento negativo do PIB e elevada inflação costuma ser denominada de estagflação. A economia brasileira chega ao quinto trimestre consecutivo sem crescimento, quando comparado com igual período imediatamente anterior.
Analisando a produção brasileira pela ótica da oferta, o setor Agropecuário foi o único a apresentar expansão, 1,8% no acumulado de 2015 em relação ao ano anterior, resultado influenciado pelo crescimento observado na produção de algumas culturas, como a soja (11,9%) e o milho (7,3%). Segundo o Levantamento Sistemático da Produção Agrícola (LSPA/IBGE), o último trimestre de 2015 registrou ligeira expansão (2,9%) em relação ao trimestre imediatamente anterior, o que contribuiu para o resultado positivo no acumulado do ano.
Já a Indústria, apresentou queda de 6,2% em 2015, tendo como principal impacto negativo a Indústria de transformação, a qual apresentou queda de 9,7% ao longo do exercício. Único destaque positivo dentro da atividade industrial, a Extrativa mineral acumulou crescimento de 4,9% no ano. Vale destacar que a Indústria vem perdendo espaço relativo no PIB desde 2006, visto que, em 2005, o setor tinha uma participação de 28,6% nesse agregado e, atualmente, representa apenas 22,7% do total produzido no país. Se tomado apenas o subgrupo de Indústria de transformação, a participação relativa no PIB cai para algo em torno de 10% do total produzido no país. Considerando janeiro de 2016 em comparação com mesmo mês do ano anterior, o setor industrial apresentou retração de 13,8%. Os piores resultados foram o segmento de veículos automotores, reboques e carrocerias, que recuou 31,3%, e máquinas e equipamentos, 25,5%. Porém, comparando a produção industrial de janeiro de 2016 com dezembro de 2015, depara-se com uma pequena variação positiva, 0,4%, mas de importante significado, afinal, tal resultado interrompeu uma série de sete meses consecutivos de queda.
O setor de Serviços também apresentou queda em 2015, 2,7% em relação a 2014. Dentre as atividades que compõem os Serviços, o Comércio sofreu a maior retração, 8,9%. Dentre as causas apontadas estão a elevação da inflação, a escassez de crédito e o aumento do desemprego, reduzindo o poder de compra das famílias e o consumo agregado. No entanto, diferentemente do setor Industrial, o Setor de Serviços vem ganhando participação relativa no PIB, representando, atualmente, 72% nesse agregado macroeconômico.
Pela ótica do dispêndio, na qual são contabilizados os gastos de consumo das famílias, da administração pública, de investimentos (a chamada Formação Bruta de Capital Fixo) e o saldo líquido de exportações menos importações, o destaque negativo do ano que se encerrou foi a contração de 14,1% na conta Formação Bruta de Capital Fixo. Este recuo é justificado principalmente pela queda da produção interna e da importação de bens de capital, sendo influenciado ainda pelo desempenho negativo da construção civil neste período, obrigada a conviver com o estancamento de grandes programas governamentais, tanto de construção de casas populares, como aqueles integrantes do Programa de Aceleração do Crescimento – PAC, além da redução das atividades por parte das empresas construtoras envolvidas na investigação da Operação Lava Jato.
Os demais componentes da demanda interna apresentaram igualmente queda na comparação do quarto trimestre de 2015 contra igual período do ano anterior. A Despesa de Consumo das Famílias registrou uma variação negativa da ordem de 4%. Comparando o quarto trimestre ante ao terceiro, houve queda de 1,3%, quarto recuo consecutivo. A deterioração do mercado de trabalho e o elevado nível de endividamento das famílias são apontados como principais fatores a influenciar o comportamento negativo do consumo agregado da economia. Secundariamente, pode-se também considerar a elevação da inflação, ao corroer o poder de compra das famílias, e a elevada taxa de juros, que dificulta o acesso ao crédito, como causas concorrentes. A Despesa de Consumo do Governo, a qual caiu 2,9% em relação ao trimestre imediatamente anterior, considerados os ajustes sazonais, indica redução dos gastos da administração pública como parte do esforço fiscal do governo na contenção de suas despesas.
No setor externo, as Exportações de Bens e Serviços cresceram 6,1%, enquanto as Importações apresentaram redução de 14,3% ao longo do ano de 2015. Entre os produtos e serviços da pauta de exportações, os maiores aumentos foram observados em petróleo, soja, produtos siderúrgicos e minério de ferro. Já entre as importações, as maiores quedas foram observadas em máquinas e equipamentos, automóveis, petróleo e derivados, bem como os serviços de transportes e viagens. O crescimento das exportações e a queda nas importações foram, ambos, movimentos fortemente motivados pela desvalorização cambial registrada no período (aumento do preço do dólar em relação ao real).
Em síntese, a economia brasileira encontra-se numa situação de forte retração a qual não será revertida de maneira trivial, independente do que ocorra no campo político atual. A profundidade da crise trás preocupação com os rumos do país e com seus desdobramentos sobre a maioria da população.
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