Adolfo Breder
Há anos a sociedade, seus educadores, comunicadores e governos vêm discutindo a respeito da difusão da violência na programação infantil das emissoras de televisão.
Meninos socam outros meninos. Meninas maravilhas arrancam os cabelos de atrevidas coleguinhas do jardim de infância.
As toalhas viram capas; jornal enrolado vira espada.... Piratas e peter pans fazem coreografias levíssimas de sobrevoo e enfrentamento. É brincadeira, ensaio de vida real, imitação dos seriados e desenhos da TV.
Bem, dias desses eu estava na longa fila do Metrô. Um pai de feições asiáticas tentava manter sereno o irrequieto rebento de uns oito anos de idade. O menino tentava sair de perto para vasculhar a estação imensa.
O pai adverte: Já pensou se um homem mau te leva pra longe?! Vamos ter um trabalhão para te encontrar!
O pequeno olha pensativo, franze a testa e dispara: Dou um chute na canela dele! (Da minha infância lembro que uma música dos Mutantes, Senhor F, mandava dar um chute no ladrão – uma pérola para o leitor!)
O pai contrapõe: Mas você já viu o tamanho dele e o seu?
- Ah pai! Quem é do mau é sempre fraco mesmo!
Gelei. Com o bem vencendo o mal queríamos deixar clara a melhor opção. Mas o pirralho, e quantos outros por aí, via uma outra lógica: a óbvia e invariável vitória do bem. Um roteiro que desprezou João Victor, Isabela, Amarildo, DG e demais exemplos de histórias reais transformadas em seriados repetitivos, enquanto despertavam mórbida curiosidade nos telejornais.
A mídia eletrônica hegemônica aproxima, massifica, glamorisa, enterra, induz e, por vezes, até educa. Cria seus mocinhos e bandidos. Faz de tudo para manter a audiência cativa e passiva.
A frase do menino-que-nasceu-na-velocidade-das-mídias-sociais fez-me reacender o hábito de sempre buscar outros referenciais, outro olhar – crítico - para os fatos.
Vencer sempre e perder sempre não é natural. O que importa não é de quem é a vitória, mas o seu espírito e consequências. E vamos à vida!
Foto: Grafismo sobre foto do autor.
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