Adolfo Breder
Inicia-se o Campeonato Nacional. As torcidas estão ávidas para comemorar os resultados positivos. Querem explodir seus gritos de GOOOOLLL bem alto. O clima do já-ganhou instalou-se com os portões escancarados na capital e no capital desavergonhado. Na arquibancada, com pé atrás em relação ao foguetório geral, outros torcedores continuam a denunciar: GOLpe!
Sinceramente não tenho o que festejar. Não dá para deixar de perceber a armação de meio de campo retrancando o jogo com um time pendurado de cartões amarelos. Esta seleção só vai chegar na final se o juiz se comprometer a calar seu apito e manter olhar severo no adversário.
15 de maio é o dia do Assistente Social. Homens e mulheres cuja profissão está diretamente vinculada à defesa dos direitos básicos das populações fragilizadas e em constante risco social. Parabéns aos guerreiros e guerreiras Assistentes Sociais! Mas muitas outras batalhas
terão que ser travadas pela dignidade humana no nosso amado país. As premonições dão conta de retrocessos, pois as gravatas das fotos oficiais estão muito mais compromissadas com as elites corruptoras do que com sacrifícios pelo bem-estar dos pés descalços. Vêm gastos a serem cortados de relance onde deveriam enxergar investimento social. A entidade máxima que elas orbitam é o endeusado Mercado, ditador sagaz comandado por poucos, para poucos e com sustentação de seus iludidos asseclas.
18 de maio é outra data que o cronista gostaria de apagar das agendas e diários. Em 1973, na capital capixaba, Vitória, onde eu vivia, um bando de jovens de alta classe, “acima de quaisquer suspeitas”, resolve dispor da vida da menina Aracelli para uma orgia regada a drogas e prepotência. Exageraram nas overdoses e o resultado para ela foi seu corpo dilacerado ser encontrado num manguezal uma semana depois – desfigurado por ácido. Quarenta e três anos se passaram. Ninguém foi punido. Após ampla mobilização, a partir de 2000 esta data foi instituída como Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual Contra Crianças e Adolescentes.
Espero não ter que ver num remoto futuro instituída nova data para lembrar outras perdas graves impetradas contra o nosso sonho de uma pátria acolhedora para todos. GOL ou GOLPE? Penso que são gritos engasgados. Ouvidos apurados poderão decifrar seus códigos e lições. Que não seja tarde!
Foto: do autor – grafite numa rua do Rio de Janeiro.