Ricardo Coelho dos Santos*
Quando o ator Miguel Ferrer, pediu uma chance de emprego para seu primo, George Timothy Clooney, o mundo do cinema, certamente, não sabia o que estava ganhando. Ser filho de apresentador de televisão e sobrinho de atores famosos não garante vaga alguma no “show business”. Poucos astros, como Kirk Douglas e John Carradine, nos presentearam com herdeiros talentosos. Iniciando com filmes de classe duvidosa entre C e D, Clooney acabou fazendo o curioso “O Retorno dos Tomates Assassinos” que, só pelo título, muita gente assistiu só para conferir se era ruim mesmo! Ninguém se decepcionou nisso e o filme virou “cult”.
O sucesso veio mesmo com a famosa série “Plantão Médico” (“ER”) de Michael Crichton tendo, entre os produtores, Steven Spielberg e, entre os diretores, Quentin Tarantino. O bom elenco, entretanto, era esquecido diante o simpático pediatra Dr. Ross, vivido por George Clooney. Mais tarde, ele faria dupla com Quentin Tarantino em “Um Drink no Inferno”, de Robert Rodrigues, um daqueles filmes que a gente fica sem saber se é terror, aventura ou comédia.
Hoje, George Clooney é um ator consagrado e um diretor e produtor respeitado, de olho nos assuntos sérios, que nos leva a pensar em coisas delicadas, como macarthismo e geopolítica do petróleo. Possui dois prêmios da academia: o de Melhor Ator Coadjuvante, em “Syriana”, e o de Melhor Filme, em “Argo”, que ele dividiu com os outros produtores: Ben Affleck e Grant Heslov.
Eis que ele trabalha com a indubitavelmente talentosa Julia Fiona Roberts, que já no início da carreira fora indicada ao Oscar de melhor atriz em “Flores de Aço”, ganhando, depois, o prêmio máximo em “Erin Brockovich”. Aí, ela já tinha encantado o mundo no papel da pobre garota de programas em “Uma Linda Mulher”, um daqueles filmes com potencial de encantar muitas gerações ainda hoje. Nesse, ela recebeu mais uma indicação ao Oscar.
Os dois se juntaram a uma terceira celebridade: Alicia Christian Foster, a Jodie Foster. Essa atriz, que desde os três anos já materializava o famoso desenho símbolo da Coppertone numa propaganda, encantou mais tarde os cinéfilos no intrigante filme da Disney, “Napoleão e Samanta” e foi indicada, ainda adolescente, ao Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante no violento “Taxi Driver”. Depois, em “O Silêncio dos Inocentes”, já adulta, mostrou que seu talento persistia. Trabalhou como diretora em episódios de seriados para a TV e como produtora em outras obras sem importância, com exceção de “Nell”, em que ela também atuou recebendo inclusive uma indicação ao Oscar de Atriz Principal no papel-título. Aqui, já possuía dois prêmios da Academia em “Os Acusados” e em “O Silêncio dos Inocentes”, ambos como Melhor Atriz. Podemos dizer que, felizmente para ela e para todos nós, sua fama de boa atriz supera, de longe, a de ter sido o pivô da tentativa de assassinato do Presidente Ronald Reagan.
O filme que falamos agora é “O Jogo do Dinheiro” (“Money Monster”), bem ao gosto de George Clooney, estrelado por ele e por Julia Roberts, dirigido por Jodie Foster, que a crítica especializada já anunciou ser o melhor filme que ela já dirigiu. Com toda a razão, pois essa foi a primeira vez que ela pega um trabalho desse porte, e se deu bem.
Dizem alguns profissionais do cinema que, com bons atores, não se torna necessário um bom diretor. Mas o filme não se centrou somente nas atuações de Clooney e Roberts. O jovem Jack O’Connell, por exemplo, realizou aqui magnificamente o seu primeiro grande papel.
Contamos também com a presença da belíssima irlandesa Caitriona Balfe, que fez sua estreia em “O Diabo Veste Prada” e atua no excelente papel principal da série televisiva “Outlander”. E, ainda, temos os já conhecidos Dominic West, sempre em marcantes papéis secundários, e Giancarlo Esposito, cujos trabalhos podem ser conferidos nas séries “Breaking Bad” e “Once Upon a Time”, em que ele é o Espelho Mágico da Rainha Má.
O filme tem um roteiro simples e eficaz. Trata-se da revolta dos perdedores de dinheiro na Bolsa de Valores. Surge uma promessa, deposita-se nela uma grande quantia e se perde tudo, depois. O filme mostra que Bolsa de Valores é um jogo que não diferencia muito de uma roleta de cassino. Porém, essa roleta pode ser adulterada, e essa é a grande questão do filme. Como, porquê e quem cometeu o crime!
Quem assistir, estranhará ao ver um George Clooney cheio de palhaçadas e atitudes irreverentes e uma Julia Roberts centrada, séria e com decisões precisas; nenhuma surpresa, no seu caso, senão aquilo que se espera dela: uma grande atuação.
A direção de Jodie Foster, apesar do que celebra a crítica, teve alguns deslizes. Mas dizer que ela dirigiu mal é quase uma blasfêmia. Foi precisa no que fez, causou tensão e provocou algumas risadas. E mostrou a força e a fragilidade que todos carregam em si.
O roteiro de Jim Kouf foi bom. Revela o quanto a ganância conduz a desastres, com variados tipos de vítimas. E essa, quando cega, se encontra em todas as camadas sociais. Coube aqui, ainda, uma homenagem aos câmera men; o profissional da câmera, no filme, é um “câmera” na vida real.
Uma produção de George Clooney e do também ator e produtor Grant Heslov, é anunciado erroneamente como filme policial. Não é. É, sim, um drama sobre o que se julga ser o ícone de sucesso do capitalismo: o enriquecimento a todo custo. E Bolsa de Valores é um caminho.
Tudo bem, mas a roleta deve ser honesta.
Engenheiro, Escritor e Cinéfilo.
Fontes de pesquisa: Wikipédia, Adoro Cinema