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30 JUN. 2016

Referendos Podem Produzir Tragédias



Aylê-Salassié F. Quintão*
           
             O plebiscito no Reino Unido vem na contramão do processo de integração, inclusive na América. É um golpe na União Européia e,  sobretudo, na globalização . Pode enfraquecer a posição dos ingleses   no mundo, com chance de  levar a própria Gran Bretanha à fragmentação , assim como  inspirar outros países fragilizados na sua identidade partilhada  a adotar a mesma postura. Carlos Marchi, o jornalista, e não Karl Marx, o filósofo,  chama o plebiscito inglês de “o idiotismo da democracia assembleísta”, da “democracia direta”. Conclui que ”Referendos, plebiscitos, eleições nem sempre trazem soluções; podem trazer problemas e, às vezes, produzem tragédias”. São, em geral, fruto das inconseqüentes promessas eleitorais feitas no “calor da hora”. 

          Quando Cameron prometeu, durante a campanha eleitoral, o plebiscito, não parece que tinha uma dimensão clara dos problemas que o cercavam. Permanecer  ou sair da União Européia era uma questão que envolvia o caráter cultural xenofóbico dos ingleses, refratários aos estrangeiros, variável mal avaliada por sua assessoria. Realizada a consulta pública, seus efeitos fizeram emergir não apenas as estranhezas internas, mas  motivaram também outras nações em situação desconfortável, como a Escócia e a Irlanda, a voltar a debater a independência do próprio Reino Unido. Os países nórdicos, com identidades peculiares e também em posição desconfortável,  já poderiam pensar em alternativa similar. Portugal e Espanha, tratados com indiferença dentro da UE, tenderiam a  reforçar a relação íbero-americana. Quem sabe se até o espírito do Mercosul  não poderia vir a passar por uma reconfiguração.

       A sensação é a de que o plebiscito inglês reflete-se  como um dos efeitos não previstos da globalização, que chegou nos anos 1970/80 atropelando nacionalismos regionais, raízes e fronteiras culturais. O Planeta foi atravessado pelo  neoliberalismo do Fórum de Davos (1971), da Trilateral (1973), do G-7 (1976), abrindo espaços  à fórceps no mundo para o capital,  amparado-se num falso viés de prosperidade e de democratismo. O globalismo  extinguiu limites fiscais e ampliou espaços para o comércio internacional, conduzindo mecanismos e tecnologias capazes de reduzir as distâncias entre regiões e pessoas.  Os Estados nacionais  viram-se diminuídos em sua autonomia, com a privatização e o fechamento de muitas empresas e órgãos públicos em todo o mundo,  vulgarizando o desemprego. A globalização tomou o formato de blocos regionais e globais, do que emergiu o Parlamento Europeu (1976), depois o Mercosul (1991), o Nafta (1992), União Européia  (1993),  Aliança para o Pacífico (2012), outras organizações no sul da Ásia e até o pretensioso e destemido BRICS (2006). URSS e China foram neutralizadas. Finalmente, uma cúpula de 700 “especialistas” reunida, em 2008, em Dubai, arrematou uma  “Agenda Global".

        Depois de tudo isso, o mundo ficou mais condensado, e os cidadãos puderam circular com certa facilidade  por todos os cantos. O indivíduo orgulhava-se da condição de cidadão-mundo. Na estética e na ética surgiram opções marcadas pela agressividade, instalando-se uma desconstrução de valores e uma certa desobediência civil. As gerações sociais de vanguarda saudaram festivamente as novas tendências, que colocaram os cidadãos diante de recursos e expectativas existenciais inusitadas, explicado eventualmente como “espasmos” da  pós-modernidade. Contudo,  não se podia falar em nome daquelas  gerações sobreviventes da guerra, que  viram sonhos, famílias e países destruídos  e que, dilacerados, ao reconquistá-los no pós-guerra, enraizaram-se nos espaços e territórios remanescentes, aferrando- se à suas raízes culturais e patrimoniais, tornando-se silenciosamente orgulhosos da sua cidadania nacional. Cada povo restaurou  a identidade  e as representações de origem, as mesmas atravessadas, primeiro, pela guerra e, em seguida, pela globalização que, praticamente,  negou as virtudes emergidas dos sobreviventes da guerra.

            Impulsionada pelos excedentes de capital no mundo, pelos petrodólares fáceis, a globalização, surgida repentinamente e concebida à luz do neoliberalismo, serviu de amparo à expansão das relações comerciais e para os grandes  investimentos privados. Projetou o surgimento de uma sociedade única.  Dentro desse escopo, a migração não deveria se constituir, então, num fenômeno estranho, mesmo porque ela está em todos os lugares, seja internamente, regional e transnacionalmente.  Onde há guerra, ela está lá. Onde há desemprego ela está presente. Onde há fome, há fuga de populações.   Mas a globalização é um movimento, sobretudo, de capital e de mercados. Quem não tem capital não é global. E esse tem sido um problema, porque estimula  enraizamentos e trincheiras locais, ressuscitando nacionalismos.  
      
   O plebiscito inglês reflete o cenário de contradições criado pela globalização e que ameaça multiplicar-se por aí. Que resultados se poderia esperar no Brasil se, a título de transitar por uma prática democrática, os políticos  resolvessem  adotar o plebiscito para consultar as população brasileira sobre a tese irresponsável dos “dois brasis”, ou  para decidir se o Sul do Brasil deveria se integrar ao Uruguai, como chegou a propor o ex-presidente Sanguinetti, ou ainda sobre a possibilidade de instituir um  governo supranacional  para os países do Mercosul, como queria o ex-presidente  Menem, da Argentina.  Munido de um espírito  amplamente democrático e supostos  bons propósitos foi  que  Cameron prometeu, na campanha eleitoral, realizar o plebiscito. Feito,  comprometeu a configuração geopolitica e econômica do Reino Unido e impactou o processo de integração que se espalhou pelo mundo.

*Jornalista, professor. Doutor em História Cultural

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COMENTÁRIOS

  • Postado por: Guilherme Henrique Pereira
    04 JUL. 2016 às 17:35

    Parece que a direita da Inglaterra fez a campanha para sair esperando perder, mas, agora encontra-se em pavorosa sobre o que poderá acontecer e não tem coragem de trabalhar na implementação das políticas decorrentes. O mais apavorado é o seu líder que já pediu demissão.

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