Por: Ricardo Coelho dos Santos
Francis Ford Coppola, ao lançar, sob o texto de Mario Puzo, a continuação de “O Poderoso Chefão”, passou por uma desconfiança natural do mercado cinematográfico, tanto por parte da mídia, composta de entendidos e simples observadores, como do público em geral. Eis que o filme conseguiu ser tão bom quanto o primeiro, apresentando um fantástico Robert De Niro, ainda em ascensão na época, e, ainda, arrematando seis “Oscars”, contra somente três do primeiro filme.
Mas ninguém se engana! Essa é uma exceção à regra. Poucas vezes, a continuação é tão boa como o filme original e, rarissimamente, é melhor. Como o público gosta de se surpreender, mesmo que seja para “pagar para ver”, atende aos reclames e gasta seu suado salário em ingressos e pipoca.
Aqui, estamos anunciando mais uma honrosa quebra de paradigmas. Mais uma continuação realmente à altura do original está em cartaz nos cinemas hoje: “Procurando Dory” (Finding Dory).
Vamos colocar, antes, uma questão: se você acha desenhos animados coisa de criança, reveja seus conceitos! Inclusive, já falamos sobre isso. Se você tem vergonha de ir ao cinema sozinho ou com a namorada para assistir um desenho animado, arranje um primo, sobrinho, filho de vizinho ou qualquer criança que conheça e presenteie com um bom filme. Mas não perca essa película realizada pela equipe competente da Pixar, empresa cinematográfica que saiu das mãos de George Lucas, passou pelas de Steve Jobs e agora está com o grupo Disney. Bom; eu, minha esposa, minha filha e minha sobrinha, ambas maiores de idade, nos juntamos para levar nosso neto, a única criança do grupo, para curtir um cinema que não só nos agradou. Nos surpreendeu!
A história, fora as licenças poéticas que todo desenho animado oferece, é redonda. Começa com uma rápida passagem de “Procurando Nemo”, com o cuidado de mostrá-la em outra ótica: a da “peixinha” tang Dory. Depois de se mostrar sua rotina de viver no mesmo recife de coral com Marlim e Nemo, seus amigos do filme anterior, lhe ocorre uma lembrança. Ela, que sofre de uma crônica e permanente perda de memória recente, acaba os levando a uma aventura engraçada e emocionante, envolvendo uma respeitável gama de novos personagens. Impossível não se emocionar e mais impossível ainda é não se divertir.
A direção e o roteiro do filme permanecem com o excelente Andrew Stanton, com carreira consolidada na Pixar desde “Toy Story” e vencedor do Oscar de Melhor Animação exatamente por “Procurando Nemo”, em 2003, um filme, aliás, de estrondoso sucesso comercial e de crítica.
Na voz de Dory, no original, temos a sempre fantástica comediante Ellen DeGeneres, que, inclusive, tinha feito apelos no seu programa de entrevistas para voltar ao papel da tang desmemoriada. Um ano antes do filme estrear, ela anunciou com muita alegria seu retorno ao papel, como se esse fosse o único grande trabalho da sua vida. Ela é um talento e tanto como apresentadora e ganha um salário respeitável por isso!
Albert Brooks, como Marlim, teve até um papel pequeno como personagem no filme. Mas o pequeno peixe palhaço, com seu filho, tiveram bons e impagáveis momentos. O jovem Nemo, teve a voz de Hayden Rolence, substituindo Alexander Gould, que, hoje, com 22 anos, fez outro papel na trama.
Não vamos entrar em mais detalhes, pois qualquer informação extra gera o desagradável perigo de expor a história, e essa não é nossa intenção. Mas, no original, podemos contar também com um elenco fabuloso, formado pelos talentos de Diane Keaton, Eugene Levy, Idris Elba, Dominic West, o próprio Andrew Stanton, que repete o papel da tartaruga Crush, e o sempre presente em filmes da Pixar John Ratzenberger. Também, podemos contar com a já esquecida Sigourney Weaver, num papel semelhante ao que ela fez em Wall-E. Uma pena que o público brasileiro dê tão pouca importância às vozes originais no cinema para termos seções legendadas comercialmente viáveis.
Mas não critiquemos a dublagem brasileira. Quase sempre, o Brasil demonstra a qualidade dos seus astros de voz. A maioria do elenco do filme foi formada por dubladores profissionais, alguns até já tendo atuado em “Procurando Nemo”: a maravilhosa Maíra Góes e Júlio Chaves, que dubla Mel Gibson, Tommy Lee Jones, Jeff Bridges e fez as vozes de Lorax, Aslan, Vovô Pig e outros. Não tenho competência para criticá-los. Mas, contamos, também, com as vozes de Antônio Tabet, de “A Porta dos Fundos” – maravilhoso! – e Maríllia Gabriela, no lugar de Sigourney Weaver.
O filme foi injustamente criticado por quem não viu e não sabe o que diz. Talvez por causa da homossexualidade de Ellen DeGeneres, buscaram alguma forma de postar críticas e conseguiram achar um casal de lésbicas. Confesso que não vi. Prestei bem atenção à cena tão referenciada e vi duas mulheres andando juntas. E daí. Não se escutou nenhuma fala entre elas. Se os críticos gratuitos viram alguma maldade nisso, então não podemos nem apresentar nada sobre a amizade entre duas pessoas do mesmo sexo.
Recomendo enfaticamente o filme. É divertido, bem feito, bem dublado, emocionante e até instrutivo. Vamos aguardar agora o lançamento em DVD para curtir o vozeirão de Idris Elba, que faz o papel do porteiro Heimdall nos filmes do Thor e conferir os desempenhos costumasses dos intérpretes principais.
Fontes de pesquisa: Wikipédia, Cinema em Cena.