Por: Guilherme Henrique Pereira*
Para os considerados “otimistas” as pequenas melhorias nas variações e previsões de indicadores de crescimento e de inflação refletem que a economia brasileira chegou ao fundo do poço e que a recuperação dá seus primeiros passos. O mais provável é que esta avaliação esteja apoiada no desejo de ter acertado no diagnóstico que aponta os erros do Governo Dilma, expressos na piora das contas públicas, que levaram a perda do dinamismo.
A linha central desse raciocínio baseia-se na hipótese de que um desequilíbrio (déficit) nas contas do Setor Público gera um ambiente de desconfiança entre os investidores, que por sua vez, inibe o fluxo de investimentos e, portanto, conduz para as baixas ou negativas taxas de crescimento do emprego e do PIB. Assim, a substituição do Governo que provocou a desorganização fiscal, por outro que promete reduzir gastos, produzirá um novo ambiente marcado por confiança dos investidores que retomam os investimentos, passo fundamental para retomada do desenvolvimento. Na verdade, seria muito bom se fosse tão simples assim. Já estaríamos com o problema resolvido.
Contudo, há uma corrente de economistas, já em número expressivo, que se manifesta com interpretações amplamente divergentes e ao mesmo tempo demonstrando que existem problemas estruturais relacionados à construção do capitalismo brasileiro. Uma construção, talvez interrompida, que deixou fragilidades na correlação das forças sociais que levariam a uma política econômica mais favorável ao setor real da economia. Ao contrário, o que se observa é uma subordinação aos interesses do capital financeiro, ou especulativo, se preferir.
No raciocínio “otimista” estabilidade de preços e equilíbrio fiscal formam os pilares da confiança dos investidores. Se positiva os investimentos serão realizados. No governo anterior trabalhava-se com estimativa de déficit da ordem de R$ 90 bilhões. O novo governo refez cálculos e passou-se a trabalhar com estimativa da ordem de R$ 160 bilhões. Além disso anunciou diversas medidas que levará a aumento dos gastos. Tudo apontando na direção de piora da situação fiscal. Mesmo assim, observa-se pequenas melhorias. A conclusão a que se chega é que há brechas inexplicadas no modelo que pretende se afirmar como alternativa única.
No cenário atual, a taxa de câmbio joga um papel fundamental, talvez mais significativo que o resultado primário. Ela interfere decisivamente em diversos indicadores da dinâmica econômica, interessando destacar aqui a competitividade das empresas nacionais, os fluxos de investimentos externos e o saldo da balança comercial. Até 2013 dizia-se que o real estava valorizado, (R$ 2,342 por US$) portanto, um viés que trabalhava contra a competitividade das empresas nacionais nos mercados interno e externo. Um pista promissora para explicar a desindustrialização brasileira. Por longo período o bom preço das matérias primas no mercado internacional compensaram as exportações, mantendo a rentabilidade das empresas deste setor. Em 2014 inicia-se sua desvalorização (R$/US$ 2,655) e 2015 chegou a R$/US$ 3,904. Melhora a competividade das empresas nacionais, com efeitos positivos na balança comercial. Sem dúvida este movimento é parte explicativa das pequenas melhorias observadas. Pelo menos, é muito mais provável do que eventuais mudança no suposto clima de confiança.
Ocorre que em 2016 o real inicia um movimento de revalorização (R$/US$ 3,226 em agosto). A consequencia é perda de competitividade, efeitos negativos sobre a rentabilidade das empresas, portanto, suspensão da retomada dos investimentos. Distanciamento do fundo do poço.
Outro fator de grande relevância sobre a rentabilidade das empresas é a taxa de juros. Estudo recente do IEDI (Instituto de Estudos e Desenvolvimento Industrial) demonstrou o alto endividamento das empresas e como as despesas financeiras corroeram suas taxas de rentabilidade. Sem previsão de rentabilidade, não haverá investimentos. Apenas investimentos de altíssima rentabilidade poderão efetivar-se, o que são oportunidades raras. Como já bem conhecido o Brasil é o paraíso do capital especulativo por que aqui se pratica as mais altas taxas de juros do planeta. Nenhum sinal de que a política econômica se preocupa com um viés de baixa nas taxas básicas de juros. Também necessária para reduzir o resultado orçamentário, e liberar recursos para os investimentos públicos. Certamente algo muito mais concreto e sensível do que um subjetivo estado de confiança gerado pelo corte dos gastos públicos.
Em conclusão, pode-se dizer que há clareza para uma corrente significativa de economistas de que as altas taxas de juros praticadas no Brasil, o movimento observado de revalorização do Real e o endividamento das empresas continuam como obstáculos para a retomada dos investimentos. Como os gestores da política econômica atual têm outro diagnóstico, a conclusão óbvia e triste é a de que o fundo do poço ainda está distante.
* Economista; Professor; Doutor em Ciências Econômicas.
Nota da Redação: foto da internet na ilustração.