Por Aylê-Salassié F. Quintão*
O maior inimigo de Temer e dos demais que vierem a sucedê-lo é o obsoletismo das ideías e dos agentes envolvidos nos esforços de recuperação da economia brasileira. “Antenista digital!...” Guardem isso. É a profissão que está sendo anunciada em pequenas faixas artesanais fixadas pelos cantos das ruas e das praças, em Brasília. As tecnologias estão introduzindo a cada dia alternativas mais eficientes que o trabalho humano, com custo menor e menos problemas . Há cinco ou seis anos a Universidade Federal de Minas fez um estudo sobre o mercado de trabalho e detectou 100 novas profissões, praticamente desconhecidas do brasileiro, e que estavam chegando ao sistema produtivo.
Temer fala em recuperar os empregos desaparecidos, próximo de 14 milhões de postos. Consequentemente, está também falando em um plano de ajuda ao soerguimento das empresas. A verdade é que em centenas delas o estrago foi tamanho que já não tem como serem recuperadas . Outro grupo não terá mais a mesma configuração, nem processos, empregados, nem em produtos. O empresariado mais esperto mudará o negócio ou optará por maior automatização. O próprio Poder do Estado tende a tomar outros rumos, alterando até mesmo o perfil dos governantes. Alguns dos que governam hoje já não existirão em 2026. Serão engolidos pelo novo cenário conjuntural ou pela própria terra.
Então o “garrote vil” (instrumento de tortura) no Governo Temer não são essas manifestações de ruas alimentadas por quem não tem nenhum compromisso com a estabilidade política e econômica do País; nem os bordões que a oposição usa para falsear a verdade, e desviar a atenção da opinião pública sobre a sua responsabilidade pela crise que aí está, e que destruiu instituições e o sistema produtivo brasileiro. Independente de ser esquerda ou direita, o obsoletismo vem corroendo tudo: as ideologias, as estratégias, os métodos de gestão , os modelos de provocações e o tipo projetos destinados a pelo menos a cinco anos adiante.
O cenário é incerto para os planos de governo mais conservadores e inibidor para o empresariado, como mostra o professor Ilson Leal. O inimigo número um dos projetos de médio e longo prazo são os imprevisíveis softwares (novos programas) e as start ups (pequenas iniciativas empreendedoras digitais) que tornam desatualizadas a maioria das atividades econômicas, e que prometem fazer emergir centenas de novas oportunidades nos próximos anos. É o limiar da inteligência artificial, que consegue entender o mundo melhor do que os políticos, e em questão de segundos. O Uber, uma simples ferramenta caminha para destruir o sistema de transporte convencional e seus vícios. A AIRBNB à rede hoteleira . A IBM está introduzindo programas que diagnosticam doenças, inclusive o câncer, com quatro vezes mais exatidão que a medicina tradicional. O Facebook reconhece , instantaneamente padrões humanos que a polícia leva anos para fazê-lo. A indústria automobilística começará a ser demolida a partir de 2020, com o aparecimento, já em 2018, dos primeiros veículos dirigidos automaticamente. As cidades serão menos ruidosas e poluídas porque todos os carros rodarão a eletricamente. Os negócios em biticoin (dinheiro digital) continuam a se expandir. Qualquer idéia projetada para o sucesso no século 20 corre o risco de falhar no século 21. Projeta-se que 70 a 80% dos empregos existentes hoje desaparecerão nos próximos 20 anos. Haverá outros, mas exigindo outras qualificações. Em 2030, portanto daqui a 13 anos, os computadores se tornarão mais inteligentes que os humanos. Os trabalhadores não conseguiram ainda pensar nisso, mas as grandes empresas estão assustadas diante do futuro próximo.
Inserir-se nesse ambiente vai exigir ampla visão de mundo e competências exclusivas. Seria, com diz Lenílson Naveira, a “Quarta Revolução Industrial!”? A cadeia das revoluções industriais começou há mais de 300 anos. O Brasil embarcou tardiamente nelas, atingindo a condição de país industrial fora da hora. Hoje somos mais respeitados como exportadores commodities (1ª onda) do que de produtos industriais. Mas também não sei se a expressão é adequada, ou seria algo ruptural como “Sociedade do Conhecimento” ou “Sociedade Digital”. O certo é que será esse o “garote vil”que apertará o pescoço do Temer e daqueles que vierem a substituí-lo na chefia do Estado. O impeachment foi feito em nome dos excluídos da sociedade industrial, mas agora já temos agregados 30 a 50 milhões de pessoas amadurecidas e conectadas virtualmente num ambiente que vem se configurando em cima de valores e competências digitais.
As tecnologias conduzem a própria democratização, que vai abandonando gradualmente conhecimentos, e possibilitando a manipulação generalizada das altas tecnologias, as quais já dispõem de poder para destruir a vida no planeta 10 vezes. Daí entender-se ser fundamental investir no Homem. Não é bem ensinar política na escola. É explorar a intimidade do ser, a fim de melhorá-lo para poder conviver com as altas tecnologias, sem que ele seja esmagado por elas, nem as utilize de maneira desastrosa. Elas avançam e se reproduzem com uma rapidez imprevisível, particularmente nos países mais desenvolvidos. O grande problema de Temer, Dilma e dos políticos que aí, é que o momento reclama por investimentos no conhecimento do próprio homem. Tentar enganá-lo é um equívoco. É preciso desenvolver nele condições potenciais que o permitam avançar e multiplicar-se sem correr o risco de contribuir para a autodestruição.
*Jornalista, professor, doutor em História Cultural
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