Por Ricardo Coelho dos Santos
Quando, na década de 1960, Stan Lee e Steve Ditko criaram Dr. Estranho, deram a entender aos apreciadores de quadrinhos da época que eles começaram a falhar na criatividade. O personagem era desenhado tal qual Mandrake, de Lee Falk, dos anos trinta! Stan Lee deve ter gostado muito desse personagem, pois ele mesmo chegou a lançar algumas das suas histórias. Pena que Mandrake não tem uma Disney ou uma Warner por trás para lançar seus filmes. Bem, fizeram um filme turco sobre ele…
Para a nova geração, Mandrake é um ilusionista que faz um vilão pensar que uma metralhadora se transforma num buquê de flores, com que um hipnotizado projete suas lembranças numa parede, inventando o datashow mental, e ainda consegue vestir uma calça parando-a no ar e pulando dentro dela. Até calça ele hipnotiza! Tem ainda um amigo fiel, Lothar, um príncipe africano imenso e bom de briga e uma princesa totalmente submissa a ele! Anda para cima e para baixo de fraque, cartola e capa forrada de vermelho. Seu amigo usa um fez na cabeça e uma pele de leopardo cobrindo o corpo e só! Acreditem, a censura já processou Lee Falk por ter permitido desenhar a princesa Narda de biquíni. Não pelo biquíni, mas por ter mostrado seu umbigo!
Mas voltemos à cópia do Mandrake, o Dr. Estranho. A semelhança não é só física. Ambos buscaram sabedoria no Oriente, sendo que Mandrake se tornou membro do Colégio de Mágicos. Dr. Estranho se afiliou a algo semelhante.
E as semelhanças terminam aqui! Stan Lee, muito provavelmente, não se conforma com o mundo onde vive e criou, para Dr. Estranho, uma série de dimensões paralelas, onde enfrenta inimigos superpoderosos, apoiado e apoiando parceiros do calibre de Thor, Homem de Ferro e Capitão América, além de conseguir transformar Hulk no Dr. Banner quando bem deseja. Suas histórias são ricas de personagens de outros mundos com poderes inimagináveis que não são páreo para o Doutor com sua extrema inteligência e poderes maiores ainda! Um deleite de leitura, com criatividade elevada ao máximo, apoiado por desenhistas que fariam Hieronymus Bosch repensar nos seus quadros maravilhosamente loucos.
O filme recentemente lançado se colocou à altura dos quadrinhos. As dimensões paralelas foram demonstrações intensas de criatividade, imaginação e computação gráfica, superando até o excelente “A Origem” de Christopher Nolan. Aqui, sob a direção de Scott Derrickson, tem, no elenco, o talentoso Benedict Cumberbatch, conhecido pelas vozes de Smaug e do Necromante na trilogia “O Hobbit”. Fez ainda Khan em “Além da Escuridão – Star Trek” e o papel principal em “O Jogo da Imitação”, em que foi indicado ao Oscar de Melhor Ator. Para a televisão, faz o papel de Sherlock Holmes numa série irretocável, contando ainda com Martin Freeman.
O elenco tem ainda Tilda Swinton, num papel que, originariamente, seria masculino. Essa atriz fez o Anjo Gabriel em Constantine e a Feiticeira Branca — e uma centaura — na excelente série “As Crônicas de Nárnia” que, lamentavelmente, parou no terceiro episódio e há mais quatro para serem explorados! Fez ainda o hilário “Queime Depois de Ler”, “O Curioso Caso de Benjamin Button”, “Moonrise Kingdom” e “O Grande Hotel Budapeste”, em que se apresenta irreconhecível. Em 2008, recebeu merecidamente o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante no filme “Conduta de Risco”.
Temos, também, o maravilhoso Chiwetel Ejiofor, que pode ser visto em “Amistad”, seu segundo filme, num papel pequeno. Recebeu uma indicação ao Oscar de Melhor Ator em “12 Anos de Escravidão” e deu um show de desempenho em “Kinky Boots”, em que, inclusive, canta. Também, atuou como o cientista que alertou o mundo sobre a grande catástrofe no divertido “2012”, abordando um tema que acabou causando tragédias reais por quem acreditou nele.
E não podemos esquecer de Mads Mikkelsen, o único ator não britânico no papel principal. Conhecido como o “Hannibal”, na série televisiva, com atuações impecáveis, pode ser visto ainda em “Fúria de Titãs”, no papel de Draco, em “Os Três Mosqueteiros”, como Rochefort, e em “Casino Royale”, no papel de Le Chiffre. Todos vilões. Brevemente, o veremos em “Star Wars – Rogue One”.
O responsável pela festa visual do filme e por juntar um elenco tão fabulosos é um diretor pouco comentado, mas um veterano. Dirigiu e foi responsável pelo roteiro de “O Exorcismo de Emily Rose”. Fez ainda “O Dia Que a Terra Parou” e “A Entidade”. Um aficionado pelo fantástico.
“Dr. Estranho” é um filme recomendado para quem quer ver arte visual e desligar o cérebro para se divertir. Chamo a atenção para não se evadir do cinema no momento dos créditos. Há duas tomadas importantes para as próximas aparições do personagem na telona. Ele, certamente, vai voltar!
Fontes: Wikipédia, Água e Azeite (https://aguaeazeite.wordpress.com)