Por Delano Câmara
A moça que me aborda na rua e se diz estudante de psicologia me pergunta se sou a favor do sexo antes do casamento. Precisa, segundo ela, entrevistar pessoas na rua para concluir um trabalho de pesquisa que lhe passou um sabidamente afoito professor. Penso um pouco. Afinal, não é fácil responder perguntas assim, ainda mais nos dias em que vivemos e quando a este respeito não se pensa muito: se faz. É mais prático e se consegue economizar alguns neurônios para serem gastos em coisas mais importantes.
Por isso imagino que o professor da aluna deve ter ido para a cama meio sóbrio na noite anterior em que pediu tal pesquisa. Não deveria, por certo: melhor que regasse seu sono com alguns goles de uísque e não teria levantado no dia seguinte com uma besteira dessas na cabeça.
A moça insiste, e a minha mulher, que está ao meu lado, me olha desconfiadíssima. Meio sem jeito, respondo então que nada tenho contra o sexo antes do casamento, mas desde, é claro, que tal não atrase a cerimônia e fiquem aí os convidados a ver navios, como se estivessem em uma solenidade de espera, e não em uma cerimônia de matrimônio. Isto não seria bom: além de ser horrível o amor assim às pressas, os recém casados já partiriam para a nova vida a dois marcados pelo estigma de serem deselegantes com os seus padrinhos.
Acho que a moça se aborreceu com essas considerações. Tanto é que foi embora. Pena: se sozinho eu teria então outras coisas para falar sobre o sexo, antes, durante, depois e até nas entrelinhas do casamento. E mais, que sobre o casamento eu me considero um autodidata: há tempos aconselhei um amigo, de quem fui padrinho depois, que não alongasse muito o seu noivado, pois isso daria tempo à sua amada de conhecer melhor o seu caráter, e isto, ao que ele e eu sabemos, não seria nada aconselhável antes do matrimônio.
Hoje, nesta nostalgia sexual que me persegue, penso que eu já não poderia dar muitos conselhos sobre sexo no casamento, pois vejo hoje as mulheres com o olhar de um ginecologista. Digo mais: quando as encaro, posso me ver de batina, vestindo grossas sandálias e com uma coroinha na cabeça. São, na verdade, o meu ganha-pão: quando falo sobre elas – me confessa uma dedicada leitora – as pessoas gostam e assim vou garantindo o meu emprego no Debates em Rede.
Também não é verdade que perdi, ao longo desses anos, o interesse pelo casamento, como me acusa um amigo, talvez um pouco menos feliz do que eu e justamente porque é casado com uma senhora insuspeita demais para parecer tão tola: não sei se estava brincando, mas há dias ela me disse que todos os homens deveriam se casar um dia, pois é só com o casamento que as mulheres se realizam completamente. Sim, nós, os homens, só viemos ao mundo para realizar as mulheres, assegura ela. Ao ouvir isso, senti um desejo enorme de voltar ao útero de minha mãe, pois só assim teria a impressão de que uma mulher veio ao mundo para me realizar. Mas só pensei, nada disse, que tanto fique bem claro.
Não devo ser mais longo, até porque sexo e casamento são temas que os tempos modernos tornaram até certo ponto insossos. E se há algum leitor solteiro acompanhando essas bobagens que escrevo, não imite este quadrúpede à frente de pergunta assim da estudante de psicologia: nada contra o sexo antes do casamento, mas desde, é claro, que não haja casamento...
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