Por Ricardo Coelho dos Santos
Há um paradigma geral de que a tecnologia é ligada a equipamentos eletrônicos sofisticados. Então, tecnologia passa a significar Vale do Silício e grandes empresas como Apple, Microsoft e Samsung. Alguns dão passos a mais e citam, sem erro, as indústrias automobilística e de aviões. Os resultados da tecnologia são sondas e naves espaciais, aviões e automóveis cada vez mais seguros, computadores, aparelhos celulares e para entretenimento como televisores e vídeo games.
Também não erra quem inclui remédios, sistemas de segurança e brinquedos.
Porém, o que muita gente, mesmo esclarecida, esquece é que tecnologia envolve também itens do nosso uso cotidiano: alimentos, vestuário, materiais de escritório, construção civil e muitas coisas mais. Por exemplo, o lançamento de um novo refrigerante envolve química de alimentos, pesquisa de mercado, marketing e publicidade. Tudo isso é tecnologia. Uma embalagem de produtos também envolve pesquisas. Alguém, por curiosidade, já viu a composição de uma caixa de leite longa-vida ou de um pote plástico de maionese?
Tecnologia é tudo o que usamos baseado na ciência em favor de um resultado prático. Para um produto ser aceito, ele deve atender a uma requisição de mercado. Muitas vezes, a necessidade é evidente e conhecida. Outras vezes, ela é antevista pelos visionários que fazem o nosso mundo. Podemos dar dois exemplos respectivos: o Viagra e o iPod.
Então, para o desenvolvimento da tecnologia, é necessário ter visão de mercado e estudos que envolvam não somente a resposta requerida como outras variáveis como questões ambientais, econômicas e sociais, pois, numa época em que os empregos, mesmo os especializados, estão em falta, governos inteligentes certamente incentivam a criação de novas frentes de trabalho através de novas produções e é sobre isso que dará prioridades de investimento.
É nesses momentos em que os Centros de Tecnologia entram como partícipes fundamentais no processo. Um centro completo não só é capaz de fornecer condições de todos os estudos necessários como também provém de laboratórios e simuladores numéricos para as análises físico-químicas da inovação, o que gera enormes economias e muita segurança até o lançamento do produto.
No Espírito Santo, fora os centros acadêmicos federais, não podemos dizer que haja sequer algo próximo a um Centro de Tecnologia. O que mais se aproxima a isso é honrosamente a TecVitória, com dois simuladores em 3D, várias empresas sendo incubadas e com disposição de aceitar desafios de todas as espécies, conhecimentos sobre as várias linhas de financiamento e, acima de tudo, um enorme grau de confiança no mercado de inovação, incubação e acadêmico. Com várias dificuldades causadas pela falta do devido reconhecimento, essa importante entidade consegue fazer o seu trabalho.
Porém, a falta de laboratórios destinados ao mercado fabril no Espírito Santo é, dentro do processo de inovação industrial, um entrave gigantesco. Não há, no estado, nenhuma política metrológica sólida para que os produtos sejam testados dentro dos necessariamente rigorosos padrões do INMETRO e API. É inaceitável que para se certificar que um produto agrícola esteja isento de agrotóxicos, se recorra a laboratórios em Pernambuco.
Particularmente, no caso capixaba, há um sério agravante. O Espírito Santo é tão descrente com sua própria capacidade de inovação que entre alguns industriais e políticos costuma-se escutar que “aqui não vai dar certo”.
Mas há muitos que acreditam no estado. Tanto que aqui funciona o Fórum Capixaba de Petróleo e Gás, formado pela Federação das Indústrias, Governo do Estado mais Petrobras e Shell, com a participação ativa de entidades acadêmicas e de fomento, além do SEBRAE e da TecVitória, essa à frente da conexão entre as demandas tecnológicas das grandes petrolíferas e empresas capazes de atende-las. Os atendimentos já geraram produtos que chamaram a atenção de operadoras de petróleo no exterior. Por exemplo, os tubos de injeção de vapor, antes importados, hoje são itens de exportação, inclusive para o país de onde importavam. O detalhe importante é que os tubos capixabas são 65% mais eficientes que os importados. Tal iniciativa alcançou tamanho sucesso que o Ministério das Minas e Energia deseja aplicar igual modelo nacionalmente. Mas, antes mesmo do Ministério, outras iniciativas de replicar o trabalho do Fórum já estavam sendo estudadas.
O sucesso dessa iniciativa se deve à capacidade dos industriais do Espírito Santo de aceitar o desafio da inovação, juntamente com a crença das demandadoras sobre tal. Isso independe do tamanho da organização que aceita tais desafios ou do tamanho do desafio em si. A bomba de fundo de poço, equipamento somente fabricado por grandes organizações estrangeiras, está sendo desenvolvido aqui por uma microempresa. E não é um caso isolado: hastes de bombeio, placas de trocadores de calor e outras demandas estão sendo desenvolvidas no ritmo que se permite sem um Centro de Tecnologia. E, mesmo assim, outros estados como o Rio Grande do Norte e o Rio de Janeiro já correram para o Fórum a fim de solicitar atendimentos de suas demandas de petróleo e gás.
Se o Espírito Santo já conseguiu isso sem um Centro de Tecnologia, o que conseguiria com um? Alguns cinicamente diriam que as conquistas capixabas só foram feitas porque não temos o Centro. Essa é uma resposta comodista ou de quem luta pela estagnação do nosso estado — personagem que, infelizmente, existe no nosso estado. Esse mesmo personagem diz que o Espírito Santo não precisa de qualquer coisa voltada à pesquisa em Petróleo, uma vez que, perto, no Rio de Janeiro, há vários centros no Fundão, voltados à essa matéria, capitaneados pelo CENPES – Centro de Pesquisa Leopoldo Miguez de Mello, da Petrobras. Entretanto, essa não é a opinião do próprio CENPES, pois as demandas de Petróleo e Gás estão cada vez maiores e eles precisam de parcerias tecnológicas de todo o país.
Há iniciativas válidas para a construção de um Centro Tecnológico nas cercanias da UFES. Porém, há muitas promessas para cada pequeno passo que é dado. E esses passos estão surgindo com mais de dez anos de defasagem. Estamos muito lentos e com políticas contrárias à sua realização.
Precisamos realizar mais pesquisas em Petróleo e Gás, Alimentos, Vestuário, Móveis, Pedras Ornamentais, Gastronomia, Siderurgia, Transporte, Agropecuária, Turismo e tudo o mais que o Espírito Santo produz. A centralização se torna necessária pois as soluções podem atender a mais de um segmento industrial.
Nossas conquistas geram tão bons resultados que a Embrapii já se instalou no Estado. Iniciativas, temos muitas. Devemos dar continuidade o mais rapidamente possível.