Em tempos de Eike Batista, parece que diploma universitário só serve para não "se ir para a cadeia". Pelo menos, foi esse o senso comum que eu mais ouvi nesses dias em que um Eike careca aparecia em todos os jornais. Em tudo ele me lembrava o Lex Luthor. Milionário decadente, foragido da polícia. Não sei se Luthor tinha alguma formação. Lá em Metropolis, ao que parece, isso não importa. Aqui no Brasil, importa se vai ou não para o Ary Franco. O resto, que se dane.
Antigamente, diploma universitário servia como distinção. Não que ainda não o seja, hoje em dia, mas, em uma país de analfabetos, era o caminho para se virar doutor. Sem ter doutorado. Coisas do Brasil, país bacharelesco, cujos primeiros cursos, de Direito, foram criados para facilitar a herança dos cargos públicos. Não que isso também não exista nos dias de hoje. Tudo por causa de um decreto do Imperador Pedro I, que outorgou o título de "doutor" aos advogados. Isso, sim, perdura até hoje.
Chegar às universidades era algo tão raro, mas tão raro, que até o legislador processual penal resolveu adotar um "privilégio": separar advogados, médicos, engenheiros de putas, mendigos e o resto da "ralé". Não há outra explicação senão a instituição de um sistema de "castas", que acaba após a condenação transitada em julgado, o que significa: doutor vai preso, sim. Mas, como a lei penal brasileira é permissiva, historicamente, só o restolho ia para a cadeia. Hoje, no entanto, as coisas andam mudando. Tem gente até arrependida por não ter estudado.
Reduzir a importância de um diploma à possibilidade ou não de uma cela especial mostra o desprezo secular que damos à nossa educação. Ter um diploma de curso superior deveria ser encarado não apenas como a coroação de uma vida de estudos, mas como uma forma de atingir o progresso tanto pessoal quanto coletivo. Estar na faculdade é, antes de tudo, aprender um ofício, no mínimo, no que eu sempre me impressionei com universitário colando. Fora que a vida acadêmica é o lugar de se abrir a cabeça, aprender coisas novas, ideias novas, entrar em contato com a diversidade. E saber o que é a tolerância.
Nada disso, ao que parece, tem acontecido. Eu vejo universidades sucateadas, professores em greve. Eu vejo um desprezo pela educação pública. Claro, quem pode, banca um ensino privado. Superior, muitas vezes. Mas o pior de tudo é ver uma geração inteira, que poderia mudar essa mentalidade, literalmente, "cair de para-quedas" nos cursos superiores e, em muitas vezes, sequer saber o que está fazendo ali. O diploma universitário é apenas uma etapa. Rápida, de preferência. E sem muito esforço. Porque eu preciso para conseguir um emprego. Porque, se eu for preso, tenho direito a cela especial.
Em pleno início de século XXI, chegar às universidades, sobretudo as públicas, ainda é algo difícil. Obter um diploma de curso superior, dessa maneira, deveria ser visto como uma conquista, não como um privilégio. É uma lástima encararmos a coisa dessa maneira. Não precisamos de um super-homem para nos salvar dos inimigos. Mas de homens e mulheres comuns, dispostos a contribuir para o progresso que, na minha opinião, tem a educação como único caminho. Enquanto estivermos preocupados em "quem vai ou não para a cela especial", vamos nos afundando, cada vez mais, no abismo da história.