Por Anaximandro Amorim
Historicamente avesso às folias momescas, fiz, como de hábito, meu retiro literário neste carnaval. Na bolsa, levei alguns livros que estava terminando. Porque, melhor que viajar para fugir da folia, é encontrá-la dentro de uma boa história. Sou adepto do bloco do “Eu com o livro” e, desta vez, fui para a avenida com as minhas leituras, que gostaria de compartilhar com você, leitor. Vamos lá:
Um dos livros que mais gostei de ler neste início de ano foi “A livraria mágica de Paris”, de Nina George. Apesar do nome, a autora é alemã. Isso, no entanto, não causa qualquer espécie, pois, tantos foram os estrangeiros que se debruçaram – e tão bem contaram – a Cidade Luz. O romance gira em torno do personagem principal Jean Perdu, sujeito de nome sugestivo (“Perdu” quer dizer “perdido” em francês). Ele é um excêntrico livreiro, proprietário da exótica “Farmácia Literária”, um barco-livraria em que o cliente não compra o livro que quer, mas o que Perdu “receita”. A história muda de figura quando ele descobre a carta de sua antiga amada e começa uma odisseia para encontrá-la e, no final das contas, encontrar-se, também. Uma delícia de livro!
Uma grata surpresa foi “O livro das impossibilidades” de Luiz Ruffato. Nunca tinha lido nada desse autor, apesar de sabê-lo premiado e festejado. No entanto, dois amigos me desencorajaram a leitura. Confesso que levei algum tempo olhando para o livro, tomando coragem. Quando, finalmente, resolvi encarar a obra, fiquei espantado com o que vi: uma linguagem própria, moderna, fragmentada, mas que prende. O livro é o 4º tomo da coleção “Inferno Provisório”. Nele, o autor recria o Brasil dos anos 1960 a 1980, quando o país sofreu uma grande industrialização, mudando radicalmente sua cara – e como isso afetou as pessoas. São três contos (ou seriam novelas?) em que o autor, praticamente, “monitora” a vida de alguns migrantes (todos oriundos de Cataguases, cidade do escritor) nas periferias de São Paulo. Até as gírias da época são recriadas. Muito interessante.
Como não poderia deixar de ser, também prestigiei um autor do meu Estado. Desta vez, foi o jovem Wagner Silva Gomes, com o livro “Classe média baixa”. O título já entrega: a história gira em torno de Tom, um rapaz proveniente de Cariacica, cidade-dormitório da Grande Vitória. Por meio das aventuras desse personagem, Gomes descreve um cenário tradicionalmente afastado dos temas literários, o do subúrbio, com suas agruras, mas sem deixar de lado uma linguagem poética, com bons jogos de palavras. Um bom exemplo de uma literatura dita “marginal” (à margem) que toca ainda mais por ser escrita no Espírito Santo, narrada em paisagens capixabas, como temas capixabas, mas que não deixam de ser brasileiros e, porque não, universais.
Enfim, esses foram os livros que levei no meu bloco de carnaval. Certamente, haverá outros mais. A folia oficial tem data e hora para acabar. A literária não acaba jamais.
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