Por Isabella Batalha Muniz Barbosa*
A trama de tensões que se desencadeiam no contexto das instituições brasileiras e nos estados, pressupõe a urgência de estabelecer a crítica como uma atitude necessária e permanente em relação ao presente e com o significado dele.
A dimensão da crise atinge a todos, de maneira fragmentada, singular e plural. A crise deflagrada em todas as escalas da federação nos remete à reflexão. E como estruturar um pensamento e ensaiar a mudança? Deter-se nos fatos, assim como caminhar pela cidade, é ter o olhar aguçado, detido, é deixar guiar-se pelo corpo sensorial. Incrédulo, o olhar testemunha uma teia de relações onde toda a inteligência pode ser banida, e o corpo encarrega-se dos detritos de um dia capital.
Os fragmentos – sejam de contextos políticos, de cenas urbanas, de imagens midiáticas da violência ficam espalhados como tensores de um enredo subjetivo que se incorpora, porém ainda inacabado. Viver é estar sempre a mercê da surpresa, do inusitado. A violência, não somente física, mas a violação dos direitos, do ir e vir, da mobilidade cm segurança, nos estarrece. Que mecanismos fazem a contrapartida do que lhe parece dominado e comandam processos silenciosos que organizam toda uma rede territorial e sociopolítica?
É verdade que por toda a parte precisa-se de rede de vigilância e controle, mais urgente ainda é descobrir para além do corpo, atado aos diferentes tipos de dominação, uma sociedade inteira submetida às mais sutis e inventivas do poder, organizado ou não, e que como teia se entrelaça de forma perversa nas diversas dimensões do cotidiano.
Nesse sentido, cada caso deve ser contextualizado em seu tempo: Anistias, delações, negociações, resultam de uma complicada acomodação política e estão sujeitas às mudanças circunstanciais do jogo. O cenário nos parece difuso. O assunto técnico é limitado e coercitivo. O “jeitinho” é o drible constante nas soluções que favorece a informalidade e a permanência de arbitrariedades. Diante dos fatos, insurgir-se, revoltar-se, é conforto quando tudo nos parece estar dominado? O poder das instituições permite a revisão de conceitos e da forma de agir tendo por pressuposto a Ética? É preciso adotar uma nova forma de caminhar, de olhar, que desmonte a impotência paralisante da sociedade frente aos fatos.
Considerando que a cidade é sempre um contexto de constante aprendizado, esboçar um diagnóstico do presente momento é possível, mas ainda não conseguimos ir adiante ao dizer que queremos produzir novos modos de existência. Apesar de, a vida tem que seguir.
*Arquiteta urbanista