Luiz Carlos Gouvêa*
Estudos divulgados recentemente atestam que no Brasil há mais de 80% de analfabetos – total, parcial ou funcionalmente improficientes. Estou entre esses, não me sinto constrangido por isso e, sendo assim, espero não causar qualquer transtorno ao tratar de um assunto tão delicado quanto o que pretendo abordar, com todas as minhas limitações.
Fato é que não estou conseguindo aceitar os argumentos dos nossos (será?) parlamentares e outr@s ocupantes de funções palacianas quando o assunto é a tal atualização/adequação das leis aos novos tempos, quando a grande maioria deles “ainda são os mesmo e vivem como viveram os seus pais”. Aliás, parece-me nítido que partindo de premissas ultrapassadas prometem um paraíso para os dias que virão.
Poderia eu querer questionar todas as aprovações “forçadézimas” que já garantiram mas, para não me permitir ficar demasiadamente irado e sofrer abalos emocionais e tornar-me vítima das reações do meu próprio corpo, vou me fixar em uma única matéria: a reforma da Previdência.
Preocupante porque, seja qual for a causa, sabemos que o maior incentivo ao aprendizado é o exemplo e, neste caso, os nossos (?) exemplares parecem ser da pior qualidade disponível no mercado, isto é, pessoas indignas da convivência com @s brasileir@s de verdade.
Cruel, lamentavelmente cruel, é imaginar que as decisões que estão tomando, sempre em regime de urgência, sem diálogo, com aquela aparência de “estouro da boiada” (efeito manada), muito provavelmente transformará a maioria das crianças de hoje em não-cidadãos, seres com nada a perder e, nessas condições, quando consideramos que, para quem não tem nada a perder, matar ou morrer tem o mesmo significado (cruzes!)… Salve-se quem puder, inclusive @s filh@s e demais amad@s (que amor é esse?) desses parlamentares e outr@s ocupantes palacianos e seguidor@s.
Penso que seja prudente e indispensável identificar os grupos envolvidos. Tomando como base os 513 representantes (u q?) da Câmara dos Deputados, é possível separá-los em três blocos de “um-sete-um”, a saber:
- Há um bloco, o menor deles, injustamente qualificado como tal pois há quem considere que “é tudo farinha do mesmo saco”; mas esse grupo, apesar de pequeno é formado por gente que desfila virtudes, exibe respeito, pratica justiça, é gente do bem e, por isso, merece toda a nossa admiração e respeito;
- Um bloco intermediário, expressivo apenas em termos numéricos, funciona apenas sob o efeito manada, só faz o que lhe mandam fazer e, enquanto sonham ascender ao implacável 3º bloco, sobrevivem (muito bem, diga-se de passagem) das migalhas e restos, muit@s porque fazem parte daqueles 80% de analfabetos brasileiros e outros tantos por puro desvio de caráter, pela desonestidade levada a sério demais.
E, por fim, o grupo que hoje domina o cenário, seres dotados de todas as desqualificações imagináveis, acrescidas de outras tantas que nem o mais notável criador de histórias de horror é capaz de criar e/ou supor e, distinguem-se dos demais, pois são especialistas em golpes, armadilhas, criação e produção de lacunas jurídicas, fofocas, acusações e destruição de direitos adquiridos pelos menos favorecid@s; a grande maioria se considera “donatári@ vitalíci@” e, infelizmente, pelo elevado grau de analfabetismo político da população, ocupam os cargos há tempos e, para confirmar a Lei de Murphy, encaixam seus descendentes mais imediatos nas mesmas condições;
- Vale lembrar que há representantes desses três grupos em todas as esferas do poder e em todos os cantos, recantos e encantos do Brasil.
Dito isso, quero chegar à badaladíssima reforma da previdência, apenas para indagar: que fatos concretos podem ser apresentados para comprovar essa verborragia dominante no Congresso Nacional? Como será possível garantir a aposentadoria e outras proteções sociais sem garantir a empregabilidade e a conseguinte contribuição para a proteção social? É tão difícil assim imaginar que, com um número decrescente de contribuições, a capacidade da proteção social cumprir seus objetivos será comprometida?
E mais, creio que não seja necessário nenhum esforço sobrenatural para compreender que as novas tecnologias promovem o desaparecimento de empregos. Mas, vamos lá:
- as máquinas usadas para semear e/ou colher não substituíram dezenas de milhares de pessoas nos campos agrícolas?
- os robôs não substituíram milhares de pessoas nas fábricas?
- grandes proprietári@s rurais não substituíram dezenas e mais dezenas de milhares de trabalhador@s rurais por mastodônticos e valiosíssimos equipamentos?
- quantos empregos desapareceram com os grandes veículos de transporte coletivo e com o sistema de bilhetagem eletrônica?
E a chamada inteligência artificial, cada dia mais presente: centros comerciais que precisam de um mínimo de funcionári@s, transações comerciais online, veículos autônomos circulando sem a intervenção de ocupantes, eletrodomésticos independentes, centrais automatizadas para atendimento público, entre outras infinitas aplicações já presentes no nosso cotidiano e outras que já estão chegando…
Pois é, “tudo isso acontecendo” e esse pessoal, total e irrestritamente comprometido com o grande capital financeiro, especulativo, absolutamente nem um pouquinho preocupado com quem realmente trabalha, prometendo o paraíso com a retomada do crescimento e geração de novos empregos, direcionando a maior quantidade possível de maldades legalizadas nos bastidores do Congresso Nacional (e sabe-se lá e quais outros redutos da orgia sádica), sem qualquer iniciativa real para a recuperação da economia do País e, assim, apenas retirando conquistas em prol dos abutres e fortalecendo a incontestável maldição representada pela crescente concentração de renda.
Resta-nos tentar decifrar se fazem isso pelo mais genuíno analfabetismo ou pela mais completa desonestidade levada a sério demais.
*Luiz Carlos Gouvêa é desenhista de móveis.
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