Por Odmar Péricles Nascimento*
Nesses tempos de vexame, em que a nação deprime e cabisbaixa carrega o signo da desesperança, ouve-se muitas expressões do tipo: “não vai dar em nada mesmo!” ou “agora que não voto mesmo!”. E ditas num tom que, a primeira vista, parece resolver a questão. Quando de fato, acovarda.
Noutra estranha manifestação, há quem busque comparar a crise no ambiente democrático com o silêncio dos tempos de exceção, do coturno e baioneta militares. Ora, não há comparação entre tempos tão distintos. Foi naquele tempo do silêncio e da força que tudo começou. Sem fiscalização, denúncia ou repercussão na sociedade, as estratégias empresariais criaram asas, agigantaram-se e viciaram-se nisso. Estado e capital se abraçaram. Foi o capital que financiou o golpe e sustentou a ditadura. E no Brasil é o Estado que sustenta o capital.
Preferível a liberdade da informação. Saber das mazelas, das maracutaias, vícios e “pilantropias” com as quais o poder se sustentou até então. Melhor saber que não saber. Se sabendo, indigna-se, reage-se, intervém-se, participa-se e transforma-se.
O maior escândalo da república teria sido o mensalão. Espécie de mesada paga a determinados grupos no parlamento, em troca de votos nos projetos do governo. Foi denunciado em 2006 e o Supremo Tribunal Federal ocupou sete longos anos para concluir os inquéritos. Joaquim Barbosa com sua toga, tornou-se herói sentenciando políticos, marqueteiros e empresários. Aqueles julgamentos desmantelaram esquemas, levando ao cárcere, dezenas de personagens da recente história da política brasileira. Além de produzir musculatura para a democracia e suas instituições no Estado de Direito.
Surge então a “delação do fim do mundo”, que mais parece o fim do mundo mesmo. Delações e delatores revelando novo modo de apropriação do Estado, prosperado pela relação nada republicana dos praticantes do jogo do poder. Crime de lesa pátria, assalto ao cofre estatal. Foram confrontados pelo aparelho reparador do Estado: Polícia Federal, Ministério Público Federal, Receita Federal e instâncias do Poder Judiciário. Endinheirados empresários corruptores, presos e sentenciados na “Operação Lava-jato”. Na próxima etapa estarão os corrompidos, submetidos ao devido processo legal, justo e esclarecedor, legitimando a pena ou a absolvição.
Graças ao regime de justiça e liberdade, e numa sociedade democrática, é que essas coisas vão transparecendo, mostrando as entranhas e seus demônios. Caranguejos na panela quente, se tentar sair outro puxa, até cozinharem.
De fato, a jovem nação e sua novíssima democracia. Experimentando seus percalços, superando-os e indo buscar lugar seguro. A verdade é que existe a solução e ela galopa em direção à tomada de consciência, popular e coletiva. É no esforço e fortalecimento da organização social que reside o sentimento da mudança. Seguindo com fé no civilizatório rumo do futuro.
* Sociólogo, articulista na área de sociologia política para Debates em Rede.
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