Por Fabrício Augusto de Oliveira*
Se a expectativa de que a situação econômica do Brasil começava a se tornar menos sombria com a divulgação, pelo Banco Central, de que o PIB cresceu 1,12% no primeiro trimestre do ano, e, pelo IBGE, de que o mercado de trabalho voltou a gerar empregos líquidos, a notícia de que o presidente Temer teria incentivado a empresa JBS a continuar dando um “cala boca” a Eduardo Cunha, desfaz qualquer otimismo que porventura aqueles números tenham trazido.
Não que os resultados divulgados tenham sido excepcionais. Mas para um país que deixou de ver o sol do crescimento desde o segundo semestre de 2014 e que conta, atualmente, com uma legião de mais de 14 milhões de desempregados, começar a enxergar que existe pelo menos um túnel do qual possa sair alguma luz, não deixa de ser um fato auspicioso.
Assim, mesmo que o mercado e as instituições internacionais continuem projetando que o crescimento este ano não deve ir além de 0,5% e de que o desemprego continuará aumentando até que a recuperação se torne mais consistente, ainda assim, não há como negar, que essa onda de otimismo estaria plenamente justificada. A queda dos juros juntamente com o declínio da inflação tornava ainda mais concreta essa possibilidade.
Contava-se, ainda, para dar maior consistência a essa trajetória e para impulsioná-la, com a conclusão das reformas – trabalhista e previdenciária – que tanto agradam o mercado, mesmo que boa parte de seu ônus esteja sendo lançado sobre as categorias profissionais menos protegidas e sobre os mais pobres. Sem elas, todos os esforços que estão sendo feitos para cobrir os atuais desequilíbrios fiscais e o excessivo endividamento do pais, frustrar-se-iam, podendo rapidamente reverter este quadro de moderada recuperação que se tem desenhado neste início do ano de 2017.
Com a delação premiada da JBS, que atingiu o coração do Palácio do Planalto, todo este cenário deve ser, irremediavelmente revertido, com o país reingressando em um novo período de turbulências e de incertezas. Muito provavelmente, as reformas, especialmente a da Previdência, que não contava com tantos defensores, deverão ser deixadas de lado, até por que não deverão contar, não se sabe por quanto tempo, com um presidente que tenha alguma legitimidade para capitaneá-las. Junto com isso, os maus humores do mercado, que já se manifestaram, promovendo um overshooting do dólar e derretendo a bolsa de valores, não devem dar trégua tão cedo aos gestores de política econômica em seu objetivo de acalmá-lo e de estabilizar as expectativas dos agentes econômicos.
Temer nunca foi – e continua não sendo – confiável para o povo brasileiro, tanto que seu índice de aprovação não passou de 10%, devendo cair ainda mais. Desde o início, cercou-se de notáveis enrolados na Operação Lava Jato, muitos dos quais caíram com o avanço das investigações, e continua mantendo entre seus quadros não poucos ministros submetidos ao mesmo processo, prometendo manter sua remuneração caso se tornem réus e tenha de afastá-los. Não reunia, assim, nem antes, nem depois, qualificação, competência e liderança para tirar o Brasil do buraco em que foi jogado por governos passados.
Segundo um pensador, a economia é um assunto sério e complexo demais para ser deixado nas mãos de amadores e aventureiros, pois, quando mal administrada, principalmente por agentes sem o mínimo de legitimidade política, prejudica milhões de pessoas, causando enormes prejuízos para o país. Temer teria feito bem para o Brasil se tivesse, desde o início, renunciado de seus interesses e ambições pessoais e recusado o papel que continua anunciando de “salvador da pátria”. Não fez isso e novamente colocou o país à deriva. Tem agora a segunda oportunidade para fazê-lo.
* Doutor em economia pela Unicamp, membro da Plataforma de Política Social, colaborador do Debates em Rede e O Beltrano, e autor, entre outros, do livro, “Política econômica, estagnação e crise mundial: Brasil, 1980-2010”.
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