Por Guilherme Henrique Pereira
A construção de um crime administrativo para votar um impedimento, sob a motivação política principal de assumir o Poder Executivo para “estancar a sangria”, abria a janela para deixar previsível a possibilidade do Brasil perder o rumo. Exatamente, o que assistimos agora. O que surpreendeu foi a velocidade em que ficou demonstrado o carácter do novo Presidente. Aliás, sua saída em campanha para derrubar sua parceira de chapa, já sinalizava sua mediocridade. Mas, e de novo, o que surpreendeu foi a escala de sua capacidade para vender facilidades, ao ponto de ter um assessor para carregar a mala de propinas.
A chapa já era acusada de crimes eleitorais. Em condições normais dificilmente perderia o mandato pelas acusações listadas. De fato o processo instituído para “encher o saco” já estava arquivado, quando para “ encher o saco” de novo, foi desarquivado e desacelerado o quanto possível. Só não estava no planejamento sair de controle e vir a julgamento quando o rei está totalmente nu e já sem apoio do Congresso, muito menos da população, aliás, neste meio ele nunca obteve desempenho digno de nota.
No entanto, hoje, o maior obstáculo para uma solução da crise política está na de inexistência de um nome que se disponha ou que seja viável para cumprir um mandato tampão. Este é o cenário indesejável: um presidente em vias de ser processado e preso, uma equipe de ministros fraca e também, a maioria deles, investigados e escondidos no cargo para gozar de foro privilegiado. Situação também dominante no Congresso, ao ponto de faltar coragem e dignidade para votarem o impedimento. Impedimento que não resolverá a crise, porque não temos ninguém para ser eleito. Daí, aguardarem todos a decisão do TSE. Quem sabe uma cassação nos livre de assumir a responsabilidade? Esperança dos atuais congressistas. Infelizmente não é cenário. É realidade.
Será que o TSE vota a favor da cassação da chapa Dilma/Temer? Parece pouco provável pela falta de história a respeito e pela imensa responsabilidade a ser assumida por apenas 7 pessoas. A manobra de separar o processo e livrar a cara de Temer, essa é tão absurda que não deve ter votos, afinal, ele foi beneficiado. Livrar-se e ainda ficar como prêmio a presidência, será muito esquisito, assim como os prêmios recebidos pelos irmãos Batista. Além disso, um dos ministros do TSE (Ministros do TSE deveriam falar só “nos processos”, mas por aqui são fontes da imprensa comercial e adoram as frases bem elaboradas em busca de encantamento dos ouvintes) declarou que a Justiça não é para resolver o problema político. Muito bem, então faça a justiça.
Também é pouco provável que Temer continue. Algumas pessoas dizem que Temer, apesar da avaliação péssima obtida nas pesquisas de opinião, ainda tem boa base de sustentação no Congresso. Isso parece não corresponder a realidade, porque só alguns poucos malucos insistem em ficar no rio para receber abraço de afogado, vide casos Collor e Dilma. O que tem apoio no Congresso são os projetos das chamadas reformas, que a publicidade vendeu muito bem como bom para o Brasil. Não é o Presidente que tem capital político para votar esses projetos, são os grupos de interesse que de algum modo se beneficiarão com elas. Por isso, poderão ser aprovadas, mas, não significa que o Temer tem força política.
Assim, após a votação das reformas, é completamente incerto o que acontecerá. Um presidente que insiste em se manter no cargo de tal modo que já lhe vale o título de o Teimoso - para ser generoso e não dizer “ cara de pau” -, sem apoio político, sem ministros de peso (bons currículos não querem entrar nessa incerteza e roubada), sem programa de trabalho para o Brasil, apenas defendendo interesses pessoais. De outro lado um Congresso que pode cassá-lo, mas, não o faz porque ninguém com densidade política consegue se colocar como aceitável ou deseja a tarefa.
Ainda, não apareceu no horizonte uma possível solução para a crise política. O que deixa os ditos comentaristas de economia da imprensa comercial malucos em suas narrativas catastróficas de que a recessão não terá fim. A dinâmica econômica tem suas próprias determinações e pode retomar uma trajetória de recuperação, embora, os descaminhos da política sempre provocam oscilações de curto prazo, muito ao gosto dos especuladores do mercado financeiro. Um grupo que sempre ganha com as incertezas do mundo real.