Por Anaximandro Amorim*
“Prova de Língua Portuguesa. Questão Única: Conjugue qualquer verbo, em qualquer tempo e em qualquer modo”. O menino, chegando à adolescência, não se fez de rogado. E, de todos os verbos do nosso idioma, conjugou, perfeitamente, no presente do indicativo, o verbo “peidar”. Nota zero. Mas não estava tudo correto?
Longe de mim escolher um verbo como esse para responder uma questão! Na minha vida estudantil sempre fui da turma dos “certinhos”, dos “CDFs”. Mas, confesso, eu também já tive meus problemas. E eles sempre foram com questões objetivas! É injusto tentar interpretar aquilo que alguém já interpretou. É como mastigar comida que já foi mastigada. E o pior é que eu sempre tive aquele colega que conseguia. Tem gente que tem o dom da premonição, só pode!
Também nunca me dei bem com números. Na minha família, há uma história de que, quando criança, eu via os Telecursos e ralhava por não entender o de matemática. Deve ser trauma de infância, mesmo, pois até desisti de uma pós por ter cálculo. Se matemática é uma língua, nunca fui capaz de falá-la direito. Sobrevivi e cheguei até aqui. Fazer conta sempre foi uma tristeza. Dissertar, no entanto...
Tudo isso ilustra como nossa educação seria melhor se ela fosse medida não em números, mas em talentos. Em uma prova de História, o professor pediu para que o aluno resumisse a Segunda Guerra Mundial. Ele não se fez de rogado: “rá-tá-tá-tá-recua-recua-boom”. Nota zero, mas com um elogio do mestre quanto à criatividade do discípulo. Se fosse numa questão de redação, talvez. Ou não. Tudo dependeria da temível "chave de resposta”.
Certa feita,vi numa rede social o recado de uma professora, antes de uma prova, para seus alunos. Resumindo, era algo como: “Sei que aqui há futuros médicos, advogados, professores, confeiteiros, atores, jogadores de futebol. Isso aqui é apenas uma prova.” Ponto para ela. O menino da prova de História é um escritor nato. O da prova de Português, um talento para a comédia. Este, então, nem precisou ir tão longe quanto o primeiro. Em tempo: o zero se deu porque a professora entendeu que “peidar” é palavrão. Será? E se fosse? Não era qualquer verbo, em qualquer tempo e em qualquer modo? Definitivamente, a escola não é para os outsiders.
*Advogado e Escritor.
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