Por Aylê-Salassié F. Quintão*
Manter a pressão política em alta, e o Presidente da República acuado. Acuar Temer, aprovar os arremedos das reformas e convocar as eleições. Qualquer outra alternativa ou aventura pode levar o País à bancarrota e prolongar a agonia da Nação. Esta parece ser a estratégia comum entre corporativistas, partidos da oposição e situação, advogados e procuradores. Cada segmento joga na esfera da sua competência. “Enquanto houver bambu vai ter flecha". De onde partiu essa declaração metafórica, altamente ameaçadora das instituições? Pasmem! Do Procurador Geral da República, Rodrigo Janot, falando para jornalistas de todo País.
A declaração revela uma total irresponsabilidade e uma ausência de profissionalismo, principalmente partindo de alguém com prerrogativas constitucionais quase ilimitadas. Revela , contudo, um perfil doentio de quem sabe que o dia seguinte da perda do cargo (e do Poder) é terrivelmente depressivo. O curioso é que, para acima disso, Janot deixa transparecer o espírito corporativista da Procuradoria. Em nome da fiscalização da aplicação das leis, os eles parecem ter certeza de que são deuses. Quantas injustiças esses procuradores, individualmente, têm cometido, não em nome da Lei, mas de interesses políticos, por vaidade e até por orgulho ferido. A sede da Procuradoria é um Olimpo. Aliás, tem mesmo o formato do monte lá do Peloponeso.
É certo que Lênin defendeu um partido do proletariado, mas não esqueçamos que o corporativismo foi quem manteve o fascismo (nazismo) no Poder. Portanto, há um jogo explícito atravessando o caminho do retorno do País à normalidade, cuja desorganização foi provocada exatamente por esses entes corporativos que aí estão instalados no submundo do processo da Lava jato. O Temer pode ser corrupto, mas quem não é? O Rocha Loures, o Geddel, o Jucá, o Padilha , o Renam, o Aécio, o Dirceu, o Palloci, o Mantega, o Lula e até a Dilma – de quem se esperava mais como revolucionária - todo esse povo chefiou juntos governos , supostamente de esquerda, anteriores. São pessoas de perfil político inconstante, que se instalaram no espaço do Estado para tirar dele vantagens pessoais.
O Temer foi ao casamento do Joesley, mas o Lula e a d. Marisa também estavam lá, e, quer-se crer, que foram até padrinhos do casamento. E o nosso atual ministro da Fazenda que foi presidente do grupo financeiro da JBS. Ninguém fala nele. Parece tão acuado quanto o Temer. Nessa altura ressuscitar as reformas serviria para enterrar essas discussões indigestas, tal os interesses que as permeiam, e nãos propriamente os propósitos fiscais.
Acuar Temer com a delação da JBS tem vários sentidos. O primeiro é enterrar a delação da Odebrecht, cujos relatos sobre a corrupção dentro do Governo contra o Partido dos Trabalhadores, o próprio Lula, é muito explícita. Segundo dar cobertura a aparente instabilidade do Procurador que, de uma forma ou de outra, parece querer vingar-se de Temer, desde o início quando foi acusado de fazer um acordo de delação, quase particular, com Joesley.
Terceiro, impedir a reforma trabalhista, nos termos que estão dados, sobretudo para evitar a suspensão da contribuição sindical compulsória dos trabalhadores, que é o que dá vida aos corporativos, injetando , anualmente, R$ 3 bilhões nessas categorias , dinheiro que os mantém mobilizadas. São 15 mil sindicatos indiferentes a tudo e a favor apenas dos interesses dos seus dirigentes. Quarto, os partidos e os políticos estão nadando de braçada com suas emendas ao Orçamento, e os negócios particulares dos seus membros, aos quais o governo tende a abraçar para sobreviver. São quase 600 parlamentares e 27 governadores. Isso é um assalto à Nação.
Há uma corrente de corrupção histórica e hoje endêmica que corrói as estruturas do Poder e que avança sistematicamente para as esferas privadas, haja visto esses grupos empresariais desconhecidos tendo seus diretores presos pela Polícia Federal, e que financiam o submundo da criminalidade, sindicados e políticos, envolvendo, num mesmo saco uma gama variada de tendências oportunistas, aparentemente todos fugindo do Sérgio Moro.
O mais conveniente seria manter mesmo o Temer, até setembro, quando cai o Janot ?!. Mas, como atravessar o agourento mês de agosto? Aprovam-se as reformas , que poderão trazer mais confiança ao País, e pronto, chega-se a eleição, e elege-se um novo Presidente da República. Janot parece querer ser o porta-voz de tudo isso: dividindo em três partes o processo contra o Temer. É o seu último grito. A confiança nele está, entretanto, abalada desde que se afastou publicamente de Lula. Teve de construir seu próprio Poder, como Zeus, no Olimpo. Tem perfil de inquisidor. Mas, ao contrário, seu narcisismo é tão evidente que, parece, todos se livrarão dos processos iniciados por ele. É muito alto o preço pago pela Nação para alimentar esse conjunto de pessoas doentes gerenciando a máquina do Estado.
*Jornalista, professor, doutor em História Cultural