No dia 01 de fevereiro de 2012 o Banco Central iniciou o Programa de Gerenciamento Externo de Reservas (PGER). A gestão externa das reservas tem por objetivo diversificar e dar maior flexibilidade aos investimentos relacionados com as reservas cambiais e absorver o conhecimento do mercado sobre as aplicações financeiras no mercado mundial [1]. As reservas internacionais são ativos externos em moeda estrangeira sob controle do Banco Central, com objetivo de financiar desequilíbrios externos, ou seja, quando há déficit no Balanço de Pagamentos, bem como regular o nível da taxa de câmbio mediante atuação no mercado de câmbio.
Para atuar no PGER foram selecionadas em 2012 seis custodiantes que atuam no mercado mundial, com uma gestão de US$ 1 bilhão cada, a saber: Black Rock, Deutsche Asset Management, Pacific Investment, Schroeder Investment, State Street Inv. Management, Wellington Invest. Manegement [2]. Em 2016 o Banco Central abriu novo edital para que seis novos custodiantes sejam selecionados para operarem com as reservas internacionais brasileiras. A remuneração dos operadores está ligada à uma taxa fixa e uma outra taxa variável.
Além disso, parte das reservas internacionais brasileiras são aplicadas no Bank of International Settlements, o BIS Investiment Pool (Bisip). Essas aplicações são compostas por títulos da dívida norte-americana vinculados à inflação ou composto por títulos governamentais chineses. Apesar de terem valores expressivos, o PGER e o Bisip somados compõem menos de 2% do total das reservas internacionais brasileiras, que no final de 2015 estava estimada em US$ 368,7 bilhões. A somatória dos recursos utilizados via gestão interna, PGER e Bisip é o total das reservas internacionais.
Por outro lado, na gestão interna das reservas cambiais, a Diretoria Colegiada do Bacen avalia o risco e o retorno dos investimentos com as reservas cambiais, levando em consideração a segurança, liquidez e rentabilidade para fins de conseguir promover a cobertura cambial da dívida externa bruta. Por estas razões tratam-se de investimentos de caráter mais conservador.
Há dificuldades para se obter dados mais desagregados sobre a gestão externa das reservas internacionais na página do Banco Central, fazendo-se aqui coro a um problema já levantado por outros autores, como Fernando Nogueira da Costa [3]. Alguns dados estão na tabela 1.
Tabela 1 – Alguns Indicadores sobre as Reservas Internacionais Brasileiras
Valor em US$ bilhões
Comparativamente ao total, entre 2012 e 2015 houve maior diversificação dos investimentos no PGER, tanto nas aplicações em moeda (dólares americanos), bem como nos investimentos classificados pelas agências de rating como “Aaa”, ou seja, títulos avaliados como de baixo risco. Quanto maior a participação em dólar, a moeda mundial, menor tende a ser a exposição a riscos de variações do movimento da economia internacional, tais como mudanças nas taxas de câmbio e de inflação. Deste modo, o total das reservas está, em tese, menos exposto às flutuações que os valores aplicados pelo PGER.
Neste mesmo intervalo temporal, as reservas internacionais reduziram-se em 2,6% ao passo que o PGER diminuiu em 4,6%. Em 2012 e 2013 os ganhos do PGER superaram os do total das reservas, resultado atribuído aos ganhos obtidos no mercado acionário, que se encontrava em momento favorável [1]. Já em 2014 e 2015 houve prejuízo em ambos, porém em maior magnitude no PGER. Em vista dos resultados não favoráveis no último biênio seria possível questionar a utilização de recursos públicos, que são caráter estratégicos, em busca de valorização pelo setor privado? Em que medida a seleção de novos custodiantes poderá contribuir para a gestão das reservas internacionais?
A posição do Brasil em relação às reservas internacionais pode ser vista em dois planos. No primeiro, o país está entre as economias mundiais com maior estoque de reservas cambiais, o que lhe possibilita uma ideia de certo alívio no trato com as contas externas. No segundo, o Brasil encontra-se dentre os piores resultados na relação entre as reservas cambiais e o Produto Interno Bruto (PIB), o que traz desafios para o manejo da política econômica. Nestas relações, encontra-se em discussão o papel do setor público e privado no manejo das reservas cambiais em um contexto de aprofundamento da grava crise interna.
Notas:
[1] BANCO CENTRAL DO BRASIL. Relatório de gestão das reservas internacionais. Brasília: Banco Central. Vários anos (2016-2013). Disponível em:
[2] BANCO CENTRAL DO BRASIL. Programa de gerenciamento externo de reservas. Sem data. Disponível em:
[3] COSTA, F. N. Gestores externos de reservas cambiais. Disponível em:
* Daniel Sampaio é professor do Departamento de Economia da UFES.
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