Por Anaximandro Amori*
Eu nunca conheci um xará nesses quase quarenta anos de vida. Também, pudera: Anaximandro não é um nome que se encontre em cada esquina. Acho que, dos meus amigos e familiares, eu fui o primeiro (e quiçá o único) Anaximandro que eles conheceram, a despeito de sermos, segundo censo do IBGE, exatos 95 (num universo de 200 milhões de brasileiros).
Para quem não sabe, herdei esse nome de um filósofo grego pré-socrático. Anaximandro de Mileto (624 – 540 a.C.) viveu em uma localidade hoje pertencente à Turquia. Era físico, matemático, geógrafo, político, poeta e tantas coisas que, ainda que eu lance um milhão de livros, jamais vou chegar aos pés dele. Ele era “o cara”, o que me deixa muito chateado quando me perguntam se esse nome é junção de outros ou se foi retirado de algum personagem de novela.
Virei Anaximandro antes de ser Anaximandro, por obra e graça da minha mãe: estudando filosofia, durante sua graduação em História, ela se deparou com o nome e profetizou: “esse vai ser o nome do meu primeiro filho”. Eis-me, leitor! Reza a lenda que houve uma certa resistência familiar no início. O “plano B” seria Marcelo. O filósofo falou mais alto. Afinal, quem é que pode com um nome de tantos e tantos séculos?
Ao contrário do que você pode pensar, não, nunca sofri bullying. Um ou outro aborrecimento, de leve, sem deixar arranhões. Também, numa época em que meus colegas se “chamavam” Chalalá, Biscoito, Velho e outras alcunhas “carinhosas”, Anaximandro cabia sem nenhum problema. Ou Anax, para quebrar o galho. Sei que tenho um nome difícil. Um apelidinho não cai mal. Só não gosto quando escrevem “Anaxi”. Não sou “táxi”.
Falando em dificuldade, colecionei, a vida inteira, “versões” do meu nome. Chega até ser engraçado ver as gentes torcendo a língua, tornando a coisa realmente difícil: Maximiano, Maximiliano, Anaxandro, Amaxamandro, Anexandro, Anaxamandro, Maxmandro, Maxandro e por aí vai. Sem falar daqueles que, simplesmente, não conseguem ler o nome. Para eles, eu tenho uma solução: Amorim. Felizmente, o sobrenome é fácil. Imagina se não fosse?
Enfim, tenho vontade, sim, de conhecer um xará. Encontrei alguns nas redes sociais. Somos quatro de 95. Aliás, sei de mais um, no meu estado. Tendo passado em um concurso, coloquei só meu prenome no sistema de um diário oficial. Um belo dia, um duplo espanto: ao receber a notificação, vi que se tratava de outro Anaximandro, morador do norte do Espírito Santo. Tão perto, tão longe: nunca nos topamos. Quem sabe alguém ainda não promove o nosso encontro? E eu, finalmente, conheço a sensação de ter um xará.
*Advogado e Escritor