Por Paulo Vitor Aquino Dal´Col*
Embora pouco se fale, muitos são os malefícios advindos da falta de comunicação entre os entes federados e a sociedade civil. Primordial para a eficiência e economia dos gastos públicos, o conhecimento acerca das características físicas, sociais e econômicas da localidade onde se pretende intervir são (ou deveriam ser) dados essenciais ao norte de qualquer política de governo.
Se a corrupção corrói os cofres públicos, a ineficiência não é menos gravosa. De pontes em desnível, construções faraônicas, quiosques de praia milionários, a aracnídeos de metal no alto de prédios, certo é que antes de qualquer intervenção, necessário se faz questionar onde, o que, pra que e pra quem.
A ineficiência do serviço público vai muito além do grave problema da corrupção e da desqualificação de quadros comissionados. A alegação de falta de recursos é geral, mas não raro vemos o pouco que tem sendo mal investido.
Mecanismos constitucionais de participação popular (como plebiscito e referendo) são substituídos por audiências públicas em horário comercial. Não se busca ouvir, mas tão somente “comprovar” a suposta consulta popular. Não me lembro de uma única audiência pública onde o tempo de microfone aberto para falas e perguntas da comunidade tenha sido maior do que o disponibilizado para os discursos e respostas oficiais das “autoridades presentes”.
Se cada construção, ação, manutenção, limpeza realizada em âmbito local fosse devidamente comunicada, e acompanhada pela comunidade beneficiada, muito se reduziria o desperdício, melhorar-se-ia a qualidade do serviço, e não restariam restos a fazer (destes que, quando hoje ocorrem, são restos ad eternum).
É menos difícil do que parece. A qualquer ente público é medida simples obter o mapeamento de lideranças formais. Aos mais dedicados sugiro ampliar também para o mapeamento das informais. Nada que as grandes empresas privadas já não façam há muito tempo (com um nome mais sofisticado, claro: Steakholders).
Não acho que “liderança” seja o termo ideal, mas é o convencional. Exemplo claro de uma definição oriunda de vocábulo mal escolhido, mas que continua sendo usado ano após ano porque “sempre foi assim, vou mudar pra que?”. Mal escolhido porque? Tente você “líder” comunitário liderar o posicionamento de sua comunidade em prol dos seus desejos, e não da vontade popular, e vai entender o porquê do erro terminológico.
Ao representante dos moradores de determinada localidade compete ouvir. Ouvir e levar aos entes os posicionamentos e interesses predominantes da população a quem representa. Levantar as carências e desejos dos representados. Para que, num diálogo franco com os entes públicos, sopesando necessidades versus possibilidades, juntos possam definir o melhor investimento/equipamento público para a área disponível.
Seria este o ideal, mas somos apenas a base. A base de uma pirâmide que hoje é tão alta que, aparentemente, aqueles no topo nem sempre conseguem nos enxergar aqui embaixo (por mais que nossos acenos e sussurros sejam respeitosos e propositivos). Ocorre que a base é componente primordial da pirâmide, e é bom que se lembre: sem a base, não há topo que se sustente.
*Advogado; Presidente da Associação dos Moradores da Mata da Praia
Não há comentários postados até o momento. Seja o primeiro!