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A análise do Balanço de Pagamento, que registra as transações econômicas entre residentes e não residentes no país, auxilia na compreensão do papel do Brasil na divisão internacional do trabalho. Em particular, a compressão do acumulado de janeiro a setembro de 2017 com o mesmo período de 2016 aponta elementos da configuração da inserção internacional brasileira em um contexto de retomada do crescimento, ainda que incipiente.
A consolidação da redução do saldo em transações correntes da economia brasileira, que teve seu início em 2014, persiste em meio à retomada do crescimento dos fluxos de capitais e do comércio internacional. Nas transações correntes são considerados o saldo comercial, o saldo de serviços e o saldo de rendas. No período analisado o resultado acumulado em transações correntes foi de – US$ 2,70 bi ante – US$ 13,59 bi no mesmo período de 2016. Seguindo esta trajetória, não será surpresa se a economia brasileira alcançar resultado levemente positivo ao final do ano. A esta diminuição do déficit em transações correntes da economia brasileira tem-se dado o nome de ajuste externo.
Porém, o que pode explicar esse ajuste? O que ele revela sobre a trajetória atual da inserção internacional brasileira? Segundo os dados do Banco Central este resultado está intimamente ligado com o aumento do saldo comercial, que aumentou de US$ 12,26 bi para US$ 26,89 bi. Este aumento que pode ser explicado pela expansão das exportações das commodities agrícolas e minerais, fato que realça o padrão primário-exportador da economia brasileira. Assim, o valor das exportações fica mais atrelado aos preços definidos nos mercados financeiros internacionais, que precificam vários dos principais produtos exportados. Dentre os produtos manufaturados, que são de maior valor agregado, o destaque está atrelado aos veículos automotores, o que pode ser explicado pela prorrogação do acordo automotivo com a Argentina.
As importações brasileiras se expandiram, porém em proporções menores às exportações, o que impactou na ampliação do superávit comercial. Contudo, no período analisado não se observou a recuperação nas importações de bens de capital, variável que mostra possibilidades de modernização e/ou expansão da capacidade produtiva no país. Em julho de 2017 a Câmara de Comércio Exterior (CAMEX) reduziu os impostos de importação sobre os bens de capital e telecomunicações que não são produzidos no Brasil, em regime de ex-tarifário, com o intuito de reduzir os custos do investimento por meio da desoneração da atividade produtiva. Considerando que economia que ainda se encontra com elevada capacidade ociosa na indústria e pelo pouco tempo de efetivação da medida, ainda não é possível verificar seus resultados.
As demais contas das transações correntes pioraram seus saldos, ampliando seus déficits (exceção à renda secundária). Em serviços é possível justificar o aumento do déficit em virtude dos saldos obtidos com transportes (-31,4%) e em viagens (-68,3%). As viagens tiveram maior relação com o avanço dos gastos dos residentes no exterior, que pode ser explicado pela leve retomada da valorização cambial, bem como da retomada do crescimento da economia, que primeiro alcança a população de maior renda que tem acesso a este tipo de serviço. Por fim, cabe destacar que na renda primária avançou a saída líquida de divisas em dividendos (17,2%) e juros (7,9%).
A conta financeira o Balanço de Pagamentos, por sua vez, apresentou captação líquida de – US$ 0,93 bi ante US$ 7,40 bi do mesmo período do ano d 2016. Por um lado, houve elevação da captação líquida de Investimentos Diretos, que alcançou US$ 48,82 bi contra US$ 39,84 bi em 2016. Essa elevação tem relação com o crescimento da conta participações de capital, o que aponta para mudanças patrimoniais nas empresas localizadas no Brasil, com avanço da participação do capital estrangeiro, ou seja, da desnacionalização. Assim, no Investimento Direto foi menos representativo os desejáveis novos investimentos que visem à ampliação da capacidade produtiva da economia. Por outro, houve redução da cessão líquida de investimentos em carteira, que são voláteis e, principalmente, o setor que mais afetou o saldo da conta financeira foi o da expansão da cessão líquida de outros investimentos, que incluem empréstimos e créditos comerciais e adiantamentos.
Assim, do ponto de vista quantitativo é possível afirmar que a economia brasileira tem avançado no sentido de promover o seu ajuste externo, que persiste com a retomada da economia. Ele pode ser quantificado pela trajetória de redução do saldo em transações correntes, mais especificamente, explicado pelos expressivos resultados obtidos pela balança comercial. Porém, do ponto de vista qualitativo a economia brasileira avança na dependência das exportações das commodities agrícolas e mineiras, ou seja, no avanço da reprimarização de nossa pauta exportadora, bem como no avanço da compra de empresas que atuam no mercado doméstico, o que sinaliza para o prosseguimento do processo de desnacionalização da economia, o que tende a enfraquecer os centros internos de decisão.
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