Perspectivas Econômicas para o Brasil em 2018
Por Daniel P. Sampaio*
Estamos chegando a mais um ano novo e mais uma vez renovam-se os votos de um futuro melhor para todos. Dia 01 de janeiro é o dia Mundial da Paz, o que nos leva a refletir sobre os caminhos que a humanidade tem passado e o que deseja construir para seu futuro. As esperanças se renovam no meio das lembranças dos tortuosos acontecimentos do ano que se passou. Em especial para o Brasil, que tem sofrido nos últimos anos de uma severa crise que perpassa por vários planos, dentre eles o econômico.
Espera-se que a economia brasileira encerre o ano de 2017 com uma taxa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) próxima a 1,0%. Trata-se de uma taxa igual a mais otimista projetada no início do ano, que foi feita pelo próprio governo. Instituições multilaterais, como a OCDE e o FMI estimavam o crescimento do PIB brasileiro em 0,5%, conforme apontamos em artigo anterior [1]. O crescimento de 2017 pode ser explicado pelo aumento substantivo do saldo comercial, reforçando a reprimarização de nossas exportações, e por leve crescimento do consumo, motivado pela injeção de liquidez dos recursos liberados do FGTS e do PIS e, em menor grau, da leve recuperação do nível de emprego.
Celebrado pela mídia convencional, como se o crescimento atual fosse um arquétipo de um modelo virtuoso de desenvolvimento, o que chama a atenção no resultado do PIB é a mudança de sinal, de negativo para positivo. Depois de dois anos com quedas substantivas, o resultado acumulado em três anos (2015 até 2017), projetando-se um cenário de crescimento de 1,0% para 2017, será de aproximadamente -5,9%. Ou seja, para recuperar os patamares do PIB de 2014 ainda se faz necessária um avanço mais acentuado.
Contudo, em que pese o ajuste externo [2], a redução da taxa de inflação causada pela crise [3] e a recuperação da economia, permanece uma elevada taxa de desemprego, baixo nível de investimento e elevada capacidade ociosa instalada. Este panorama se mantém mesmo em um período de final de ano, quando, em geral, a economia está mais aquecida. Em que pese a recuperação das vendas de natal, comparado a anos anteriores, pelo Cadastro Geral de Emprego e Desemprego (CAGED), houve redução líquida em novembro de 12 mil postos de empregos formais. A leve recuperação atual pode ser entendida, portanto, como uma certa acomodação da crise frente a sua intensidade e impactos socioeconômicos provocados e sustentada em bases frágeis.
O que esperar de 2018? Provavelmente será mais um ano com elevado grau de incerteza. A Copa do Mundo de Futebol da Rússia provavelmente será um grande evento que mobilizará brasileiros e nos possibilitará desfrutar de bons “dibres” e gols, que também podem vir da seleção comandada por Tite. Será também ano de eleições, com quadro incerto, principalmente em relação aos candidatos, propostas, entre outros. Em ano de eleições, geralmente, há maior mobilização de recursos que contribuem para gerar certa dinâmica na economia. Além disso, o ano de 2018 também abrigará e de forma mais concreta aplicação e busca de aprovação por propostas das reformas estruturais que o governo Temer está propondo ao país com viés pró-mercado.
Estas propostas já aprovadas ou encaminhadas abrigam, no plano econômico, ao menos três grupos: a) redução do papel do Estado na economia: a já aprovada PEC 55 [4], a já encaminhada Reforma da Previdência [5] e avanço de privatizações; b) redução do custo da força de trabalho: por meio da já aprovada reforma trabalhista, que entrou em vigor em maio de 2017; c) aumento do custo do capital de longo prazo: com a mudança já aprovada da TJLP (taxa de juros de longo prazo) para a TLP (taxa de longo prazo), que nos próximos anos levará a um aumento da taxa de juros de empréstimos de prazo mais longo, tornando o custo do investimento mais elevado [6]. Estes elementos são somados à continuação da política econômica restritiva levada a cabo pela permanência do sistema de metas de inflação.
Vamos brindar 2018, aproveitar o momento, o instante, a fagulha de tempo que surge nas festas de ano novo para, mais uma vez, renovar as nossas esperanças de um futuro melhor, com amor, paz e fraternidade. Porém, a reflexão imediata que vem após o primeiro brinde de espumante será: A que sorte de futuro as escolhas do presente nos levarão enquanto nação?
* Doutor em Ciências Econômicas, Professor do Departamento de Economia da UFES.
Notas:
[1] SAMPAIO, Daniel. Perspectivas econômicas para o Brasil em 2017. Debates em Rede. Disponível em:
[2] GRUPO DE CONJUNTURA. Ajuste externo à brasileira. Debates em Rede. Disponível em:
[3] GRUPO DE CONJUNTURA. Queda da inflação: o que parece nem sempre é. Debates em Rede. Disponível em:
[4] BRAGA, Henrique; NAKATANI, P. PEC 55: inconsistência e alternativa. Debates em Rede. Disponível em:
[5] VARGAS, Neide C. Previdência no Brasil: Pra que reformar? Qual reforma? Debates em Rede. Disponível em:
[6] GRUPO DE CONJUNTURA. A que veio a nova taxa de juros do BNDES (TLP)? Debates em Rede. Disponível em:
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