Fabrício Augusto de Oliveira *
Anêmica desde a crise do subprime e da dívida soberana europeia, a economia mundial emite sinais de que poderá contar com um crescimento que progressivamente vem se revelando mais robusto em 2018. Novas projeções realizadas pelo FMI, neste início de ano, indicam avanços do PIB de 3,9% em 2018, uma melhora de 0,2 ponto percentual em relação a 2017, desempenho que se espera seja repetido em 2019.
O principal motor deste crescimento, de acordo com o Fundo, deve ser a economia norte-americana, cujas projeções indicam uma expansão de 2,7% neste ano e 2,5% no próximo, depois de crescer 2,3% em 2017. Alguma ajuda importante deve vir também das economias europeias e asiáticas que começam a ganhar maior fôlego após o terremoto econômico de 2007-2010.
Prevê-se uma expansão das economias da área do euro de 2,2% e 2%, respectivamente, nos anos de 2018 e 2019, enquanto se espera que a China cresça 6,6% e 6,4% nos mesmos anos, e a Índia, 7,4% e 7,8%. No conjunto das economias emergentes, as projeções de crescimento chegam a 4,9% e 5% e, na América Latina, a 1,9% e 3,6%. O Brasil teve também melhorada a perspectiva de crescimento, que passou para 1,9% em 2018 (melhora de 0,4 ponto percentual em relação às projeções de outubro de 2017) e 2,1% em 2019 (melhora de 0,1 ponto percentual).
A revisão de números mais favoráveis para a economia global em relação às projeções anteriores, explica-se, sobretudo, pela reforma tributária do governo Trump, que cortou impostos das empresas e das classes mais ricas da sociedade americana. Para o FMI, essa reforma deverá dar impulso aos investimentos e ao consumo, ampliando a demanda global e as forças do crescimento. Para o Fundo, os países emergentes, que enfrentam maiores problemas, devem aproveitar este quadro mais favorável para promover reformas e ajustes em suas economias, prevenindo-se de mudanças que podem afetar o seu desempenho mais adiante, quando, por exemplo, forem aumentados os impostos nos Estados Unidos para as famílias de classe média, a partir de 2022, o que poderá afetar negativamente o crescimento global. Sem as reformas, perderão a oportunidade de corrigi-los e podem atrapalhar o ritmo mais forte do crescimento que se projeta para o mundo.
O FMI aponta, portanto, a maior possibilidade de percalços nessa trajetória caso as reformas, principalmente nas economias emergentes, como o Brasil, não prosperem e estes permaneçam prisioneiros de seus desequilíbrios macroeconômicos e fiscais. Não são apenas estes riscos, contudo, que estão colocados neste processo de aquecimento global para dificultar a situação destes países diante da atual conjuntura internacional.
Durante uma década, as taxas de juros nos países desenvolvidos permaneceram baixas ou próximas de zero para combater os efeitos da crise de 2007-2010, o que garantiu uma liquidez mais abundante para as economias emergentes que, com taxas mais positivas e bem convidativas, atraiu o capital externo em busca de maior rentabilidade. Só mais recentemente, com a continuidade e intensificação da recuperação norte-americana, as taxas de juros voltaram a se elevar, mas ainda se encontram em um nível baixo, oscilando entre 1,25% e 1,5%, em termos nominais, neste país. A aposta do mercado é de que tal situação, no entanto, deve manter os juros em elevação para combater eventuais pressões inflacionárias resultantes dessa recuperação mais firme que, nos Estados Unidos, já derrubou a taxa de desemprego para 4,1%.
Para os países mais encrencados fiscalmente, caso do Brasil, cuja dívida pública como proporção do PIB ensaia caminhar para o nível de 80% este ano, em decorrência da manutenção de elevados déficits públicos – primário e nominal -, este movimento não deixa de ser traiçoeiro. Apesar de poder ser beneficiado com o maior aquecimento global, a maior e crescente fragilidade financeira do setor público aumenta a desconfiança dos agentes econômicos sobre a capacidade de solvência do Estado e torna mais próximos novos rebaixamentos da nota de crédito do país, que já se encontra no nível especulativo, pelas agências internacionais de rating, especialmente no quadro atual em que o governo jogou a toalha no ringue no que diz respeito à realização da reforma previdenciária. Este movimento já iniciado pela Standard & Poor’s em janeiro e a Fitch em fevereiro deve ter continuidade com as demais agências proximamente.
Em que pese o país contar com elevado nível de reservas internacionais, essas podem não ser suficientes para barrar eventuais turbulências que podem brotar deste quadro e impedir que se aproveitem as oportunidades colocadas pelo aumento de fôlego da economia mundial. O que não será nenhuma novidade para um país que se tornou mestre na arte de jogar fora as oportunidades que surgem para melhorar sua situação pela sôfrega defesa de interesses particulares e pessoais de seus governante e absoluta incompetência da política econômica.
* Doutor em economia pela Unicamp, membro da Plataforma Política Social, articulista do Debates em Rede e o Beltrano, e autor, dentro outros, do livro “Economia e Política das Finanças públicas no Brasil: um guia de leitura”.
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